Turismo muda Soweto, símbolo antiapartheid
28 de abril de 2014Soweto não chama a atenção particularmente pela beleza. Já de longe, o atual subúrbio de Johanesburgo se mostra degradado e com poucas atrações. Em circunstâncias normais, as antigas casas e as favelas fariam antes parte de uma região que os turistas evitariam. Mas a história transformou a área numa atração.
Em 1963, o regime repressivo do apartheid criou a partir do nada Soweto, a South Western Township, ou seja, a cidade negra a sudoeste de Johanesburgo. Lá deveria viver a população negra – separada dos outros sul-africanos. Na época, os cidadãos eram divididos em quatro raças distintas: "negros", "de cor" ou "mestiços", "asiáticos" e "brancos".
A separação racial é lembrada hoje no Museu do Apartheid, inaugurado nos arredores de Soweto em 2001. Fotos, vídeos, audioinstalações e símbolos mostram um sistema que equiparava negros a cães e reduzia maciçamente os direitos da população. O apartheid foi introduzido oficialmente na África do Sul em 1948.
A exposição mostra como os negros foram expulsos de suas casas e bairros. Conta, por exemplo, como os negros eram usados como escravos na agricultura e nas minas, enquanto os sul-africanos brancos se entregavam aos prazeres da culinária e das festas. Placas como "Somente europeus" ou "Proibido para cachorros e negros" mostram todo o espectro da discriminação, que pertencia ao cotidiano de milhões de pessoas no país.
O zambiano Deus Mwale participou há pouco tempo, junto a outros africanos, de um workshop na África do Sul. Antes de voltar à sua terra natal, o grupo visitou o Museu do Apartheid em Soweto. "Estamos contentes que esse sistema ruim acabou. É bom que a história seja preservada, para que algo assim não se repita", diz Mwale.
Rua dos Nobel
O primeiro ponto de partida do grupo: a Vilakazi Street, a rua onde moravam antigamente dois Prêmios Nobel e ícones do movimento antiapartheid – Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu. Turistas de todo o mundo se reúnem regularmente ali para visitar a casa de Mandela, que abriga agora um museu.
Alguns moradores da rua aproveitaram o grande fluxo de turistas e transformaram as suas casas em restaurantes e bares. Artesãos nas calçadas vendem tecidos pintados, desenhos, esculturas, colares de pérolas ou objetos artísticos feitos de arame.
"Nossos clientes são pessoas que vêm do exterior a Soweto, para ver a casa de Mandela. São pessoas da Europa e alguns de países africanos", conta o artesão Sam Muderedzwa.
Pitso Moshe, por sua vez, trabalha para o grupo de teatro Ditautsa Koma Dance e ganha o seu sustento com apresentações nos arredores da Vilakazi Street. Moshe diz que o interesse internacional por Soweto é a motivação do grupo.
"Se não houvesse as casas de Mandela e Desmond Tutu, então ninguém viajaria até aqui e tampouco viria ver o que acontece na Vilakazi Street", afirma.
George Maluleke transformou a sua casa num bar onde serve cerveja tradicional. O bar é popular e lhe proporciona uma boa renda: "Para mim, é um privilégio receber no meu bar todos esses visitantes brancos, que bebem cerveja e fazem refeições. Eu me beneficio muito com o turismo aqui na township."
Lembrança de Hector Pieterson
Não muito distante das multidões de turistas da Vilakazi Street encontra-se o Museu Memorial Hector Pieterson, que leva o nome de um menino negro de 13 anos morto pela polícia durante uma manifestação em Soweto e que virou símbolo do levante contra o apartheid em 1976.
O museu foi aberto em 2002 no mesmo lugar onde Hector foi morto. Katlego Mphuti, que dirige visitas guiadas no Museu do Apartheid, afirma que Soweto é uma visita obrigatória para qualquer pessoa que se interessasse pela história da África do Sul e pelo legado do apartheid. Diante do Museu Hector Pieterson, também se encontram estandes de artesanato, onde muitos turistas compram suvenires.
O pesquisador Gugu Dladla, que se ocupa de questões de turismo, vê nas mudanças no bairro uma coisa boa: "Soweto era conhecido por sua alta taxa de criminalidade, mas o turismo mudou o caráter da township. Agora, as pessoas encontram trabalho por aqui e ganham dinheiro suficiente para o seu sustento."