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UE aceita guerra como ultima ratio

Marcio Weichert 18 de fevereiro de 2003

Tentando juntar os cacos da meta de uma política externa comum, despedaçada pela crise iraquiana, a União Européia encontrou um denominador comum que não exclui o uso da violência no caso do Iraque.

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Presidente da Comissão Européia, Romano Prodi (dir.) recebe primeiro-ministro grego Costas Simitis em BruxelasFoto: AP

O encontro de cúpula extraordinário da União Européia terminou com uma declaração conjunta que considera uma guerra contra o Iraque como o último recurso. "A guerra não é inevitável. A violência apenas dever ser empregada como último meio", diz a declaração, baseada em uma proposta de resolução do governo grego, que detém atualmente a presidência rotativa da UE.

A declaração comum sobre o Iraque foi um "consenso clássico", nas palavras do chanceler federal alemão, Gerhard Schröder. "De qualquer forma se conseguiu ressaltar um bom número de itens comuns", disse Schröder. O chefe de governo alemão observou que foram deixadas de lado frases inaceitáveis, como por exemplo, que já não haveria mais tempo para soluções diplomáticas. Por outro lado, a Alemanha também teve que demonstrar que estava disposta a abrir-se a um consenso. Para o ministro do Exterior, Joschka Fischer, o encontro de cúpula confirmou a política alemã de busca de uma solução pacífica. O governo alemão já fixou sua posição de não participar de forma alguma de uma guerra contra o Iraque.

Até a última reunião de cúpula da União Européia, em dezembro, todos os 15 países-membros comemoravam os largos passos rumo a uma política externa comum. Alemanha e França chegaram a propor a oficialização de um ministro do Exterior para a comunidade. Mas veio a crise iraquiana e o sonho foi atropelado pela realidade.

O Velho Continente está dividido. Cinco países apóiam declaradamente a conduta militarista dos EUA, enquanto três esforçam-se ativamente para impedir uma nova guerra no Golfo Pérsico. Quatro preferem a solução pacífica, mas evitam um confronto direto com Washington.

Acordo era questão de credibilidade

Depois que conflito de mesma natureza foi contornado no fim de semana na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), já não se duvidava de um entendimento também na UE, cuja imagem sofreu um grave desgaste com as divergências internas. "Se todos voltarem a usar o método comunitário, acho que haverá um bom compromisso", previu o ministro alemão Joschka Fischer, e os fatos deram-lhe razão.

O que une praticamente todos os governos no momento é o apoio ao trabalho dos inspetores no Iraque e o respeito ao Conselho de Segurança da ONU. "Este é um momento de cooperação para se evitar um conflito, que ainda é evitável", afirmou Javier Solana, encarregado da política de segurança e externa da UE. À revelia do governo alemão de Schröder, o espanhol diz que "todos reconhecem que uma guerra é o último recurso, a ser utilizado em determinado momento. Mas ainda não chegamos lá".

Pressão popular e recuo diplomático

A dificuldade está exatamente em precisar o momento para uma guerra. Nos últimos dias, porém, os chefes de Estado e governo contrários ao uso das armas ganharam fôlego: primeiro, no Conselho de Segurança da ONU, depois nas ruas. Os menos tolerantes tendem a recuar e conceder mais tempo aos inspetores. "Se houver uma colaboração ativa do Iraque, tanto substancial quanto nos procedimentos, Bagdá poderá ter o tempo que quiser. Mas, se não houver, não adianta dar mais tempo, nem enviar mais inspetores", declarou Jack Straw, ministro do Exterior da Grã-Bretanha, principal aliado dos EUA na Europa.

Em contraste com a divisão no meio diplomático, a maioria da população de quase todos os países da União Européia rejeita categoricamente uma guerra sem mandato da ONU, alternativa não descartada por Washington e Londres. E mesmo um ataque ao Iraque com consentimento do Conselho de Segurança encontra pouco respaldo. Caso excepcional é o da Grã-Bretanha: 90% repelem a opção militar à revelia das Nações Unidas, mas, se estas derem o sinal verde, os pacifistas reduzem-se à metade.

Além do governo britânico de Tony Blair, Espanha, Itália, Portugal e Dinamarca estão fechados com a necessidade de fazer guerra para desarmar o Iraque e destituir Saddam Hussein. A Alemanha é o único país que rejeita uma intervenção militar em qualquer hipótese. França e Bélgica engajam-se claramente contra uma nova Guerra do Golfo. Grécia, Suécia, Finlândia e Luxemburgo evitam opor-se a Washington, mas priorizam o apoio ao trabalho dos inspetores. Irlanda, Áustria e Holanda esquivam-se de tomar posição; os dois últimos até pela interinidade de seus atuais governos.