Tom Jobim é tema de documentário
25 de janeiro de 2012
Neste 25 de janeiro, Antônio Carlos Jobim completaria 85 anos. Mas, há 18 anos, complicações após uma cirurgia levaram à morte de um dos maiores compositores da música brasileira. A presença de sua obra, porém, está longe de desaparecer. Neste mês estreou no Brasil o documentário A Música Segundo Tom Jobim, longa-metragem que mostra, numa espécie de colagem, a grandiosidade de Tom.
No filme, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim (neta de Tom), a trajetória musical do compositor, intérprete, pianista e violonista é revelada sem o peso de datas, nomes ou de uma narração. "O projeto inicial era fazer um filme em três atos, com uma pequena introdução, que seria feita por Chico Buarque, mas quando vi o material de arquivo comecei a mudar de ideia", declarou o diretor Nelson Pereira dos Santos à DW Brasil.
Dora Jobim, que dividiu o trabalho de direção com Nelson Pereira, falou sobre o processo de coleta do material. "É uma pesquisa que não termina, toda hora chegava alguma coisa nova", relatou. Entre cenas raras e significativas para a carreira do avô, Dora destaca uma apresentação que aconteceu na Alemanha, em 1966. "É a Silvinha Telles cantando Samba de uma nota só num show na Alemanha, com Rosinha de Valença no violão. É uma graça, meu trecho preferido no filme."
Para a montagem do documentário houve uma escolha inicial das músicas que deveriam entrar e, depois, uma seleção baseada numa ordem cronológica, mas sem muito rigor. A qualidade do som e da imagem foi um fator decisivo no processo de edição. "Procuramos selecionar o que estava em melhores condições. Algumas coisas, no processo de conversão e ampliação para a tela do cinema, ficam melhores ou piores que o original", disse Dora. Um exemplo é uma gravação em que Elis Regina canta Águas de março ao lado de Tom Jobim, cena que, segundo Dora, tem arrancado aplausos da plateia.
Além da rica coletânea de imagens raras e significativas, a divulgação do documentário é uma oportunidade de "reavaliação daquele momento musical da história do Brasil, a combinação da música brasileira com o jazz", segundo Nelson Pereira dos Santos.
Reconhecimento internacional
Músicas como Garota de Ipanema, Águas de março, Corcovado e Dindi ganharam versões em outras línguas, como inglês, francês, italiano e holandês. Além disso, vários intérpretes estrangeiros gravaram suas versões para as músicas. Uma das mais conhecidas e consagradas é The girl from Ipanema, versão em inglês de Garota de Ipanema, gravada por Frank Sinatra. No documentário, Tom e Sinatra aparecem num dueto gravado em 1967 em Los Angeles. Também ganham destaque interpretações de artistas como Ella Fitzgerald, Judy Garland, Diana Krall e Sarah Vaughan.
Apesar do sucesso internacional, apenas agora Tom Jobim receberá uma homenagem especial na 54ª edição do Grammy, premiação tida como uma das mais importantes da indústria fonográfica mundial. A homenagem póstuma virá através do Lifetime Achievement Award, que será entregue a outros seis artistas, entre eles Diana Ross, na festa de premiação, que acontece no dia 12 de fevereiro em Los Angeles.
Ana Jobim, viúva de Tom, contou à DW Brasil que recebeu com surpresa a notícia. "Recebi um telefonema do presidente do Grammy dizendo que ligava pessoalmente para mim, ao invés de enviar um comunicado por carta, porque queria dividir comigo a emoção daquele momento. Não sei quem estava mais emocionado, se ele ou eu", revelou Ana.
Em declaração oficial durante o anúncio dos nomes, Neil Portnow, presidente da Recording Academy, organizadora do prêmio, disse que "é uma honra reconhecer um grupo tão diverso de indivíduos cujos talentos e realizações tiveram um impacto indelével na indústria fonográfica".
Disputa por direitos autorais
Mas as versões de músicas de Tom Jobim em outras línguas, além de terem contribuído para o reconhecimento internacional da obra do maestro, também estão sendo objeto de disputa judicial nos Estados Unidos. Segundo Ana Jobim, há seis anos a Jobim Music abriu um processo contra a Universal Music Publishing por causa do recebimento de direitos autorais por parte de Norman Gimbel, autor de diversas versões famosas, como a de Garota de Ipanema.
"A questão não é somente royalties, mas o que foi dado ao versionista indevidamente; direito de edição de 50% das músicas, inclusive o controle do instrumental", explicou Ana Jobim. Segundo ela, o objetivo do processo é reconquistar “o controle das músicas, uma vez que a Universal não soube administrá-las, dando a terceiros o que eles não possuíam. Não existia no contrato original essa cláusula, que eles pudessem dispor do que lhes foi 'emprestado'". Na atual fase do processo, as duas partes tentam chegar a um acordo.
Próximo filme
O diretor Nelson Pereira dos Santos prevê ainda para o primeiro semestre de 2012 o lançamento de um segundo filme sobre Tom Jobim. A Luz do Tom é focado nos depoimentos de pessoas próximas ao artista. Além da irmã, Helena Jobim, o filme traz depoimentos da primeira esposa dele, Thereza Hermanny, e da segunda, Ana Jobim.
O filme é baseado no livro de Helena, chamado Antônio Carlos Jobim: um homem iluminado, e retrata as fases distintas da vida de Tom: o momento de definição da carreira, o sucesso internacional e a temática voltada para natureza. Entre as locações escolhidas pelo diretor estão praias de Florianópolis e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, local que tinha grande significado para o músico. "O Tom dizia que era uma extensão do quintal da casa dele, mas era praticamente o quintal da casa dele", lembrou o diretor.
Autora: Ericka de Sá, de Brasília
Revisão: Alexandre Schossler