Um terço dos brasileiros culpa mulher pelo estupro
21 de setembro de 2016Quase um terço dos brasileiros concorda com uma expressão que coloca a culpa pelo estupro na vítima, indica uma pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada nesta quarta-feira (21/09).
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Segundo o instituto, 30% das pessoas entrevistadas concordaram com a afirmação: "a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada". O percentual é o mesmo para homens e mulheres consultados. Entre as pessoas que têm apenas o ensino fundamental, a concordância sobe para 41%. Entre os que têm ensino superior, cai para 16%.
"O percentual dos que concordam não varia entre homens e mulheres (30%), o que significa que, para um terço dos brasileiros, a mulher que é agredida sexualmente é, de alguma forma, culpada pela agressão sofrida se opta por usar certas peças de roupa", diz o levantamento.
Na mesma linha, 37% dos entrevistados concordou com a frase "mulheres que se dão ao respeito não são estupradas". Para essa afirmação, o percentual de concordância é maior entre os homens (42%) do que entre as mulheres (32%).
Medo de violência sexual
O estudo também afirma que 65% dos brasileiros temem ser vítimas de violência sexual, percentual que sobe para 85% entre as mulheres e para 90% entre as mulheres que vivem no Nordeste. Para 50%, a polícia militar não está preparada para atender as vítimas, e 42% dizem o mesmo sobre a polícia civil.
A maioria dos inquéritos sobre estupro abertos pela polícia não é esclarecida, e uma minoria de casos que chega à Justiça resulta em condenação. Diante desse quadro, 53% dos entrevistados afirmam que a legislação brasileira protege o estuprador.
Os entrevistados disseram ver a educação como um meio de mudar a atual situação. Do total, 91% concordou com a expressão "temos que ensinar os meninos a não estuprar".
Segundo o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados 47.646 casos de estupro em todo o país em 2014. Isso significa um estupro a cada 11 minutos, como lembra o FBSP. "Apesar do alto número de casos registrados, é preciso destacar que a maioria das pessoas que sofrem violência sexual não registram denúncia na polícia, o que torna difícil estimar a prevalência deste crime", afirma a ONG, indicando que o número real de casos deve ser bem maior.
Em 2014, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicou inicialmente que 61% dos brasileiros achavam que mulher que mostra o corpo merece ser atacada. O percentual foi depois corrigido para 26%. A divulgação da pesquisa provocou manifestações nas redes sociais e gerou uma campanha na qual pessoas publicavam fotos de seus corpos ao lado da hashtag #EuNãoMereçoSerEstuprada.
O Datafolha fez 3.625 entrevistas com pessoas a partir de 16 anos de idade, em 217 municípios. A coleta de dados foi feita entre os dias 1º e 5 de agosto deste ano. A margem de erro é 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
AS/abr/ots