Trichet e a estabilidade do euro
16 de julho de 2003O presidente francês Jacques Chirac pode considerar-se satisfeito. Com perseverança, ele conseguiu finalmente abrir o caminho para a nomeação do seu candidato Jean-Claude Trichet para a presidência do Banco Central Europeu (BCE). A partir de 1º de novembro, o presidente do Banco da França deverá ser o sucessor do holandês Wim Duisenberg à frente do BCE.
Após a sua indicação pelos chefes de Estado e de governo, na conferência de cúpula da EU em Salônica (Grécia) e sua nomeação pelos ministros das Finanças dos países que compõem a chamada "zona do euro", os próximos passos até a sua posse definitiva serão a aprovação pelo Parlamento Europeu e pela diretoria do próprio Banco Central Europeu. Mas isto é tido como mera formalidade.
Pacto de Estabilidade
Apesar de ter conseguido impor seu candidato para a chefia do BCE, Jacques Chirac não poderá contar com um apoio de Jean-Claude Trichet para os seus planos de afrouxamento temporário do Pacto de Estabilidade do euro. A sugestão foi lançada pelo chefe de Estado francês na última segunda-feira (14/7), durante os festejos do feriado nacional da França.
A iniciativa de Chirac foi prontamente rejeitada pelo chamado EcoFin, o conselho dos ministros de Economia e de Finanças da União Européia. E também o futuro presidente do BCE deverá opor-se a ela, segundo a avaliação de conhecedores do cenário financeiro europeu. Parte-se do pressuposto de que Trichet dará prosseguimento à política de estabilidade do seu antecessor e defenderá também a completa independência e autonomia do Banco Central Europeu.
Amigo da Alemanha
Um dos maiores avalistas de Jean-Claude Trichet na Alemanha é o ex-ministro alemão das Finanças, Theo Waigel. Num artigo publicado pelo diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, na sua edição da terça-feira (15/7), Waigel classifica o futuro presidente do BCE de um "perito incorruptível da estabilidade". Ele é ainda, a seu ver, um grande amigo da Alemanha. Trichet conhece as políticas financeira e monetária da Alemanha como "quase ninguém", afirmou Waigel.
Na opinião de Lothar Hessler, da casa bancária HSB Trinkaus & Burkhardt, Jean-Claude Trichet não se tornará uma figura dominante do BCE, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos com Alan Greenspan, chefe do Federal Board. Em entrevista ao jornal Tagesspiegel de Berlim, Hessler afirmou, contudo: "Trichet estará interessado numa mudança de prioridades. Seu peso na diretoria do BCE será maior que o de Duisenberg. Na sua comunicação com a opinião pública, se poderá constatar que Trichet dará um perfil mais marcante ao BCE".
Homem mais importante da Europa
A grande importância futura do presidente do Banco Central Europeu é prognosticada pelo diário muniquense Münchner Merkur. Num editorial publicado na sua edição desta quarta-feira (16/7), o jornal indaga: "Quem é o homem mais importante da Europa? Schröder? Blair? Chirac? Ou será o chefe da Comissão da UE, Prodi? Os poderosos do Velho Continente terão de acostumar-se a que, dentro em breve, as pessoas mencionem em primeiro lugar um outro nome: Jean-Claude Trichet".