Trump fortalece bases para corrida presidencial
7 de fevereiro de 2022Num comício recente no Texas, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump voltou a cutucar a democrata Hillary Clinton e reiterou que a última eleição presidencial americana foi roubada dele através de fraude eleitoral.
"A eleição de 2020 foi fraudada e todo mundo sabe disso", afirmou, embora todas essas alegações tenham sido completamente refutadas. A Suprema Corte dos EUA, que é majoritariamente conservadora graças aos juízes indicados pelo próprio ex-presidente, rejeitou um processo que visava anular os resultados das eleições em quatro estados decisivos.
Caso esta retórica soe familiar é porque as mensagens nos comícios atuais de Trump consistem em fórmulas que ele já usava em sua primeira candidatura à presidência (como, por exemplo, o ódio contra Hillary Clinton) e na conspiração de fraude eleitoral, no foco desde sua derrota eleitoral para Joe Biden.
"Ele está fazendo o que sempre fez: jogando com a sua base e lhes jogando carne crua", disse à DW Brandon Conradis, editor de campanha eleitoral do portal de notícias políticas The Hill. "São seus maiores sucessos, ainda."
Perdão aos invasores do Capitólio
Mas Trump também apresentou um novo "hit de sucesso", por assim dizer, durante seu comício na cidade texana de Conroe no último fim de semana de janeiro, ao defender veementemente os insurgentes que invadiram o Capitólio, sede do Legislativo dos EUA, em Washington, em 6 de janeiro de 2021.
"Se eu concorrer e se eu ganhar, trataremos essas pessoas do 6 de janeiro de forma justa", disse o republicano, referindo-se às eleições presidenciais de 2024. "Vamos tratá-las de forma justa. E se perdões forem necessários, nós lhes daremos perdões porque estão sendo tratadas injustamente."
"Quando Trump diz coisas provocativas como essa, ele, acima de tudo, anseia por atenção", disse Michael Cornfield, professor associado de gestão política da Universidade George Washington, em entrevista à DW.
No ataque violento ao Capitólio, uma multidão enfurecida invadiu a sessão do Congresso que estava prestes a formalizar a vitória eleitoral de Biden. Cinco envolvidos morreram, mais de 700 suspeitos foram indiciados.
Como resultado do ataque, Trump foi alvo de um processo de impeachment durante seus últimos dias no cargo. Ele foi acusado de "incitação à insurreição". O Senado americano o considerou culpado em 23 de fevereiro por uma votação de 57 a 43, mas sem a maioria de dois terços necessária, o processo terminou em absolvição.
Recuo dos líderes republicanos
Nos dias seguintes ao comício em Conroe, vários republicanos de destaque se manifestaram contra a intenção de Trump de estender um possível perdão presidencial a quem invadiu o Capitólio.
Lindsay Graham, senador da Carolina do Sul e notório aliado de Trump, afirmou que espera que os agitadores "vão para a cadeia e sofram a força da lei, porque merecem." O governador de New Hampshire, Chris Sununu, também se opôs veementemente a um perdão: "Claro que não. Oh, meu Deus. Não."
Contudo, afirmam observadores e analistas políticos, o topo da hirarquia republicana não é o público-alvo das controversas declarações. "Trump não se importa com as críticas dos altos escalões de seu partido", observa Conradis. "Ele está apelando a sua base, e quem invadiu o Capitólio definitivamente fazem parte dela. Esses são os [apoiadores] obstinados que vão votar nele, não importa o que aconteça."
Trump como showman
Manter seus apoiadores próximos será crucial se Trump decidir concorrer novamente nas eleições presidenciais de 2024. Declarações que começam com a frase "se eu concorrer e se eu ganhar" certamente dão a impressão de que outra candidatura de Trump é um cenário provável.
"Óbvio, tudo pode acontecer, mas onde as coisas estão agora, ele definitivamente quer concorrer de novo e está preparando as bases", diz Conradis. "Ele não quer que se esqueçam dele. Ele adora os holofotes, é um showman e quer a cobertura da mídia."
Cornfield não está tão certo: "Ele é um animador com uma posição política importante e um passado político. Mas seu futuro político está basicamente no ar", ressalva o especialista.
De qualquer forma, se o ex-presidente decidir concorrer novamente à presidência americana, os indícios parecem promissores. Em pesquisa publicada pelo portal The Hill no fim de janeiro, ele obteve 57% dos votos numa hipotética primária republicana de 2024 com oito candidatos, ficando em primeiro lugar por margem ampla. O segundo, com 12%, coube ao governador da Flórida, Ron DeSantis.
Arrecadação de dinheiro para sua defesa legal?
Trump também construiu um impressionante arsenal para a batalha. Ele arrecadou 51 milhões de dólares apenas no segundo semestre de 2021, elevando seus fundos totais para 122 milhões de dólares, de acordo com documentos federais. Muitos desses dólares vieram de pequenos doadores, "americanos normais", nas palavras de Conradis. "Isso, por si só, já mostra quanto apoio ele ainda tem."
Cornfield ressalta que Trump só gastou uma fração desse dinheiro para apoiar candidatos de nível local e estadual das midterm elections – as eleições de metade de mandato, em novembro. Normalmente, segundo o professor de política, quem visa concorrer à presidência gastaria muito mais no apoio às eleições locais. Ele disse acreditar que Trump tem um outro objetivo com o dinheiro arrecadado.
"Ele está atolado até os joelhos em processos jurídicos e pode piorar", observa Cornfield. E uma boa defesa legal é cara.
"Ele pode ganhar de novo"
Por outro lado, Trump pode não ter que responder perante a juiz nenhum, caso as coisas sigam um caminho favorável a ele.
"Não sejamos muito cínicos, mas uma de suas principais motivações para concorrer novamente é que ele poderá argumentar que, por ser candidato a presidente, está imune a processos", acrescenta Cornfield.
Se essa manobra funcionaria, é outra história. Fato é que atualmente ainda não está claro se Trump tentará retornar à Casa Branca. Caso tente, os democratas enfrentarão um sério oponente. "Trump ainda é a pessoa eleita em 2016", aponta Conradis. "É por isso que ele pode ganhar novamente."