Mudança climática na Alemanha
24 de abril de 2007A acelerada mudança climática vai provocar o desaparecimento gradativo das condições para o esqui no sul da Alemanha. Em compensação, o aumento da temperatura trará vantagens para os balneários do país. O nordeste alemão torna-se cada vez mais seco, o sudoeste mais úmido.
É o que constata o Serviço Alemão de Meteorologia (DWD), que nesta terça-feira (24/04) apresentou em Berlim estatísticas sobre as condições climáticas nos últimos cem anos na Alemanha e alertou para as conseqüências sociais do aquecimento global.
A principal conclusão do DWD é que a temperatura média anual na Alemanha desde 1901 (início dos registros) até 2006 subiu 0,9ºC, portanto mais do que o aumento da média mundial, que foi de 0,8ºC no período. "Este aumento é uma prova da mudança climática decorrente não só de fenômenos naturais", disse o presidente do DWD, Wolfgang Kusch.
A década de 1990-1999 foi a mais quente do século 20 no país. Entre 1989 e 2000 foram registradas temperaturas médias anuais entre 9,4ºC e 9,9ºC, enquanto a média do século foi de 8,2ºC. Nove dos dez anos mais quentes dos últimos cem anos são desse período. Nos meses do outono, na útlima década, os termômetros chegaram a marcar 4ºC a mais do que há cem anos.
Vencedores e perdedores
Segundo Kusch, como acontece em todos os processos de mudança, também a mudança climática tem vencedores e perdedores. "Ondas de calor mais freqüentes e intensas podem causar mais mortes no verão. Isso não poderá ser compensado pelos efeitos positivos para a saúde decorrentes das temperaturas mais amenas no inverno", explicou.
Na opinião de Paul Becker, perito do DWD, devido à lenta recuperação da camada de ozônio é provável que continuem ocorrendo muitos casos de doenças infecciosas e de câncer de pele.
"Ilhas quentes"
Uma das vantagens dos invernos mais amenos para os alemães é a redução dos custos com calefação e com a limpeza das ruas. No verão, os balneários do Mar do Norte e do Mar Báltico passam a receber mais banhistas que antes viajavam para as ilhas espanholas, segundo os meteorologistas.
O DWD constatou ainda que as cidades estão virando "ilhas quentes". A diferença de temperatura entre as cidades e o campo na Alemanha chega de ser de 2ºC em algumas regiões. Uma diferença que tende a aumentar em longos períodos de seca.
A seca vai prejudicar a agricultura, principalmente no leste do país, prevêem os meteorologistas. O aquecimento da atmosfera também causará fortes trovoadas e tempestades de granizo, explicou Kusch.
O atual mês de abril tem tudo para entrar para as estatísticas do DWD como o mês mais seco, ensolarado e quente dos últimos cem anos. Até o último dia 22, o Serviço de Meteorologia contou 212 horas de sol no mês. O recorde anterior é de 216,9 horas, de abril de 1968. Em muitas regiões da Alemanha ainda não choveu este mês.
"Aliança pelo clima"
O Serviço de Meteorologia também constatou que a precipitação pluviométrica nos últimos 15 anos foi acima da média. Aumentou o número de enxurradas com precipitação de mais de 30 litros por metro quadrado. O ano em que mais choveu na Alemanha desde 1901 foi o de 2002, quando ocorreu a enchente no rio Elba.
A divulgação dos dados da meteorologia na Alemanha entre 1901 e 2006 coincidiu com a criação de uma nova "aliança pelo clima" em Berlim. Quarenta organizações não governamentais se uniram para cobrar avanços na política do governo alemão para a proteção ao clima.
A "aliança" pede mais investimentos em energias renováveis, uma ambiciosa redução das emissões dos gases de efeito estufa, limite de velocidade e de consumo de combustível para os automóveis no país. (gh)