Tribunais de guerra de Nurembergue a Bagdá
16 de dezembro de 2003Pela vontade do Conselho de Governo Iraquiano, o ex-ditador do Iraque, Saddam Hussein, deve ser julgado pelo Tribunal de Criminosos de Guerra Iraquianos e condenado à morte. A pena capital foi revogada no país, mas pode ser restabelecida pelo governo a ser criado até agosto de 2004. O desejo manifestado pelo presidente do Conselho, Abdel Asis el Hakim, é rejeitado por Kofi Annan, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), cujos tribunais de criminosos para julgar crimes de guerra e contra a humanidade não prevêem a pena de morte.
Annan avaliou como encorajadora a promessa de um processo justo para Saddam Hussein feita pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Outros críticos da pena de morte questionam, todavia, a justiça prometida pelo presidente de um país que executa a pena de morte até contra deficientes mentais. O político iraquiano Muwafak el Rabbi assegurou que o tribunal criado no Iraque, na semana passada, para julgar criminosos de guerra vai condenar o ex-ditador iraquiano à pena capital.
Qual é o tribunal competente?
- Ao contrário dos tribunais de criminosos de guerra da antiga Iugoslávia e de Ruanda, o do Iraque não foi criado pela ONU. Ele é obra do Conselho de Governo Iraquiano e deve julgar os crimes cometidos no Iraque a partir da tomada do poder pelo partido Baath, em julho de 1968, até a derrubada do regime de Saddam Hussein, em 1º de maio de 2003.É improvável um julgamento de Saddam Hussein pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, criado pela ONU em 2002. Na realidade, o TPI é a primeira corte competente para julgar crimes de guerra, contra a humanidade e ataques contra outros países, mas o seu estatuto só permite o julgamento de crimes cometidos a partir de 1º de julho de 2002. Além do mais, o Iraque não ratificou o estatuto do tribunal, e essa seria também uma condição para que a corte de Haia julgasse Saddam Hussein e seus auxiliares diretos.
Hitler preferiu a morte
- O primeiro chefe de Estado que deveria ser julgado por crimes de guerra foi Adolf Hitler, depois da Segunda Guerra Mundial, encerrada em 1945. Mas o ditador nazista preferiu o suicídio. As potências vencedoras conseguiram, porém, uma estréia: a criação de um tribunal militar para punir os crimes maiores, entre eles os contra a paz, os crimes de guerra e contra a humanidade. A corte passou para a história como Tribunal de Nurembergue. Só judeus, as tropas nazistas exterminaram aproximadamente seis milhões na Europa.Nos tribunais de Nurembergue e de Tóquio os julgadores foram as potências vencedoras - Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e União Soviética. Com sentenças de morte ou longas penas de prisão, os vencedores mudaram a relação entre guerra e direito. Valeu o princípio pelo qual os crimes contra o direito internacional são cometidos por pessoas e não por seres abstratos. "E só com a condenação de tais criminosos pode-se impor os dispositivos do direito internacional", argumentavam os juristas naquela época.
Embora o direito bélico tenha sido colocado sobre bases mais claras pela Convenção de Genebra de 1949, a ONU precisou de 47 anos para criar o primeiro tribunal de crimes de guerra, em 1993. Só após o fim da Guerra Fria, o Conselho de Segurança da ONU pôde ressuscitar o direito internacional convencional, com a criação do Tribunal Internacional em Haia para crimes de guerra e contra a humanidade cometidos pelas tropas de Milosevic na antiga Iugoslávia.
Longa espera por sentença contra Milosevic
- Ao contrário dos tribunais de Nurembergue e Tóquio, os juízes da corte na Holanda são procedentes de todo o mundo. A corte está isenta, em princípio, da acusação em potencial de "justiça dos vencedores". O Tribunal em Haia é competente para julgar os crimes cometidos na Iugoslávia depois de 1º de janeiro de 1991. Desde fevereiro de 2002, Milosevic é o primeiro ex-chefe de Estado na história do direito internacional levado às barras da Justiça por causa de crimes de guerra e contra a humanidade. O seu julgamento ainda pode durar anos.Premiê condenado por genocídio
- Ainda se tem que esperar muito por uma sentença contra um ex-chefe de Estado. Um ex-chefe de governo já foi condenado por um tribunal semelhante ao da ONU para a Iugoslávia: o de Arusha, na Tanzânia, ditou uma longa pena de prisão contra o ex-primeiro-ministro de Ruanda, Jean Kambanda, por crimes de guerra e de genocídio. Embora sem provas materiais, Kambanda se reconheceu culpado, em 1998, pelo genocídio.Em Serra Leoa também foi criado um tribunal especial em 2002, com base num acordo com a ONU para punir os crimes cometidos durante a guerra civil de longos anos. O ex-presidente Charles Taylor deverá ser julgado em 2004.