Tendências nas relações Europa – Estados Unidos
31 de outubro de 2005Na noite anterior à sua viagem aos Estados Unidos, o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi declarou, em entrevista à televisão que deve ir ao ar nesta segunda-feira (31/10): "Eu tentei várias vezes afastar a idéia de uma intervenção no Iraque do presidente norte-americano e não estou convencido de que uma guerra seria a melhor forma de democratizar um país e de libertá-lo de uma ditadura".
A entrevista coletiva que ambos os chefes de governo iriam dar nesta segunda-feira foi cancelada, declara o periódico italiano Il Messaggero. Segundo o jornal romano, esta seria mais uma estratégia política de Berlusconi devido às eleições italianas do próximo ano. Com isto, Berlusconi visaria preparar a opinião pública para a retirada dos 3000 soldados italianos do Iraque.
A Itália segue o exemplo da Espanha em uma postura mais crítica ao governo Bush, enfraquecido pela crise com os escândalos envolvendo a CIA. Esta tendência também é confirmada pela pesquisa Tendências Transatlânticas, divulgada em setembro último.
Opinião inalterada
Tendências Transatlânticas é um projeto do German Marshall Fund, um presente do governo alemão para homenagear o Plano Marshall, que financiou a recuperação européia após a Segunda Guerra Mundial.
Juntamente com instituições da Itália, de Portugal e da Espanha, pesquisou-se, entre maio e junho deste ano, a opinião de milhares de americanos e de europeus provenientes de dez diferentes países, em diversos pontos das relações bilaterais.
A conclusão da pesquisa foi que "seis meses após a ambiciosa campanha de sensibilização do governo Bush na Europa, a opinião pública européia, no que se refere aos Estados Unidos, permanece inalterada. O inquérito revela, também, que 55% dos europeus desejam uma abordagem da segurança internacional e dos assuntos diplomáticos mais independente dos Estados Unidos".
Entre a cruz e a espada
As posições do novo governo de coalizão, no que diz respeito à sua política externa, são as mais divergentes.
Na edição mais recente da revista Spiegel, a direção da CDU declara que a principal meta do governo de Angela Merkel será uma reaproximação com os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, um afastamento da Rússia. A estreita relação com a França deve afrouxar-se, enquanto a Alemanha tentará uma maior aproximação com os países do Leste que fazem parte da União Européia.
O Ministério das Relações Exteriores, porém, ficará nas mãos dos social-democratas. Segundo a Spiegel, o vice-líder da bancada do SPD no Parlamento, Gernot Erler, salienta que será o ministério quem comandará a política externa alemã nos próximos quatro anos. Neste assunto, o papel da nova chanceler federal será secundário, afirma o político.
Em entrevista exclusiva à Deutsche Welle, o designado para o cargo de ministro das Relações Exteriores e antigo assessor de Schröder, Frank-Walter Steinmeier, afirma: "Estou certo de que não serão necessárias modificações em uma política externa inteligente". Ou seja, espera-se que Steinmeier, que ainda é muito ligado a Schröder, continue na mesma direção de seu amigo e ex-chanceler federal, se vier a ser ministro das Relações Exteriores.
A nova orientação da política externa do primeiro-ministro italiano e as conclusões das Tendências Transatlânticas podem vir a dar um pouco mais de clareza à direção de política externa a ser seguida pelo novo governo da coalizão entre social-democratas e democrata-cristãos e social-cristãos na Alemanha.