"Ter 30 mil refugiados empregados na Alemanha é um êxito"
12 de julho de 2016Entre os muitos milhares que chegaram à Alemanha buscando asilo, apenas uma parcela foi reconhecida como sendo refugiados, após um processo mais ou menos complexo e demorado.
Destes, cerca de 30 mil já estão empregados, segundo dados recentes do órgão federal alemão responsável pelo mercado de trabalho, a maioria como mão de obra pouco qualificada – embora se saiba que há, por exemplo, grande número de médicos entre os migrantes sírios. Além disso, o número dos refugiados desempregados continua sendo mais de quatro vezes superior.
O economista Wido Geis, responsável por treinamento profissional, imigração e inovação do instituto econômico IW, sediado em Colônia, analisa as vantagens e desafios na integração dos recém-chegados no mercado de trabalho da Alemanha.
DW: De acordo com a Agência Federal do Trabalho (BA, na sigla em alemão), 30 mil refugiados teriam encontrado emprego na Alemanha desde o segundo trimestre de 2015. O senhor considera isso um êxito?
Wido Geis: Certamente é um êxito. Principalmente sabendo-se como é difícil a integração dos refugiados no mercado de trabalho, pois, diferentemente de outros imigrantes, eles ainda têm que aprender o idioma.
Por outro lado, 130 mil migrantes reconhecidos como refugiados na Alemanha estão registrados como desempregados. No geral, a imigração ocorrida até agora afetou o mercado de trabalho alemão positiva ou negativamente?
O fato de termos muito mais desempregados do que empregados se deve ao tempo que é necessário para a integração dos refugiados no mercado de trabalho. Um estudo mostra que, no passado, os refugiados precisavam de cerca de 15 anos até terem alcançado o mesmo nível que outros imigrantes. Por outro lado, sabemos que chegam até nós muitos com um nível de qualificação muito baixo, um setor em que, na verdade, a economia alemã já dispõe de suficiente mão de obra. Então, o efeito sobre o mercado de trabalho não deve ser muito positivo.
O instituto de pesquisa IAB, da Agência Federal do Trabalho, constatou recentemente que há 154 mil ofertas de trabalho que poderiam se ocupadas por refugiados pouco qualificados profissionalmente. Por que esses postos continuam livres?
Por um lado, também há candidatos nacionais para esses postos. Por outro, da mesma forma como esses postos não interessam a certos alemães, muitas vezes não são adequados para os refugiados – por exemplo, por não serem oferecidos no local de residência deles.
Até agora, a maioria dos refugiados foi alocada no setor de baixos salários, por exemplo na prestação de serviços como limpeza de prédios ou vigilância. São trabalhos que os nacionais muitas vezes não querem assumir, mas, ainda assim, gozam de determinadas vantagens. Existem empecilhos burocráticos para os refugiados no caminho da procura de trabalho?
Em se tratando de refugiados reconhecidos – portanto, daqueles que obtêm asilo na Alemanha nos termos da Convenção de Genebra –, não há empecilhos burocráticos específicos. Essas pessoas são equiparadas aos assalariados nativos. O caso dos requerentes é diferente: é preciso primeiro verificar se não há um candidato nacional à vaga.
A lei de imigração melhorou essa situação, mas no nível da administração ainda há grandes dificuldades na coordenação entre as autoridades de imigração e a BA, sobretudo se um refugiado tem permissão para permanecer no país ou não. A maioria dos que vieram para a Alemanha nos últimos dois anos está paralisada no estágio do reconhecimento de refúgio, ou seja, ainda não foi reconhecida.
Do ponto de vista do diretor Departamento Federal de Migração e Refugiados (BAMF), Frank-Jürgen Weise, a economia alemã continua dependendo da mão de obra imigrada. O potencial dos refugiados com boa formação está sendo devidamente aproveitado?
Em princípio, sim. Primeiro os refugiados têm que, naturalmente, adquirir os conhecimentos linguísticos e qualificações exigidos para o emprego em questão. Muitos também trazem qualificações para as quais não há demanda na Alemanha. Contudo as estatísticas mostram, igualmente, que nos últimos dois anos houve um forte acréscimo de médicos sírios.
Mesmo assim, muitos refugiados exercem os trabalhos menos qualificados e subsidiados pelo governo. Desse modo se, por um lado, eles são mais rapidamente integrados no mercado de trabalho, por outro em geral lhes faltam perspectivas de longo prazo. Não faria mais sentido investir desde o início numa boa formação profissional?
No caso dos refugiados jovens sempre vale a pena treiná-los na Alemanha, até porque há muitas vagas de formação não ocupadas. O problema é que é preciso convencê-los da necessidade de passar pelo treinamento profissional. Isso é muito difícil.
Por um lado, antes dos três anos do curso, os refugiados precisam, via de regra, de cinco anos até alcançar o nível linguístico necessário para poder acompanhar a escola profissional. Nesse ponto, muitos dizem: "Eu tenho família no meu país, tenho que enviar dinheiro para casa, para mim é importante entrar logo no mercado de trabalho."
Acrescente-se o fato de que, nos países de onde eles emigram, não se reconhece, em absoluto, o valor de um treinamento profissional desse tipo. É preciso muito trabalho de convencimento. No segmento de baixos salários temos, de fato, suficientes empregados. Mas uma atividade menor também pode servir como acesso ao mercado: ela possibilita aos refugiados conhecerem as instituições alemãs do mercado de trabalho, fazer contatos e aprender a língua.