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Políticos alemães já temem nova onda de refugiados

18 de agosto de 2021

Líderes da Alemanha e da Europa querem evitar fluxo migratório como o de 2015, quando mais de um milhão de pessoas chegaram ao continente. Crise no Afeganistão pode ter forte influência nas eleições alemãs.

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Pessoas aguardam atrás de cerca de arames farpados no aeroporto de Cabul. Após tomada de poder pelo Talibã, milhares de afegãos tentam deixar o país
Após tomada de poder pelo Talibã, milhares de afegãos tentam deixar o paísFoto: AP/picture alliance

Antes mesmo que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pudesse dizer qualquer coisa sobre os eventos dramáticos ocorridos nos últimos dias no Afeganistão, vários de seus compatriotas já alertavam sobre o que a tomada de poder pelo Talibã no país da Ásia Central poderá significar para a Alemanha.

"Os erros cometidos durante a guerra civil da Síria não podem ocorrer novamente", afirmou Armin Laschet, candidato da coalizão de centro direita entre a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, e sua tradicional aliada na Baviera, a União Social Cristã (CSU), nas eleições gerais na Alemanha.

"2015 não pode se repetir”, disse Laschet. Ele se referia ao ano em que mais de 1 milhão de refugiados chegaram à Europa, fugindo de conflitos em seus países de origem. A maior parte era formada por cidadãos sírios, muitos dos quais encontraram abrigo na Alemanha, após o célebre comentário de Merkel "Wir schaffen das!" ("conseguiremos”), que resultou na manutenção da abertura das fronteiras do país.

Aqueles acontecimentos deixaram marcas duradouras na política alemã, com o país se desdobrando para lidar com questões de imigração e integração. Apesar da boa acolhida aos refugiados em 2015, os sentimentos anti-imigração ajudaram a transformar o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD)  em uma força política nacional.

Nas eleições de 2017, a AfD se tornou a maior sigla de oposição no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão). Após o êxito do Talibã no Afeganistão e as cenas dramáticas que se seguiram, o partido adotou a mesma frase utilizada por Laschet sobre uma provável onda de refugiados rumo ao país: "não podemos permitir que 2015 se repita”, disse a líder do partido Alice Weidel. "Refugiados de verdade devem ser ajudados em suas próprias regiões, se possível.”

Algumas vozes mais moderadas também defendem a ideia de fornecer apoio aos países geograficamente mais próximos do Afeganistão, para que possam acolher os refugiados. Entre estas, a própria Angela Merkel. "Acima de tudo, precisamos ajudar os países vizinhos, caso venham os refugiados afegãos”, afirmou a chanceler.

Merkel sobre o Afeganistão: "Erramos ao avaliar a situação"

Seu vice, o candidato do Partido Social-Democrata (SPD) nas eleições gerais, Olaf Scholz, afirmou que Turquia, Paquistão, Irã e Iraque podem se tornar locais de reassentamento de refugiados afegãos.

Ele afirmou que a Alemanha deve "assegurar imediatamente que existam perspectivas de integração por lá; que as pessoas possam ficar lá e possam ter um futuro seguro”, disse Scholz. 

A candidata do Partido Verde, Annalena Baerbock, disse que ao invés de esperar que todas as 27 nações da União Europeia (EU) cheguem a um acordo sobre o que deve ser feito, "bastaria trabalhar com os países europeus que querem fazer algo, e especialmente, junto aos americanos e canadenses”.

Com as incertezas em torno do resultado das eleições alemãs, qualquer tema mais controverso pode reverter tendências eleitorais e se tornar decisivo para a formação do novo governo.

Nos últimos anos, a questão da imigração não ocupou as manchetes dos jornais como no passado, mas se manteve como uma das maiores preocupações entre os eleitores.

UE prepara "resposta robusta” a possível onda de migrantes

Os ministros do Exterior da União Europeia realizaram uma reunião de emergência para avaliar as consequências da mudança de poder no Afeganistão, e os temores de que um novo regime autoritário islamista possa gerar um êxodo rumo aos países europeus.

O ministro alemão, Heiko Maas, disse que ele e seus colegas discutiram medidas para o apoio mútuo na retirada de cidadãos europeus e colaboradores locais no país, além de formas de manter a estabilidade na região e debater sobre como lidar com o Talibã.

Muitos países europeus temem um fluxo de refugiados nos moldes de 2015. Desde aquele ano, segundo estimativas da UE, 570 mil afegãos entraram com pedidos de asilo.

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que seu país, assim como a Alemanha e outros parceiros europeus, trabalhariam juntos em uma "resposta robusta” a uma possível onda de migrantes não autorizados.

Segundo afirmou, este seria um esforço conjunto que envolveria os países através dos quais os afegãos teriam de passar, incluindo a Turquia.

rc (DW, AP)