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Ucrânia pode usar armas francesas em ataques na Rússia

29 de maio de 2024

Na Bélgica, Zelenski repetiu sua exigência. França então autorizou uso de suas armas contra posições em território russo, sob determinadas condições. Chanceler Scholz está agora sob pressão.

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Ludivine Dedonder, o presidente ucraniano Zelenski e o primeiro-ministro belga De Croo, com um caça ao fundo
A ministra da Defesa belga, Ludivine Dedonder, Zelenski e o premiê belga De Croo na base aérea de MelsbroekFoto: Piroschka Van De Wouw/REUTERS

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou pilotos e técnicos da Força Aérea da Ucrânia em uma base aérea próxima à capital belga, Bruxelas, onde eles estão sendo treinados em caças F-16 ocidentais. Os soldados da Ucrânia estão aprendendo, em ritmo acelerado, a pilotar e a fazer a manutenção dos jatos de fabricação americana.

O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, prometeu que os primeiros F-16 seriam entregues à Ucrânia no final do ano. Pela Dinamarca, Holanda e Noruega, os primeiros caças já serão entregues em meados deste ano. Até 2028, um total de 30 jatos deverao ser enviados pela Bélgica a Kiev. No total, as promessas ocidentais incluem mais de 70 aeronaves. Do ponto de vista militar, os F-16 são muito valiosos, pois têm sensores de radar altamente sensíveis, que podem localizar posições de defesa aérea russa melhor do que os caças usados pela Ucrânia até o momento, que remontam aos tempos soviéticos.

Restrições ocidentais também para os F-16

No entanto, os caças modernos vêm com restrições políticas. O primeiro-ministro belga confirmou que os F-16 só podem ser utilizados no espaço aéreo ucraniano e não sobre o território do agressor russo. Zelenski quer se livrar dessa restrição o mais rápido possível, que também se aplica a muitos outros sistemas de armas, como artilharia, foguetes e mísseis de cruzeiro dos estoques ocidentais.

Em Bruxelas, Volodimir Zelenski  com Alexander De Croo - assinam acordo. Ao fundo, as bandeiras da Ucrânia, Bélgica e União Europeia
Acordo de segurança assinado em Bruxelas: Zelenski e premiê belga, Alexander De CrooFoto: Pool Didier Lebrun/Belga-Pool/dpa/picture alliance

Para os repórteres em Bruxelas, o presidente ucraniano explicou como as tropas russas atacam, a partir da Rússia, a cidade ucraniana de Kharkiv, que é bem próxima da fronteira, matando civis e destruindo a infraestrutura local. Ele ressaltou, no entanto, que o Exército ucraniano não pode revidar, pois prometera não atacar posições russas em território russo. "Não podemos nos defender, e isso é injusto”, disse Zelenski.

Oficiais militares ocidentais em Bruxelas concordaram com ele, sem querer ser citados nominalmente. Eles afirmaram que, do ponto de vista militar, é claramente necessário combater as posições, as rotas de suprimento e as bases aéreas do inimigo em seu próprio território. Caso contrário, segundo eles, não é possível se defender de forma eficaz e muito menos vencer a guerra.

Reviravolta francesa

O presidente francês, Emmanuel Macron, atualmente em visita de Estado à Alemanha, foi surpreendentemente rápido ao responder a solicitação do presidente ucraniano. Em uma coletiva de imprensa com o chanceler alemão Olaf Scholz, em Meseberg, Macron disse que a Ucrânia pode agora usar armas francesas para combater as posições russas próximas à fronteira, mas ponderou que ataques a alvos civis no interior do território russo continuam sendo tabu.

A Alemanha também impôs condições para a entrega de armas à Ucrânia, pois o chanceler Scholz teme que a Rússia possa considerar os membros da Otan ou da UE como participantes da guerra e retaliar. No entanto, o governante alemão negou que tenha proibido a Ucrânia de revidar, afirmando que a Ucrânia pode se defender, desde que cumpra a lei internacional.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, pediu aos outros aliados que considerem a possibilidade de o Ocidente suspender as restrições que fazem pouco sentido do ponto de vista militar. Stoltenberg também fez essa solicitação aos ministros da Defesa da União Europeia nesta terça-feira. Eles se reuniram em Bruxelas ao mesmo tempo em que ocorria a visita do presidente ucraniano. No entanto, ocorreu um encontro entre os ministros e Zelenski.

O fator decisivo provavelmente será o posicionamento dos EUA. Diz-se que o presidente dos EUA, Joe Biden, é a favor de restrições, enquanto o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, deve argumentar a favor das solicitações após sua recente visita a Kiev. O New York Times noticiou sobre um debate acalorado na Casa Branca sobre a posição a ser tomada.

Palácio Meseberg: encontro do presidente da França Macron e do chanceler  alemão Scholz
Macron e Scholz em Berlim: presidente da França autorizou Ucrânia a usar armas francesas contra posições militares na RússiaFoto: Annegret Hilse/REUTERS

A Suécia também já declarou, há alguns dias, que a Ucrânia pode se defender atacando território russo com armas e munições de fabricação sueca.

Ataques contra posições russas são permitidos em qualquer lugar

Os ataques ucranianos a posições e instalações na Rússia estão cobertos pela lei internacional da guerra, segundo afirmou o especialista em direito internacional Christian Mölling, do Conselho Alemão de Relações Exteriores, em entrevista à rádio alemã Bayerischer Rundfunk. O atacado, ou seja, a Ucrânia, tem permissão para combater o agressor, Rússia, em seu território e matar seus soldados e líderes militares. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também assumiu essa posição em Bruxelas. As restrições ocidentais não se aplicam à Península da Crimeia ou ao leste da Ucrânia. Embora a Rússia tenha anexado esses territórios em violação à lei internacional, eles ainda são legalmente parte da Ucrânia.

Mais ajuda da Bélgica e da Espanha

Na Bélgica, o presidente ucraniano assinou um acordo de ajuda militar de longo prazo. O primeiro-ministro belga De Croo anunciou que a Bélgica fornecerá equipamentos no valor de um bilhão de euros. Antes de Bruxelas, Volodimir Zelenski passou por Madri. Lá, ele recebeu promessas do governo espanhol de mais um bilhão de euros em ajuda militar e a entrega de seis sistemas adicionais de defesa antimísseis Patriot, que são urgentemente necessários na Ucrânia.

"A Ucrânia merece as ferramentas certas para proteger sua população contra a brutal agressão russa”, disse Alexander De Croo na reunião com seu convidado de Kiev. E, batendo no próprio peito, afirmou: "Precisamos fornecer mais e melhores armas. Isso tem de acontecer mais rápido”.

Problemas com a Hungria

Os ministros da Defesa da UE discutiram em Bruxelas mais ajuda para a Ucrânia. O financiamento e a divisão de encargos dentro da UE para o fornecimento de armas estão se tornando cada vez mais problemáticos. A Hungria, Estado-membro da UE que está cada vez mais abertamente a favor da Rússia, vem bloqueando os pagamentos a um fundo da UE criado há um ano para a ajuda à Ucrânia. Faturas no valor de 9 bilhões de euros se acumulam.

O bloqueio húngaro, que é sustentado por justificativas variadas de Budapeste, levou a discussões acaloradas e acusações contra o governo nacionalista de direita da Hungria durante a reunião dos ministros das Relações Exteriores da UE na segunda-feira. O primeiro-ministro belga De Croo, que também é o atual presidente do Conselho da UE, disse, sem dar detalhes, que eles estão trabalhando em um acordo.

Em Bruxelas, o presidente ucraniano Zelenski chegou, fisicamente, muito perto dos ativos estatais russos congelados. Cerca de 200 bilhões de euros em depósitos do Banco Central russo são mantidos na empresa financeira belga Euroclear, em Bruxelas. A Ucrânia está exigindo o confisco dos ativos sancionados.

Os aliados ocidentais ainda estão hesitantes em tomar essa medida. No entanto, Zelenski conseguiu obter uma promessa da Bélgica de que 1,9 bilhão de euros de juros gerados neste ano sobre os ativos depositados na Bélgica serão dados à Ucrânia. Alexander De Croo, o primeiro-ministro belga, despediu-se de Zelenski com as seguintes palavras: "Você triunfará e é nosso dever ajudá-lo”.

 

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.