Tribunal dos EUA examina queixa coletiva de vítimas do apartheid
10 de agosto de 2002A primeira audiência de advogados no tribunal do distrito sul de Manhattan, em Nova Yorque, foi suspensa, sem decisão, na sexta-feira (9), depois de duas horas, e adiada para o próximo dia 23. Na lista de acusados estão os três maiores bancos alemães – Deutsche Bank, Desdner Bank e o Commerzbank - os suíços UBS e Crédit Suisse, o americano Citicorp, a gigante de computadores IBM e a companhia petroleira Shell.
O polêmico advogado americano Edward Fagan, que apresentou a queixa coletiva de seus clientes sul-africanos, acusa as empresas de terem apoiado o regime de segregação racial da África do Sul de 1948 até o seu fim em 1993. Com investimentos e fornecimento de tecnologia ao regime da minoria branca, as firmas violaram as determinações do embargo internacional contra a África do Sul, acusou Fagan.
Depois de ouvir a posição dos advogados das empresas acusadas é que o juiz americano Richard Casey vai decidir se o seu tribunal aceita a queixa coletiva.
Fagan parece disposto a fazer um acordo extrajudicial, mediante o pagamento imediato de até 100 bilhões de dólares. O advogado famoso e também um mestre em relações públicas planeja uma atuação idêntica à bem sucedida no caso das vítimas do Holocausto. Mas seus críticos dizem que este é o único paralelo, pois seria muito difícil provar que os bancos alemães e, mais tarde, firmas como a Siemens, Volkswagen e a DaimlerChrysler, seriam responsáveis por vítimas fatais do apartheid até 1994.
Créditos mortíferos
O argumento para a queixa coletiva agora é de que, com créditos e fornecimentos de tecnologia, as firmas ajudaram a consolidar o regime da minoria branca sul-africana. Os créditos e exportações fluíram para a África do Sul mesmo depois que a Organização das Nações Unidas (ONU) condenou o apartheid como criminoso e impôs sanções contra o país, em 1973. A IBM forneceu tecnologia de computador para os aparelhos de repressão e às Forças Armadas sul-africanas. E sem créditos dos bancos, o regime teria entrado em colapso já em 1985 e muitas vidas seriam salvas, segundo ativistas sul-africanos dos direitos humanos.
O advogado Fagan mandou cartas às firmas acusadas, segundo o jornal Financial Times, oferecendo para encerrar a questão, sem discussão judicial, em troca de pagamento imediato de uma indenização às vítimas, num valor entre US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões. Caso as firmas se recusassem, poderiam contar com um boicote de seus produtos pelos consumidores.
O igualmente renomado advogado americano Michael Hausfeld também defende vítimas do apartheid e coopera com a Comissão da Verdade sul-africana, mas desaprova os métodos de Fagan e também rejeita, categoricamente, uma cooperação com o colega. Todavia, Hausfeld apresentará uma queixa coletiva, nos próximos dias.
Milhares de vítimas
Tais queixas são possíveis nos Estados Unidos porque muitas empresas têm filiais no país e a legislação americana garante a estrangeiros o direito de abrir processo civil nos tribunais locais, caso tenham sido vítimas de atos de violência que violam o direito internacional. Não só os clientes de Fagan esperam por indenização na África do Sul, mas também 21 mil vítimas do apartheid, às quais o Estados prometeu indenizar mas não pagou nada até agora.