Talibã interrompe protesto de mulheres em Cabul
4 de setembro de 2021O Talibã dispersou neste sábado (04/09) com gás lacrimogêneo e tiros para o ar uma marcha pacífica de mulheres afegãs em Cabul.
Dezenas de mulheres saíram as ruas pelo segundo dia consecutivo para protestar por seus direitos e por participação no governo. As manifestantes gritavam frases como "Vocês não têm legitimidade sem os direitos das mulheres", "Não somos as mulheres de 20 anos atrás" e "Igualdade, justiça, democracia", direcionados ao governo do Talibã.
O protesto começou com 50 mulheres marchando em direção ao palácio presidencial. Uma das participantes, Razia Barakzai, de 26 anos, disse à rede Al Jazeera que as mulheres foram detidas perto da entrada do Ministério das Finanças, onde o Talibã as "cercou" e as impediu de continuar a marcha em direção à entrada do palácio.
Segundo ela, o Talibã usou spray de pimenta e gás lacrimogêneo para tentar dispersar a multidão. "Estivemos calmas e pacíficas o tempo todo, mas eles só queriam nos parar a qualquer custo", disse ela à Al Jazeera. Vídeos da internet mostram uma mulher ferida na cabeça.
"Não ficaremos trancadas em casa”
A marcha deste sábado foi a quarta nos últimos dias nas cidades de Cabul e Herat.
Em entrevista à agência de notícias Efe, uma mulher que preferiu permanecer no anonimato disse que, se cinco ou mais mulheres se reunirem em um local, são dispersadas pelos talibãs.
Uma das organizadoras da marcha desse sábado, Samira Khairkhwa, disse, também à Efe, que as mulheres pretendem pedir aos talibãs "uma participação significativa em todos os aspetos da vida cotidiana, incluindo na tomada de decisões e na política".
"Até que os talibãs aceitem as nossas exigências, não ficaremos caladas, nem nos trancaremos em casa", declarou.
Promessa de mulheres no governo
Após assumir o poder no Afeganistão, o Talibã prometeu que faria um governo "inclusivo", representando todas as etnias e tribos do país. No entanto, os líderes fundamentalistas pediram às mulheres para esperarem pelas novas diretrizes. As funcionárias públicas serão pagas mesmo estando em casa.
As afegãs defendem que nos últimos 20 anos alcançaram grandes avanços nas áreas de direitos humanos e educação e que merecem trabalhar como ministras, diretoras e em outros postos governamentais.
O porta-voz do Talibã, Bilal Karimi, disse na sexta-feira à Efe que "todos os afegãos, incluindo as mulheres, terão os seus direitos no futuro governo, mas o nível de participação das mulheres na política é algo que será decidido e ficará claro quando se forme o novo governo".
No entanto, Barakzai disse que as mulheres ainda não viram nenhuma prova desse compromisso e que, quando tentaram se encontrar com o Talibã para tratar das questões dos direitos e da participação no governo, foram rejeitadas.
"Eles inventavam desculpas de que não tínhamos a papelada certa ou que não estávamos lá na hora certa, mas parece que eles não querem falar conosco", afirmou.
le (efe, lusa, ots)