Temas espinhosos devem marcar encontro entre Trump e Xi
6 de abril de 2017O presidente americano, Donald Trump, sinalizou que as conversas com seu homólogo chinês, Xi Jinping, nestas quinta e sexta-feira (06/04 e 07/04) em seu resort de luxo na Flórida podem ser "difíceis".
O presidente americano quer demonstrar a força dos Estados Unidos na questão do comércio, por exemplo, e também ameaça tomar providências na disputa sobre o programa nuclear da Coreia do Norte. Mas tudo isso parece não impressionar o líder asiático. A mídia estatal da China divulga mensagens de harmonia, afirma que as duas grandes nações "andam de mãos dadas", trilhando juntas o caminho para o futuro.
A revista britânica The Economist vê o tema de forma bastante diferente. Para o periódico, Xi é como uma "tartaruga", e Trump, uma "lebre", correndo em direções diferentes. "Os EUA evitam assumir responsabilidades globais. A China vai por esse caminho", escreve a publicação.
O programa de armas nucleares da Coreia do Norte é um tema que deve dominar o encontro entre os dois líderes. O país é economicamente dependente de Pequim, seu único aliado, e Washington vem tentando há muito tempo convencer a China a usar sua influência para punir Pyongyang.
Medo do colapso norte-coreano
Embora a China tenha demonstrado crescente impaciência com mau comportamento de seu vizinho, está relutante em pressionar demais o país, temendo que o regime entre em colapso, desencadeando uma onda de refugiados através da fronteira.
No mês passado, Trump afirmou, em um de seus tuítes, que a China vem fazendo "pouco para ajudar" a conter Pyongyang, avisando que os EUA estão preparados para agirem sozinhos contra a Coreia do Norte.
Wu Xinbo, cientista político da Universidade Fudan, em Xangai, acredita, entretanto, que Washington só conseguirá resolver o problema pela via diplomática, no que depende de Pequim. "É muito improvável que os EUA decidam terminar o programa nuclear da Coreia do Norte pela força das armas", avalia o especialista, em entrevista à Deutsche Welle. "Caso Washington continue querendo uma saída diplomática, precisa da China. Nesta questão, não interessa o que os EUA querem alcançar, mas sim o que a China quer e pode fazer."
Comércio como moeda de troca
O comércio bilateral também será destaque no primeiro encontro dos presidentes das duas maiores economias do planeta. Em um tuíte na semana passada, o presidente americano destacou o déficit comercial da balança comercial dos EUA em relação à China – mais de 310 bilhões de dólares no ano passado – como um sério problema a ser abordado na reunião.
Durante a campanha presidencial, Trump repetidamente criticou a China por suas políticas comerciais "injustas" e a acusou de manter sua moeda artificialmente desvalorizada para beneficiar suas exportações.
Desde que tomou posse, Trump voltou frequentemente ao tema, avisando que pretende punir a segunda maior economia do mundo com altas tarifas de importação, caso os chineses não facilitem o acesso dos EUA a seus mercados.
Mas Trump também insinuou a disposição de usar questões comerciais como moeda de troca para garantir mais cooperação da China em relação à Coreia do Norte. Já a China tem sua própria lista de desejos, incluindo menos restrições às exportações de tecnologia sensível americana.
Taiwan no topo da lista
No topo das reivindicações chinesas também está a questão de Taiwan. Depois de ter provocado Pequim com uma conversa telefônica com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, Trump acalmou os ânimos em fevereiro, com telefonema conciliatório com Xi, declarando seu apoio à tradicional política americana de "uma só China". O gesto parece ter acalmado Pequim, mas faz com que muitos na democrática Taiwan se perguntem se o bilionário pode vir a usar seu país como moeda de troca.
A cientista política Shi Yinghong, da Universidade Renmin, em Pequim, acredita que, nesse ponto, a China não pode confiar totalmente no presidente dos Estados Unidos. "Trump pode mudar de ideia rapidamente e reforçar por exemplo, a venda de armas para Taiwan", pondera.
Disputas sobre Mar da China Meridional
As reivindicações da China no Mar da China Meridional e sua decisão controversa de construir em ilhas e recifes disputados por outros governos regionais, incluindo instalações militares, provocaram severas críticas de Washington. Pequim reclama para si mais de 80% da área, afirmando que ela historicamente pertence ao país.
Diversos membros do governo Trump, incluindo o secretário de Estado, Rex Tillerson, alertaram Pequim para que não jogue seu peso sobre a região, insistindo que os EUA podem intervir, se necessário, para preservar na localidade os direitos internacionais de navegação.
Direitos humanos
Os direitos humanos têm sido há muito tempo também um ponto de conflito nas relações sino-americanas. Quando Trump tomou posse, muitos dissidentes chineses pensaram que ele poderia estar disposto a assumir uma linha dura contra Pequim em torno da questão. Mas o presidente – que elogiou a atuação chinesa da repressão da Praça da Paz Celestial em uma entrevista de 1990 – até agora demonstrou pouco interesse no assunto.
A Casa Branca garantiu, porém, que o tema "continuará a ser levantado na relação", mas ativistas de direitos humanos estão preocupados, afirmando que a administração Trump já perdeu várias oportunidades para destacar os abusos de Pequim. Segundo eles, sem a pressão dos EUA, os problemas tendem a piorar.
MD/afp/dw