Ucrânia espera apoio de Trump na guerra
8 de novembro de 2024"Trump prometeu acabar com a guerra em 24 horas. Por isso, nossa companhia tem planos ambiciosos para o fim de semana", escreve o jornalista Pavlo Kazarin, atualmente soldado das Forças Armadas da Ucrânia, em tom de brincadeira no Facebook. Desde ficou claro que o republicano Donald Trump venceu a eleição presidencial nos EUA, muitas piadas e memes desse tipo passaram a circular nas redes sociais ucranianas.
Algumas postagens falavam de um "dia negro para a Ucrânia". "O mundo mais uma vez virou na direção errada", escreve o banqueiro Serhij Fursa, vice-diretor da Dragon Capital, um grupo ucraniano de investimentos e serviços financeiros. Ele afirma que Vladimir Putin, Viktor Orbán e Elon Musk estão agora comemorando.
Outras postagens afirmam ser possível colaborar com qualquer governo dos EUA. Alguns ucranianos comparam a vitória eleitoral de Trump com a do presidente Volodimir Zelenski e seu partido, Servo do Povo, em 2019, que sozinho detém uma maioria no Parlamento ucraniano.
Zelenski foi um dos primeiros a parabenizar Trump por sua vitória nas urnas. Ele não fez isso no Telegram, onde geralmente publica suas declarações, mas usou a rede social X, que é Elon Musk, apoiador do republicano.
"Lembro-me de nossa maravilhosa reunião com o presidente Trump em setembro, quando conversamos longamente sobre a parceria estratégica entre a Ucrânia e os EUA, o Plano de Vitória e as formas de acabar com a agressão russa contra a Ucrânia. Eu aprecio o fato de o presidente Trump ser a favor da abordagem 'paz por meio da força' para assuntos globais. Esse mesmo princípio pode realmente tornar mais próxima uma paz justa na Ucrânia. Espero que possamos implementá-la juntos", escreveu Zelenski, chamando a vitória de Trump de "impressionante".
O ministro do Exterior da Ucrânia, Andrii Sybiha, expressou a esperança de que Kiev e Washington trabalhem juntos para fortalecer a parceria estratégica ucraniano-americana e alcançar uma paz abrangente, justa e duradoura.
O ex-presidente do país Petro Poroshenko, agora líder do grupo de oposição Solidariedade Europeia, também parabenizou Trump, afirmando ter esperança de que, sob sua presidência, seja possível "pôr fim à guerra de agressão russa contra a Ucrânia e todo o mundo livre".
Esperança por armas de longo alcance
Oleksandr Kraiev, do centro de análise Ukrainian Prism, especializado em política externa e segurança internacional, acredita que não se pode esperar paz na Ucrânia tão rapidamente quanto Trump prometeu durante a campanha eleitoral. Ele afirma que inicialmente Trump terá outros problemas além da Ucrânia. Por isso, avalia que Kiev deve usar a janela de oportunidade até que Trump assuma o cargo para promover seus próprios interesses, especialmente em relação à autorização para o uso de armas ocidentais de longo alcance contra alvos militares na Rússia.
"Trump não lidará com a política externa imediatamente, porque primeiro ele tem de sondar o Congresso, chegar a um acordo sobre a formação de seu ministério e lidar com muitas reformas domésticas", diz Kraiev, acrescentando que enquanto Joe Biden ainda for presidente, Kiev deve sinalizar para ele que deve, pelo menos, ser mais corajoso agora e tomar as decisões difíceis que a Ucrânia está esperando.
O especialista acredita que Trump poderia continuar nesse caminho mais tarde se Kiev mostrar disposição para negociar a paz e Moscou insistir em suas exigências em relação à Ucrânia. "O retorno de Trump não é uma catástrofe ou apocalipse para a Ucrânia, mas há riscos, porque com Trump nunca se pode ter certeza dos resultados que serão alcançados, e é por isso que a Ucrânia tem muito trabalho pela frente", enfatiza.
Haverá negociações de paz?
Muitos observadores na Ucrânia não estão descartando a possibilidade de Trump e sua equipe usarem, após seu retorno à Casa Branca, várias alavancas para forçar os lados ucraniano e russo a chegarem a um acordo de paz. É o que prevê Petro Burkovskiy, da Fundação Ilko Kucheriv "Iniciativas Democráticas", think tank baseado em Kiev.
O especialista em política internacional aponta que a vitória de Trump aumentou a incerteza sobre a política dos EUA para a Ucrânia. Burkovskiy acredita que Kiev será pressionada a entrar em negociações de paz.
"Se, nas circunstâncias atuais, a equipe de Trump propuser o plano de definir a linha de frente como a nova fronteira da Ucrânia e encontrar argumentos para forçar a Rússia a concordar com isso, então teremos que aceitar essas condições. Outro cenário seria se a equipe de Trump não conseguir forçar a Rússia a encerrar a guerra, então a Ucrânia poderia obter todos os meios para continuar a guerra e derrotar a Rússia. Porque a última coisa que Trump quer é parecer fraco na política externa", avalia Burkovskiy.