Helau, Alaaf & companhia
5 de março de 2011Oficialmente a "quinta estação do ano", como os alemães gostam de chamar a época de Carnaval, começa sempre em novembro do ano anterior. Na verdade é no dia 11/11, às 11h11min, que as associações e clubes de Carnaval iniciam suas festividades, com a intenção de se preparar para os meses seguintes, quando os foliões finalmente saem às ruas.
Quase todas as cidades alemãs comemoram o Carnaval de alguma forma, mas as maiores e principais festas acontecem mesmo em Colônia, Düsseldorf e Mainz. Bairristas ou não, as festividades reúnem também turistas nas ruas, bares e clubes.
Muita roupa no Carnaval alemão
Independente da cidade, oportunidades para se fantasiar não faltam. Logo depois do Natal, as grandes lojas começam a suprir seu estoque com fantasias de Carnaval.
Diferente da maior parte do Brasil, na Alemanha quase todos os participantes vestem uma fantasia, geralmente imitando uma personagem, ser ou objeto: bombeiros, elefantes, policiais, bruxas, piratas, enfermeiras, princesas e "D'Artagnans". Há até mesmo quem vá fantasiado de boneco do brinquedo Lego. Justificativa para tanta roupa são as baixas temperaturas do inverno europeu.
Em Colônia, na Altstadt – cidade velha –, a quinta-feira de Carnaval já reúne dezenas de milhares de foliões. Bandas musicais como os Höhner, Bläck Fööss e Brings chegam a fazer mais apresentações nesses dias de Carnaval do que muitas outras durante o ano inteiro. O comando dos festejos cabe ao trio Príncipe, Camponês e Virgem – figura esta também representada por um homem.
O Carnaval de Colônia é quase tão antigo quanto a cidade fundada pelos romanos. Na forma atual, as comemorações existem desde 1823. Consta que o grito de guerra "Alaaf!" vem da expressão Cöllen al aff (no dialeto regional: "Colônia acima de tudo"), usada pela primeira vez no século 16 por um certo príncipe Metternich, numa petição.
No início do século 19, com a cidade sob ocupação prussiana, as festividades carnavalescas foram proibidas em Colônia. Mas o povo não se deu por satisfeito, mobilizou-se e fundou um comitê. E a festa passou não só a ser tolerada, como oficializada.
A vez das mulheres
Porém esses comitês carnavalescos eram comandados somente por homens. Assim, as mulheres assumiram a festa da quinta-feira que antecede o Carnaval. Na Weiberfastnacht, cuja comemoração também se inicia às 11h11min, elas têm direito de fazer o que quiserem. Até mesmo de beijar quem encontrem pela frente, ou cortar a gravata de todo homem que estiver usando uma.
Também alguns locais de trabalho permitem que seus funcionários venham fantasiados, e não seria surpresa deparar-se com colegas vestidos de Harry Potter ou Ronaldinho.
Em Düsseldorf, onde o grito de guerra é "Helau!", a primeira festa acontece na praça perto da prefeitura. Como em outras cidades alemãs, as mulheres invadem a sede administrativa para simbolicamente tomar o poder do município por um dia.
Há quem diga que "helau" era um brado usado na região do Baixo Reno para atrair animais. Outros defendem: helau significa "Hölle auf" ("que o inferno se abra"), com a intenção de mandar embora os maus espíritos.
Nos desfiles carnavalescos em Düsseldorf, um dos carros alegóricos chama a atenção: o dos políticos. Não são os políticos que desfilam: o designer francês especializado em carros alegóricos Jacques Tilly cria todos os anos bonecos imitando figuras políticas.
O dia D
Sem desmerecer a sexta-feira, o sábado ou o domingo: o ponto alto destes dias de Carnaval, é o Rosenmontag, a "Segunda-Feira das Rosas", também na cidade de Mainz.
Na capital do estado alemão da Renânia-Palatinado, um dos carros alegóricos de 2011 traz uma figura gigante da chanceler Angela Merkel espetando um boneco de vudu, numa analogia ao ex-ministro alemão da Defesa Karl-Theodor zu Guttenberg. Em Mainz, as festas acontecem não só no centro da cidade, como também a bordo de um barco.
Em todas essas cidades, a massa se aglomera nas calçadas para assistir aos desfiles que percorrem as ruas. Somente em Colônia, são cerca de 70 carros alegóricos, 100 sociedades carnavalescas e sete quilômetros de cor, música e alegria. No Rosenmontag, chovem 100 toneladas de balas, bombons e serpentina.
Todos os anos as comemorações são agravadas pela bebedeira. Por isso, policiais com um coraçãozinho pintado no rosto tratam da segurança.
Em 2011, a encarregada do governo alemão para assuntos ligados às drogas Mechthild Dyckmans exigiu mais controle no consumo e venda de álcool durante os dias de Carnaval, principalmente com a venda de bebidas a menores de idade.
Tem mais festa
Todas as sextas-feiras de Carnaval, acontece em Colônia o tradicional Baile Brasileiro, reunindo a comunidade e fãs do maior país da América do Sul, com direito a concurso de fantasias. Munique não fica de fora da programação: também lá os "brasucas" agitam.
No sábado é a vez do Geisterzug, o desfile dos fantasmas. Trata-se de um programa alternativo à agenda oficial, nascido em 1991, em reação ao início da Guerra do Golfo Pérsico. No domingo, há o concorrido desfile dos colégios e bairros. Os vencedores deste têm o direito de participar do grande desfile do Rosenmontag.
Ao contrário do que se imagina, o Carnaval não termina na segunda-feira: à meia-noite da terça-feira chega a hora da queima do "Nubbel". Este é um boneco de palha que fica pendurado sobre a porta dos bares durante a folia, e é queimado com o fim de eliminar todos os pecados cometidos durante os dias de festas.
O Nubbel é acusado e condenado pela farra. Atualmente, há quem diga que ele até já possui direito a um advogado, mas isso de nada adianta, pois no final ele é mesmo queimado. Na Quarta-Feira de Cinzas, o almoço é peixe.
Pulando de longe
Estar fora da Alemanha não é pretexto para deixar de pular o Carnaval. Uma rádio na Internet, a Phonostar, preparou uma coletânea especial de músicas temáticas alemãs, principalmente para os amantes do Carnaval germânico que moram em outros países.
O destaque deste ano é para a tradicional canção Humba humba täterä, täterä, täterä, apresentada pela primeira vez por um certo Ernst Neger em 1964, no programa televisivo Mainz wie es singt und lacht (Como Mainz canta e ri).
Até na Quarta-Feira de Cinzas, quem comanda, na Alemanha, são os jecken. A palavra jeck tem várias traduções possíveis: fã, maluco, doido e, quem sabe, até folião.
Autoria: Bettina Riffel
Revisão: Augusto Valente