"Telhados verdes": pequenos pulmões para grandes cidades
12 de novembro de 2005"De fato, as áreas verdes do município do Rio de Janeiro somam 27,51% do total da área da cidade. Considerando que o índice de área verde ideal para cada ser humano é de 12m2/habitante, o Rio estaria muitíssimo bem, com nada menos que 57,4m2/habitante. No entanto, observa-se a presença de ‘ilhas de calor’ em determinados pontos da cidade, provocadas pela falta de vegetação. Por mais que se tenha uma área verde dentro de um município, sua concentração em determinadas regiões só é benéfica para quem mora próximo", explica a arquiteta Sylvia Rola, que desenvolve na Universidade Federal do Rio de Janeiro um projeto de pesquisa sobre sistemas de naturação.
Naturação sob condições tropicais
Um procedimento amplamente disseminado em países escandinavos, os "telhados verdes" têm uma longa história também na Alemanha. E vão, aos poucos, conquistando adeptos na América Latina. O México, por exemplo, é um país onde a implantação de jardins nos telhados das edificações das grandes cidades desperta enorme interesse e aceitação.
"No momento, o governo mexicano estuda a criação de leis que regulamentam a naturação em grande escala", conta Christel Kappis, especialista do Instituto de Ciências Agrárias e Projetos em Ecologia Urbana da Universidade Humboldt de Berlim.
Além do México, os telhados verdes começam a surgir também na Bolívia (em La Paz, os primeiros projetos estão em andamento) e em Cuba, onde pesquisadores buscam soluções específicas para a naturação sob condições tropicais.
Materiais nacionais
No caso brasileiro, conta Rola, a naturação ainda "é tímida, pois várias são as incógnitas a respeito de sua adaptação à realidade biotecnológica brasileira. O principal ponto de estudo é a possibilidade de se montar um sistema usando materiais e plantas tipicamente brasileiros. Isso porque, se o impermeabilizante for importado, já inviabiliza economicamente sua aplicação em grande escala".
Visando fomentar o intercâmbio científico em relação aos "telhados verdes", foi criada pela Universidade Humboldt de Berlim, com financiamento da União Européia, uma rede de cooperação entre instituições acadêmicas dos dois continentes. No projeto estiveram envolvidos pesquisadores de universidades da Alemanha, Brasil, Espanha, Grécia, Bolívia, Cuba, México e Equador.
Grupos internacionais e plataforma na internet
Através de experimentos práticos (learning by doing), foram criados grupos de trabalho voltados para a pesquisa sobre o melhor tipo de vegetação a ser utilizado em cada "telhado verde nacional". Desde então, conta Kappis, existe um intercâmbio informal entre especialistas de todas essas universidades.
Com apoio técnico da Universidade Humboldt, por exemplo, foi formada a Rednatur (Red Latinoamericana de Naturación). A idéia é criar ainda uma plataforma na internet, na qual poderão ser publicados os resultados das pesquisas relacionadas à naturação nos dois continentes.
Criação de corredores verdes
As vantagens dos "telhados verdes" para o espaço urbano são diversas, diz Rola: "O sistema de naturação vem como uma alternativa real para sanar não só problemas como as ilhas de calor, mas também de poluição atmosférica, redução do calor transmitido para o interior das edificações. A naturação urbana trata de transformar em biótopos os edifícios e espaços urbanos, a fim de que, unidos através de corredores verdes, eles facilitem a circulação atmosférica e melhorem o microclima da cidade".
Utéis no frio e no calor
Além de reduzirem o consumo de energia, provocando um decréscimo no uso do ar condicionado em regiões quentes, os telhados verdes também são capazes de isolar o frio em regiões com invernos rigorosos.
Sob um telhado coberto de vegetação, as baixas temperaturas demoram mais para chegar aos espaços internos. Um fato de pouca ou nula importância para o Brasil, mas essencial para os países europeus e para determinadas regiões montanhosas no México e na Bolívia.
O aumento do volume de plantas no espaço urbano, explica a pesquisadora Rola, acaba afetando de forma benéfica o microclima das cidades. Além disso, para as regiões de chuva intensa, as áreas naturadas podem servir de retentoras da água de chuva, prevenindo, desta forma, a ocorrência de enchentes.
E esta retenção significa uma economia para o consumo de água, uma vez que se garanta a potabilidade desta água, através dos devidos sistemas de coleta e armazenamento.
Custos e cuidados
Um dos problemas vistos pela população em geral em relação aos "telhados naturados" são os cuidados exigidos para que eles se mantenham em funcionamento. Quando se fala em área verde sobre uma edificação urbana, por exemplo, pensa-se automaticamente em jardins ou terraços, usados como "ilhas verdes" em meio às selvas de concreto.
"Tais jardins são possíveis, mas requerem muito trabalho para serem criados e cuidados, além de serem relativamente caros", observa a especialista Kappis.
Para este tipo de "telhado intensivo", tanto o processo de impermeabilização quanto o de drenagem são bastante onerosos. "Nos projetos de pesquisa na América Latina, nós nos especializamos em outro tipo de telhado naturado, ou seja, nos chamados sistemas de vegetação extensiva", diz Kappis.
"Telhados extensivos"
Estes sistemas, que requerem menos cuidados no dia-a-dia, são freqüentemente tidos como "pouco estéticos". Embora possam passar a imagem de um mato desordenado, defende a pesquisadora alemã, "o sentido e o objetivo deste tipo de sistema estão menos no uso destes espaços como jardins, mas principalmente no alto potencial destas áreas na produção de efeitos ecológicos".
Feios ou não, os "telhados verdes extensivos" contribuem para a redução do efeito de poluentes, mostrando-se como uma das poucas alternativas viáveis a serem desenvolvidas para melhorar a qualidade do ar em espaços urbanos densamente habitados.
Futuro na América Latina
Disseminada em países como a Alemanha e a Espanha, a naturação tem certamente um futuro promissor no Brasil. "Acreditamos que a consciência ambiental vai se solidificar também em países latino-americanos. Principalmente quando se podem sentir os efeitos econômicos de procedimentos como a naturação", conclui Christel Kappis.
Para isso, pesquisadores se debruçam sobre o tema dos dois lados do Atlântico. "Buscando respostas às demandas ambientais e tentando redirecionar as cidades para o desenvolvimento sustentável. Para que se possa criar uma maior integração entre espaço urbano, cidadão e natureza", finaliza a arquiteta Sylvia Rola.