Tobias Zielony e a nova fotografia documental
27 de junho de 2013Qual é o papel da mídia no entendimento da realidade? A encenação pode ser um caminho para observar e compreender pessoas e sociedades de maneira objetiva? Essas são duas questões essenciais presentes nas belas e duras fotos que compõem a exposição de Tobias Zielony em Berlim.
Nascido em Wuppertal em 1973, o fotógrafo, que vive na capital alemã, é um dos mais conhecidos de sua geração. Sua originalidade se encontra em algum ponto entre a ternura, o realismo e o horror das fotos de Nan Goldin e o colorido cru e as poses descompromissadas do trabalho de Juergen Teller.
Há mais de dez anos, Zielony fotografa jovens que vivem nos subúrbios ou no submundo dos grandes aglomerados urbanos, muitas vezes à margem de um falso paraíso social e econômico.
No trabalho do fotógrafo, a verdade não surge apenas através do questionamento da objetividade. Suas fotos vão além, criando versões encenadas pelos próprios protagonistas, mas que buscam e revelam aspectos mais profundos de suas personalidades e do contexto social e a cultural em que vivem.
"Sempre encontro meus personagens por acaso e daí as ideias vão se desenvolvendo", disse Zielony na abertura da exposição berlinense.
Realidade e mídia
Para o chefe do departamento de fotografia da Berlinische Galerie, Ulrich Domröse, dois pontos são essenciais no trabalho do fotógrafo: a realidade e a mídia.
"Zielony traz para o seu olhar a influência da mídia: filmes, vídeo e internet. Essa influência faz suas fotos terem um caráter único e cria uma relação diferente entre essas mídias e a fotografia", disse Domröse, na abertura da exposição.
As fotos de Zielony são algo como um trabalho colaborativo com seus personagens, que, segundo o artista, acontece de maneira natural. "Isso me deixa aberto e curioso para criar novas possibilidades e tentativas", disse.
Em seu último projeto, Jenny Jenny, ele retratou jovens mulheres que, de alguma maneira, estão envolvidas com prostituição. As linhas entre os fatos nas imagens são fluídas. Os atributos mostrados por essas mulheres são subvertidos por elas mesmas, criando uma confusão com noções impostas pela sociedade.
"Sempre encontro meus personagens por acaso e daí as ideias vão se desenvolvendo. As protagonistas de Jenny Jenny eram conhecidas de pessoas que eu abordei no metr'o, com a intenção de fotografá-las", contou Zielony. A série de fotos vai, pouco a pouco, construindo o universo das prostitutas que trabalham em Berlim, com detalhes e um olhar pouco convencional.
As fotos de Zielony tocam no ponto onde a realidade se torna algo maior e transforma a imagem dessas jovens em quase mitos. Elas transitam com naturalidade entre quartos, ruas e esquinas, como num carrossel onde os protagonistas também podem ser objetos, luzes ou a cidade. "Jenny são diferentes pessoas. Esse nome quer criar e captar uma identidade, que existe entre as protagonistas e a realidade", afirmou o fotógrafo.
Sociedade de luz e sombras
A outra série que compõe a exposição é Trona, feita pelo fotógrafo na cidade californiana de mesmo nome em 2008. Ele retrata a juventude da pequena comunidade, próxima a Los Angeles, que viu seu parque industrial entrar em declínio. A situação sem perspectiva fez com que grande parte da população recorresse a drogas, especialmente a metanfetamina.
Nas imagens, o fotógrafo questiona o que acontece quando estruturas sociais e institucionais quebram e as pessoas são deixadas à margem do capitalismo exploratório. As duas séries são acompanhadas de pequenas instalações que complementam as obras. Em Trona, uma máquina de slides projeta questionamentos surgidos pela exposição na mídia. Duas animações fotográficas fazem parte de Jenny Jenny.
A luz e a luminosidade também têm um papel importante e característico nas séries do artista. Em Trona, todas as fotos foram feitas durante o dia, e em Jenny Jenny, durante a noite. Apesar de encenada, a fotografia de Zielony utiliza a luz natural dos ambientes. A iluminação vem de lâmpadas, de postes, da televisão e dos neons que colorem as ruas da cidade.
"Sempre trabalho com a luz que encontro. Gosto de ver como as pessoas circulam na luz e a relação entre elas e essa iluminação", disse. Essa característica também evidencia a importância da escuridão e do contraste em seu trabalho, criando diversas formas e cores. "Trabalhar nessas situações pode ser muito difícil, ainda mais quando utilizo filme fotográfico", explicou.
Outra característica da obra de Zielony é que, através das fotos desses jovens, podemos mergulhar não só em sua história, mas também no local onde vivem e observar sua relação com a sociedade, o que dá um caráter político ao trabalho. "Interesso-me por quem utiliza a rua. A maneira como eles posam para as fotos reflete não só a influência da cultura pop e do cinema, mas também a relação deles com a sua história e sociedade", concluiu o artista.
O trabalho de Tobias Zielony pode ser visto na Berlinische Galerie até 30 de setembro.