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Uma em cada 8 pessoas no mundo está obesa

Clare Roth
1 de março de 2024

Dados divulgados pela revista “The Lancet” mostram progresso na retrocesso da fome no mundo, mas também crescimento alarmante de outro tipo de subnutrição

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Rede de fast food em Santiago, no Chile
Países de renda médio-baixa registram crescimento alarmante da obesidadeFoto: Martin Bernetti/AFP/Getty Images

A taxa global de obesidade quadruplicou entre as crianças e duplicou entre os adultos desde 1990. É o que diz uma nova análise publicada pela revista científica britânica The Lancet nessa sexta-feira. Cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo – uma em cada oito – são obesas ou têm um índice de massa corporal (IMC) superior a 30.

Francesco Branca, diretor do departamento de nutrição e segurança alimentar da OMS, disse que a organização tinha estimado anteriormente que a proporção global de obesidade atingiria a marca de 1 bilhão em 2030. Esse marcador foi alcançado oito anos antes, em 2022.

"Ficamos realmente surpresos com a rapidez com que as coisas aconteceram nos últimos anos”, disse o coautor do estudo, o professor Majid Ezzati, do Imperial College London, em entrevista coletiva na quinta-feira.

Esse crescimento não está acontecendo onde se poderia esperar. Os novos dados mostram que, embora as taxas de obesidade estejam começando a estabilizar nos países mais ricos (com a exceção dos EUA), elas estão crescendo rapidamente entre adultos e crianças em países de renda média e baixa (LMIC, na sigla em inglês), como Egito, Iraque, Líbia, África do Sul e Chile. Síria, Turquia e México também não ficam muito atrás.

No Brasil, os dados da pesquisa também apontam para um crescimento na obesidade. Em 1990, 9% dos brasileiros tinham o IMC superior a 30, contra 29% em 2022.

"Nenhum dos países industrializados tradicionais ou nações ricas, exceto os Estados Unidos, aparece realmente no grupo superior [das nações mais obesas]. É quase exclusivamente coberto por países de renda médio-baixa", disse Ezzati.

 

 

Queda no número dos que passam fome

Os novos dados da The Lancet refletem também um progresso na redução do número dos que passam fome em todo o mundo. Nos últimos 30 anos, a proporção global de adultos com baixo peso caiu pela metade. Entre a população com menos de 18 anos, a queda foi de 20% nas meninas e de 33% nos meninos.

No Brasil, por exemplo, a quantidade de pessoas com o IMC abaixo de 18,5, o que configura estar abaixo do peso, caiu de 6% em 1990 para 2% em 2022.

No entanto, o estudo mostra que, apesar dos grandes progressos no combate à fome, em alguns países a situação não melhorou. A proporção de adultos abaixo do peso em países como Etiópia e Uganda, por exemplo, quasenão se alterou.

Outros países, como Índia, Bangladesh e Paquistão, registaram declínios acentuados na proporção de adultos com baixo peso. Mas ao que tudo indica, o Paquistão parece apenas ter trocado um problema por outro.

A proporção de adultos no país com baixo peso caiu de 27% para 7% desde 1990. Mas durante esse mesmo período, a proporção de adultos obesos aumentou de 3% para 24%. Essa é uma taxa de obesidade mais elevada do que a maioria dos países da União Europeia.

Outros países da África Subsariana, por exemplo, assistiram ao mesmo tipo de troca, especialmente entre as mulheres. Lá, o declínio do baixo peso foi contrabalanceado pelo aumento da obesidade.

Por que países de renda média ou baixa?

Para Francesco Branca, a transformação do sistema alimentar, a chamada "biology of double burden” (biologia do duplo fardo em tradução livre) e a falta de políticas de saúde pública são alguns dos motivos pelos quais o aumento tem sido tão acentuado nos países de média e baixa renda

"Os últimos 30 anos foram marcados pela rápida industrialização em países LMIC, como o Egito e México, que transformaram os sistemas alimentares, especialmente nas áreas urbanas”, disse Branca.

"O maior aumento está nas vendas de alimentos ou bebidas industrializadas e o número de supermercados e pontos de venda. Uma transformação muito rápida desse sistema alimentar e não para melhor”, relatou o diretor do departamento de nutrição e segurança alimentar da OMS.

A "biologia do duplo fardo”, segundo ele, diz respeito à forma como as crianças com baixo peso devido à subnutrição ao nascer ou à falta de acesso a alimentos suficientes na infância são frequentemente mais propensas a ficarem com excesso de peso ou obesas quando adultas. Isto poderia potencialmente ajudar a explicar as mudanças na África Subsaariana.

"O importante aqui é que, no passado, pensávamos na obesidade como um problema dos ricos”, disse Branca. "A obesidade é um problema para o mundo e é um problema dos países pobres que não estão preparados para lidar com isso."

Ao contrário dos países mais ricos, a maioria dos de renda média e baixa têm muito poucas ou zero políticas em vigor para conter ou neutralizar a "enorme" pressão sobre a comercialização de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal e snacks.