Tunísia
22 de novembro de 2011Os 217 membros do novo parlamento provisório da Tunísia, também assembleia constituinte, se reuniram pela primeira vez nesta terça-feira (22/11). Um mês depois das primeiras eleições livres no país, eles irão votar a nova liderança política e encaminhar a constituição para a Tunísia. Após duras negociações, as lideranças dos três principais partidos encontraram um consenso sobre a distribuição do poder. Ele será dividido entre os opositores do presidente derrubado, Ben Ali. O partido islamita Ennahda, que detém a maioria dos mandatos no parlamento, deverá assumir a chefia do governo.
O filósofo Youssef Seddik critica a sede de poder e a falta de comprometimento com o futuro do país. Segundo ele, a preocupação gira em torno do governo, "da ocupação de postos". "Mas se esquece o aspecto principal: os fundamentos de uma nova república", adverte. Ao menos foi abolido o modelo de partido único, que manteve durante tantos anos Bem Ali no poder.
Novos nomes
Seddik não vê problemas na escolha do esquerdista Moncef Marzouki para ocupar a presidência, do social-democrata Mustapha Ben Jaafar para a presidência do parlamento provisório e de Hamadi Jebali, o número dois do partido islâmico Ennahda, ser o chefe de governo.
Mas ele freia a euforia. Nos atuais debates, ele sente falta do foco sobre o que a Tunísia realmente quer ser. Como um conteúdo para a palavra "democracia", que Seddik considera uma questão importante após 23 anos de regime Ben Ali.
"Nós falamos um pouco sobre identidade, mas já esquecemos todo o resto. Por exemplo, que papel o Islã terá na constituição? E, se não for o Islã, qual será o fundamento do nosso novo Estado?", questiona Seddik.
Ele se refere aqui também ao discurso do premiê designado, Hamadi Jebali. Em nome do partido islâmico Ennahda ele causou agitação durante as negociações de coalizão, ao dizer que a Tunísia estava no caminho de se tornar um "sexto califado". Mesmo que depois Jebali tenha alegado ter sido mal interpretado, críticos interpretaram na frase uma mensagem sobre a agenda religiosa dos islamitas, que são a maior força do parlamento, ocupando 89 assentos.
Prazo curto
Moncef Marzouki, que deverá ser o presidente de transição na Tunísia, fala sobre o que há a ser feito: "O maior desafio é a luta contra o desemprego. No tocante à proteção da liberdade, especialmente a proteção dos direitos da mulher, já há consenso entre todas as partes, inclusive a islâmica. No plano econômico, porém, precisamos urgentemente desenvolver conceitos. Pois é compreensível que os tunisianos estejam impacientes. Nós ainda estamos diante de tempos difíceis", salienta. A pressão sobre o governo é grande, em um ano haverá novas eleições.
Youssef Seddik, contudo, está orgulhoso de onde a Tunísia chegou neste ano turbulento. "Após décadas de colonialismo e ditadura, não se pode exigir de nenhum povo que aperte um botão e imediatamente alcance um nível democrático como o do Reino Unido. Mas já podemos nos orgulhar, pois o que alcançamos é realmente revolucionário", diz.
Autor: Alexander Göbel (mp)
Revisão: Roselaine Wandscheer