Crise grega
16 de fevereiro de 2010Pela primeira vez desde a introdução da moeda comum, em 2002, a União Europeia (UE) decidiu-se pela supervisão do orçamento de um país-membro. Os ministros das Finanças do bloco decidiram nesta terça-feira (16/02) que farão controles mensais do orçamento grego.
Desta maneira, a UE pretende assegurar que Atenas cumprirá todas as medidas necessárias para eliminar a dívida recorde de 300 bilhões de euros. É preciso banir o perigo à estabilidade do euro, lembrou a declaração conjunta expedida após o encontro.
Em março deverá ser realizada a primeira averiguação do plano grego de austeridade. A meta é reduzir, este ano, o déficit orçamentário em quatro pontos percentuais, de 12,7% para 8,7% do Produto Interno Bruto.
Os ministros das Finanças da zona do euro aprovaram ainda um plano de contenção de despesas apresentado por Atenas. Este prevê, entre outros, cortes nos vencimentos de funcionários públicos e uma reforma no sistema de aposentadorias. Ao mesmo tempo, foi lembrada a necessidade de adotar mais medidas de economia. Uma delas poderia ser o aumento de impostos.
Além disso, o comissário de Economia da UE, Olli Rehn, anunciou a investigação completa do uso de operações de derivativos para disfarçar dívidas do país antes de a Grécia aderir à zona euro em 2001. O país havia manipulado seus balanços para contornar os critérios de estabilidade do euro.
E se as medidas aprovadas não surtirem efeito? O novo comissário da UE para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, procurou tranquilizar, tendo em vista sobretudo os especuladores. "Posso dizer que, caso se dê uma situação dessa ordem, dispomos dos meios para garantir a estabilidade financeira da zona do euro."
A hora do FMI?
Entretanto, enquanto os ministros das Finanças da zona do euro se deram, em princípio, por satisfeitos com as medidas prometidas pela Grécia, seu colega de pasta sueco Anders Borg, cujo país não adota o euro, exige mais.
Segundo Borg, a situação na UE é urgente. "Precisamos ir adiante, e isto deve partir em especial do governo grego, novas medidas concretas a fim de reconquistar credibilidade. Ainda não chegamos lá." A Suécia vê, por exemplo, a necessidade de uma atuação forte do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Porém isso atentaria contra a honra do bloco de países de moeda única. Jean-Claude Juncker, presidente do Grupo do Euro, comentou a respeito: "Se a Califórnia tivesse problemas financeiros, os Estados Unidos tampouco pediriam auxílio ao FMI."
Segundo Juncker, tais especulações foram desencadeadas por vozes anglo-saxônicas, conjuradas contra a moeda comum europeia. No tocante a assuntos econômicos e monetários, o grupo do euro pretende decididamente manter as cartas na mão.
Unanimidade e controvérsia no BCE
Em uma questão de pessoal, os ministros europeus também alcançaram unanimidade, comentou o vice-ministro alemão Jörg Asmussen, que substituiu o titular da pasta das Finanças, Wolfgang Schäuble.
"Sugerimos ao Conselho Europeu que faça do presidente do banco central português, Vítor Constâncio, o sucessor de Lucas Papademos como vice-presidente do Banco Central Europeu. Essa proposta foi aprovada por unanimidade."
Com isso, o presidente do Banco Central da Alemanha, Axel Weber, tornou-se o favorito para a sucessão de Jean-Claude Trichet na presidência do BCE. Porém Juncker recusa-se a ver neste fato um comprometimento definitivo, e declarou numa entrevista radiofônica: "Não pleitearei por isso".
Palavras fortes, num setor político onde normalmente se procede com muita diplomacia. A ocupação do posto máximo das finanças europeias deverá ser ainda objeto de algumas controvérsias.
Autor: Christoph Hasselbach (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer