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Top model palestino faz carreira em Israel

Dana Regev (ca)12 de dezembro de 2015

Natural de Jerusalém, Qaher Harhash consegue fazer sucesso como modelo, estudar e servir de inspiração para muitos jovens em meio às tensões entre israelenses e palestinos. Aos 17 anos, ele quer ajudar a mudar vidas.

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Modelo Qaher Harhash enfrenta problemas por ser palestinoFoto: Inbal Mesika

Qaher Harhash, primeiro top model palestino, ainda se mostra nervoso ao falar de seu sucesso recente – como se esperaria de um rapaz de 17 anos, ainda cursando o ensino médio. Nascido em Jerusalém Oriental numa família muçulmana, a suas aspirações de modelo foram frequentemente podadas pela dura realidade social à sua volta.

Soldados armados eram presença comum em seu bairro. Quando ainda estava na escola primária, jantando com a família, Harbash notou pontos vermelhos de laser nas cabeças de seus parentes. Na mesma noite, o Exército israelense invadiu a casa e prendeu seu tio.

No esforço para fazer carreira no mundo da moda, ele teve que superar várias barreiras – às vezes literalmente, viajando entre Jerusalém e Tel Aviv, e passando por postos de controle e guardas de segurança. Mas contra todos os infortúnios, Harhash está determinado a realizar seu sonho. "Eu não vou parar e vou trabalhar para alcançá-lo a qualquer custo", assegurou à DW.

Enviar em vão fotos para agências de modelos gerou grandes decepções, mas o jovem não desistiu. Depois de múltiplas tentativas, foi contratado pela Roberto Models, do renomado agente de modelos israelense Robert Ben-Shoshan.

Rosto e origem

A princípio, Harhash foi rejeitado principalmente sob a desculpa de que o público israelense ainda não estava preparado para um modelo palestino. Muitas vezes os clientes ficavam tentados a usar sua aparência inocente e visual andrógino, mas recuavam na última hora, temendo que não fosse totalmente aceito pelos israelenses, depois que soubessem de sua origem.

"Fui rejeitado tantas vezes", explica o modelo. "Eu era esquecido logo que alguma coisa acontecesse [politicamente]. Isso me fez sentir como nós, palestinos, somos ignorados e generalizados."

As rejeições iniciais foram, obviamente, uma decepção para o jovem talento. "Há sempre esse debate interno: se eu não consegui o contrato por ser palestino, ou simplesmente por não ter o rosto certo. Muitos clientes me diziam que gostariam de trabalhar comigo, mas que não podiam, por eu ser palestino. Isso se tornou mais frequente após os confrontos recentes, mas não vejo como algo racista, pois sei que é assim que funciona esta indústria."

Sem ter perdido as esperanças, Harhash revelou que não culpa os israelenses por sua desconfiança. "Acontece a mesma coisa com eles, os israelenses são o tempo todo generalizados. A única forma de romper esse círculo vicioso é ter gente boa falando de paz."

Palestinien erster männliche Topmodel
Ao lado da modelo israelense Noam Frost, modelo palestino fez sua primeira campanha publicitáriaFoto: Alon Shafransky

Inspiração de verdade

Harhash é o caçula de cinco filhos. Seus pais se divorciaram quando ele tinha apenas sete anos. Foi mais ou menos nessa idade que ele começou a pensar numa carreira no mundo da moda. "Minhas irmãs eram adolescentes que assistiam à Fashion TV o tempo todo.". Inspirado pelos desfiles, ele percebeu que também poderia ter uma chance como modelo.

"Num dos desfiles, Tyson Beckford [modelo de ascendência jamaicana e chinesa e que depois trabalhou como ator] apareceu e achei que ele era sem igual. Ele foi uma verdadeira inspiração para mim." Harhash conta que sempre se interessou por moda. "Gosto de fazer desenhos e de recortar papel, por isso meus pais sempre pensaram que eu queria ser estilista."

Mas somente aos 14 anos ele contou à família que as passarelas eram seu real interesse. "Quando comecei a crescer, fiquei mais alto e meu rosto foi mudando. Pensei comigo: 'Talvez eu tenha uma chance, talvez eu também possa ter sucesso.'"

A família acabou aceitando seu desejo. "Eles achavam que, se era isso o que eu queria fazer, então devia seguir em frente. Mas eles também disseram que eu deveria sempre me lembrar de onde venho, nunca perder o meu verdadeiro 'eu'."

Escola e trabalho

O israelense Ben-Shoshan, que descobriu Harhash e o contratou imediatamente para a sua agência, sabe que alguns ainda são conservadores ou racistas demais para aceitar um modelo palestino. Mas também está convencido que há muita gente curiosa e de mente aberta. "Pessoalmente, eu não olho a origem de ninguém. Vejo um modelo como uma pessoa, observo suas habilidades, seu talento e seu visual", contou à DW.

Palestinien erster männliche Topmodel
Qaher Harhash posa para a grife Rina ZinFoto: Alon Shafransky

"Qaher tem uma aparência muito especial. Ele é bem alto, com o rosto muito distinto e, desde o primeiro segundo em que abriu a boca, pude notar seu charme. Nós nos entendemos logo. Ele é muito inteligente e sabe exatamente o que quer, é muito motivado e ambicioso. Acho que tem uma boa chance de fazer uma grande carreira, tanto em nível nacional quanto internacional."

Estudando na Escola Internacional Americana de Jerusalém, seu inglês é quase impecável. De algum modo, ele tem conseguido conciliar bem trabalho e escola. "Sempre fui uma pessoa multitarefas", comenta, "especialmente desde o divórcio dos meus pais, quando tive de manobrar entre essa situação e a minha infância.

"Eu ainda faço dever de casa, algumas vezes tenho que sair da escola no meio do dia, se tenho uma reunião na agência. Às vezes chego até a fazer a tarefa escolar enquanto espero na agência, mas no geral sou capaz de fazer as duas coisas."

Um diamante dentro

Harhash espera que um dia venha a aparecer na capa de revistas de renome, ou desfilar nas passarelas para as grandes marcas. "Basicamente vivenciar o mundo da moda, viajar, encontrar novas pessoas, compreender narrativas diferentes. Queria ser um rosto reconhecido como modelo." No entanto, Harhash também tem uma mensagem mais profunda: "Quero ser o sonho de todo adolescente, e alguém respeitado e admirado."

"Sei que represento paixão, amor e convivência, mas também adoraria ser essa figura que diz às pessoas para fazerem aquilo de que gostam, e pararem de escutar essa pessoinha falando nas cabeças delas que elas não são boas o suficiente. Se você transformar palavras em ações, nada é capaz detê-lo."

"Não importa o que lhe dizem e não importa quantas pessoas tentaram botar você para baixo devido à sua nacionalidade, cor, raça, por causa do que você é: não pare. Não dê ouvidos a essa gente, porque basta uma pessoa ver o diamante que há dentro de você", encoraja Qaher Harhash.