Stuttgart, a Pequim da Alemanha
21 de janeiro de 2016Nos últimos dias, jornais alemães têm chamado Stuttgart de "a capital alemã da poluição atmosférica". São feitas até mesmo comparações com a capital chinesa, Pequim, que há meses é manchete por conta da poluição.
De fato, Stuttgart é a cidade alemã onde a concentração de partículas finas no ar excede o limite legal durante mais dias por ano. Em 2014, foram 64 dias.
Agora, a qualidade do ar se tornou tão perigosa para a saúde humana que, no início desta semana, as autoridades locais lançaram o primeiro alerta de poluição já emitido no país. A orientação foi que os cidadãos deixassem o carro em casa e usassem caronas ou transporte público.
No meio da semana, o pedido mostrou não resultar em qualquer melhoria da qualidade do ar. O prefeito de Stuttgart, Fritz Kuhn, do Partido Verde, afirmou à mídia alemã que o alerta ainda não influenciou o tráfego de veículos na cidade.
Concentrações de partículas finas – com menos de 10 micrômetros (μm) de diâmetro – superiores a 40 microgramas por metro cúbico são prejudiciais à saúde humana, determina a União Europeia. Nesta terça-feira, as autoridades mediram 89 microgramas por metro cúbico em Stuttgart.
Exemplos mundo afora
Outras cidades no mundo impõem uma proibição a certos veículos para controlar a qualidade do ar, como São Paulo. Na metrópole brasileira, veículos são impedidos de circular nos horários de pico de acordo com o final da placa e o dia da semana.
Paris proibiu a circulação nas ruas da metade de todos os carros por algum tempo em 2014. Carros com placas ímpares ou pares foram autorizados a trafegar em dias alternados.
Já Londres introduziu uma "taxa de congestionamento" para a condução diurna de um veículo na cidade nos dias úteis. Nova Déli, por sua vez, proibiu recentemente todos os táxis a diesel de trafegar, num esforço para reduzir a poluição atmosférica.
Autoridades alemãs, por outro lado, enfatizam que as pessoas deveriam rodar menos com seus veículos de forma voluntária.
"Se isso não for suficiente, vamos ter que pensar em outra coisa", afirmou Winfried Kretschmann, governador do estado de Baden-Württemberg, do qual Stuttgart é capital. Ele acrescentou que proibições e imposições devem ser usadas com moderação.
O prefeito de Stuttgart disse acreditar ser uma boa abordagem convencer os cidadãos a participar de forma voluntária da redução do tráfego. Mas uma restrição de circulação poderá ser introduzida em 2018 se a situação não melhorar, acrescentou.
"Medida placebo"
Ambientalistas rejeitam as ações tomadas pela administração de Stuttgart, particularmente as de natureza voluntária. "Isso é apenas uma medida placebo", afirmou Jürgen Resch, presidente da organização ambiental alemã Deutsche Umwelthilfe, em entrevista à DW.
"A qualidade do ar em Stuttgart é a pior da Alemanha há 10 anos", disse. Resch criticou as medidas voluntárias introduzidas pela cidade, que devem ser mantidas por dois anos.
Muitos trabalhadores que moram num município e viajam para outro para trabalhar não usam seus carros porque querem, mas porque precisam, afirmou Daniel Moser, especialista em tráfego do Greenpeace.
"As pessoas das áreas periféricas de Stuttgart dependem de seus carros. Muitas vezes, elas não têm alternativa", afirmou, acrescentando que os políticos são responsáveis pela melhoria do transporte público.
De acordo com Resch, recentes medidas das autoridades até mesmo pioraram a situação. "Instalaram um enorme estacionamento nos arredores de Stuttgart, com ônibus que seguem em direção ao centro da cidade", afirmou Resch, acrescentando que esse sistema não está sendo usado pelos motoristas. "Os ônibus estão vazios, emitindo cada vez mais partículas finas."
Ambientalistas como Resch acreditam que veículos a diesel deveriam ser banidos da cidade – "com apenas algumas exceções, como os ônibus".
Para proteger a saúde dos moradores, eles acreditam que apenas os ônibus a diesel que cumprem rigorosamente os limites de emissão chamados de "Euro 6" – que são obrigatórios em alguns países, mas não na Alemanha – deveriam ser autorizados a circular na cidade.
Stuttgart, "cidade do carro"
Como é possível que a poluição atmosférica alcance tal gravidade numa cidade da Alemanha, país visto internacionalmente como precursor em termos de proteção ambiental?
De acordo com Resch, as autoridades alemãs evitam restrições e leis porque "eles estão com medo da indústria automobilística". Por muitas vezes, refere-se a Stuttgart como a "cidade do carro", que abriga as sedes das montadoras Daimler e Porsche.
"A Alemanha só tem uma imagem verde porque a poluição do ar é ainda pior em outros países", afirma Moser.
A qualidade do ar de Stuttgart ameaça a saúde humana por mais de 60 dias por ano. Em média, porém, a qualidade do ar na cidade é muito melhor do que em muitos outros lugares ao redor do mundo – como Pequim, Nova Déli e até mesmo Roma.
De acordo com a legislação da União Europeia, as cidades não podem exceder o limite de 40 microgramas por metro cúbico mais de 35 vezes ao ano. Assim como Stuttgart, outras cidades alemãs, como Leipzig, violam essa norma.
Organizações ambientais, incluindo a Deutsche Umwelthilfe, entraram com ações judiciais contra estados na Alemanha para tentar forçá-los a cumprir as regras de poluição atmosférica previstas pela União Europeia.
Uma melhoria da qualidade do ar de Stuttgart está prevista para os próximos dias, porém, em forma de chuva no fim de semana. A cidade se localiza numa bacia e, dependendo do clima, a poluição do ar proveniente das emissões de automóveis se acumula – exatamente o que provocou o alerta recente.
Quando chove, as gotas de água se combinam com as pequenas partículas poluentes no ar, levando-as para o sistema de esgoto da cidade. Até que o smog volte a se formar.