Resgate grego
16 de junho de 2011O balanço após um ano de ajuda à Grécia é devastador: as duras medidas implementadas pelo governo grego não foram suficientes para alcançar as metas de consolidação orçamentária e o rombo no orçamento de 2010 foi avaliado em 10% do PIB, mais de um ponto percentual acima do planejado. O endividamento estatal subiu e equivale agora a 150% do PIB. A tendência é que continue subindo.
Para diminuir a montanha de dívidas, o governo grego necessita de mais dinheiro, ou seja, precisa elevar a arrecadação de impostos. Mas isso só é possível com o crescimento da economia e com um melhor combate à sonegação fiscal, uma prática disseminada no país. Segundo a troika que analisa a situação da Grécia para definir a ajuda necessária (composta por FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), nenhuma das duas opções é alcançável no curto prazo.
Diante desse cenário, cada vez mais especialistas defendem a chamada reestruturação "dura" da dívida. Em outras palavras: o Estado declara falência e é imposto um corte da dívida. Detentores de títulos de dez anos perderiam cerca de 40% do valor aplicado. Para alguns especialistas, como o chefe do instituto econômico alemão Ifo, Hans Werner Sinn, essa é a solução mais adequada. Afinal os investidores já ganharam muito dinheiro e sabiam dos riscos na hora de investir, argumenta.
Outros analistas rejeitam com veemência essa opção. "Isso reduziria o valor da dívida, mas teria consequências dramáticas para o país, e tudo indica que significaria enormes riscos para os mercados financeiros em toda a Europa", afirmou o economista Rolf Schneider, da seguradora Allianz.
Ele diz temer principalmente o risco do contágio de outros países da zona do euro, como Irlanda, Portugal ou até mesmo a Espanha. Além disso, os bancos teriam prejuízos bilionários, uma má notícia para um setor já debilitado na Europa. Também a chanceler federal alemã, Angela Merkel, é contra a chamada reestruturação "dura" e defende uma reestruturação "branda" da dívida grega, na qual credores trocariam voluntariamente seus atuais títulos da dívida de vencimento mais curto por outros com vencimento de longo prazo.
Reestruturação "branda"
Esse plano, porém, tem alguns pontos fracos. Em primeiro lugar, não é certo que os credores vão concordar com a troca voluntária. Em segundo, essa opção daria mais tempo à Grécia, mas pouco ajudaria a diminuir o valor da dívida. Cálculos do banco Credit Suisse indicam que uma prorrogação dos vencimentos em cinco anos traria uma redução de apenas 4% do montante.
Além disso, nada garante que a troca voluntária de títulos não vá também causar turbulências nos mercados financeiros. As agências de classificação de risco Standard & Poor's e Moody's já anunciaram que classificariam uma reestruturação voluntária da dívida como default (calote).
Outro argumento a favor da reestruturação "dura" é que ela afetaria principalmente bancos gregos, ou seja, não seria sistêmica. Por isso, o economista-chefe do Deutsche Bank, Thomas Mayer, defende que seja encontrada uma solução de resgate para os bancos gregos. "Muito provavelmente os bancos gregos não são relevantes para o sistema bancário da zona do euro nesse contexto", afirmou.
Mesmo a possibilidade de ficar durante anos afastada dos mercados financeiros não seria necessariamente desvantajosa para a Grécia, opina Meyer. "Isso significaria que, provavelmente até 2025, talvez até por mais tempo, os gregos não teriam que fazer pagamentos aos mercados de capitais."
Poço sem fundo
De uma forma ou de outra, a União Europeia terá de ajudar a Grécia. Um novo pacote, que pode chegar a 120 bilhões de euros, está sendo debatido. Para o economista-chefe do alemão Postbank, Marco Bargel, esse é o melhor caminho, pois só assim os demais países-membros têm a chance de recuperar integralmente o dinheiro que já deram para a Grécia.
Pré-requisito para isso é que a Grécia utilize o tempo que ganhar com os pacotes de ajuda e que as reformas estruturais a serem implementadas no país mostrem resultado dentro de dois ou três anos. Do contrário, a Grécia se tornará um poço sem fundo para o contribuinte europeu.
Autor: Zhang Danhong (as)
Revisão: Rodrigo Rimon