Tensões em Gaza marcam 45º aniversário da Revolução Islâmica
11 de fevereiro de 2024As comemorações do 45º aniversário da Revolução Islâmica no Irã, neste domingo (11/02), foram marcadas por protestos contra Israel e os Estados Unidos e manifestações em defesa do povo palestino, incensadas pela guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas na Faixa de Gaza.
Em Teerã, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, acusou Israel de cometer crimes contra a humanidade e "genocídio" em Gaza e exigiu que o país seja expulso da Nações Unidas. "Como pode um regime que violou 400 declarações e resoluções de organizações internacionais aderir aos acordos da ONU?", perguntou.
"Acreditamos que um dos passos fundamentais que deveria estar sendo tomado seria a expulsão do regime sionista das Nações Unidas", afirmou Raisi em discurso transmitido pela emissora estatal de televisão. Imagens da Praça Azadi, em Teerã, mostravam um desfile militar na capital que exibia mísseis e drones de fabricação iraniana, e outros equipamentos.
Segundo a emissora, milhões de pessoas compareceram aos atos públicos deste domingo. Imagens mostravam multidões entoando gritos de "morte a Israel" e "morte à América" – manifestações bastante comuns nos eventos organizados pelo Estado para comemorar o aniversário da Revolução.
Entre as pessoas que participaram em todo o pais estavam soldados, estudantes e clérigos, além de autoridades militares e políticas. Também se via mulheres cobertas por trajes islâmicos pretos e crianças. Muitos carregavam retratos do líder supremo do país, o aiatolá Khamenei; do fundador da República Islâmica, o aiatolá Khomeini, e do general Qassem Soleimani, morto em um ataque americano em janeiro de 2020.
"Eixo da Resistência"
Desde a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou do poder a monarquia liderada pelo xá Reza Pahlavi, apoiado pelos EUA, o governo majoritariamente xiita do Irã adotou uma postura de confrontamento com Israel e os poderes ocidentais.
As tensões aumentaram exponencialmente desde a deflagração da guerra em Gaza, após os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro do ano passado que mataram mais de 1,2 mil pessoas. Tel Aviv reagiu aos atentados com bombardeios intensos seguidos de uma ofensiva terrestre no enclave palestino. O Ministério da Saúde em Gaza afirma que, até o momento, mais de 28 mil pessoas morreram em consequência das agressões israelenses.
O apoio à causa palestina se tornou um dos pilares da República Islâmica desde sua fundação. O Hamas integra o chamado Eixo da Resistência, uma aliança regional criada pelo Irã que inclui ainda o grupo islamista Hisbolá, no Líbano; o governo da Síria, os rebeldes houthis no Iêmen e milícias xiitas no Iraque.
Teerã afirma que cada membro da aliança age de maneira independente. O país mantém sua posição de não interferir diretamente nas tensões em Gaza.
Desde o início do conflito, milícias e grupos armados apoiados pelo Irã passaram a atacar alvos americanos e israelenses na região. Em represália, os EUA realizaram uma série de ataques nos últimos dias contra alvos na Síria e no Iêmen.
Influência iraniana no Oriente Médio
O Irã convive com pesadas sanções impostas pelos Estados Unidos desde a saída americana do acordo nuclear de 2018 negociado entre Teerã e o Ocidente. O pacto, abandonado pelos EUA durante o governo do presidente Donald Trump, previa uma redução do programa nuclear iraniano em troca de um alívio nas punições.
Washington acusa Teerã de agir como facilitador dos ataques contra as forças americanas no Oriente Médio e de apoiar as investidas dos houthis a navios que utilizam a rota comercial marítima através do Mar Vermelho.
Países do Ocidente também acusam o Irã de fornecer drones para a Rússia utilizados na guerra da Ucrânia e mísseis para grupos armados no Oriente Médio. O governo iraniano nega todas as acusações.
As comemorações do 45º aniversário da Revolução Islâmica ocorrem a poucos dias das eleições legislativas, marcadas para 1º de março.
Esta será a primeira votação nacional após a onda de protestos em larga escala em todo o país, desencadeada pela morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro de 2022. Ela morreu sob custódia da polícia depois de ser presa por supostamente violar as rígidas leis iranianas sobre o uso do véu islâmico.
rc (Reuters, AFP)