Social-democratas decidem manter Schröder no partido
8 de agosto de 2022O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) decidiu não expulsar o ex-chanceler federal alemão Gerhard Schröder de seus quadros. Com o início da guerra na Ucrânia em fevereiro, cresceram entre os partidários da legenda críticas contra Schröder por seus laços estreitos com o Kremlin e o setor de energia russo, e muitos pediram o término da filiação de Schröder ao SPD.
O destino de Schröder dentro do partido – a mesma legenda do atual chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz – foi decidido por um comitê de arbitragem na cidade de Hannover, no norte do país, nesta segunda-feira (08/08).
O comitê ponderou a decisão por várias semanas depois de ter recebido 17 moções para a expulsão de Schröder, protocoladas por diferentes organizações regionais do partido. Schröder não compareceu pessoalmente às audiências e não enviou um advogado.
O órgão disse que seria "incompatível com a filiação ao SPD" defender uma guerra de agressão a outro país ou justificar a invasão de um país, mas ressaltou que Schröder não havia feito isso, e que seria "desejável e apropriado" que o ex-chanceler adotasse uma posição mais clara sobre o tema, contudo sua relação de amizade com o presidente russo, Vladimir Putin, e seus laços com estatais russas não eram em si uma violação do estatuto.
A decisão tomada pelo comitê do partido ainda pode ser questionada por recurso no prazo de duas semanas.
Por que Schröder tem sido alvo de críticas?
Schröder foi chefe de governo da Alemanha de 1998 a 2005, e após deixar o governo assumiu diversos cargos em empresas russas, que lhe valeram acusações de atuação como lobista.
Em 2017, ele foi nomeado presidente do conselho de supervisão da estatal russa de energia Rosneft – uma posição da qual abriu mão em maio, após ceder à pressão na Alemanha. Ele também rejeitou uma indicação ao conselho da empresa russa de energia Gazprom. Mas Schröder faz parte do comitê dos acionistas da companhia do gasoduto Nord Stream, além de continuar cadastrado como presidente administrativo da sociedade anônima Nord Stream 2.
Embora Schröder tenha dito que a Rússia cometeu um erro com sua guerra na Ucrânia, ele se recusou a condenar seu amigo Putin. Em entrevista recente ao jornal New York Times, o social-democrata de 78 anos praticamente defendeu o chefe do Kremlin das acusações de crimes de guerra, ao especular que a ordem para o massacre em Bucha não teria partido dele, mas sim de oficiais de escalão mais baixo. Na Rússia, o social-democrata alemão é enaltecido como o "salvador da Europa".
Reunião com Putin
Na semana passada, após ter se reunido com o líder russo, Schröder defendeu que fossem abertas negociações com Putin. "A boa notícia é que o Kremlin quer um acordo negociado", disse. Ele também instou Berlim a reconsiderar sua posição sobre o gasoduto Nord Stream 2, que está pronto para transferir gás para a Europa, mas não recebeu autorização do governo alemão para entrar em operação.
No domingo, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse ser "repugnante" que ex-líderes europeus trabalhem para a Rússia, numa aparente referência aos comentários de Schröder. "É simplesmente repugnante quando ex-líderes de Estados poderosos com valores europeus trabalham para a Rússia, que está lutando contra esses valores", disse Zelenski em dicurso gravado em vídeo, sem mencionar diretamente o ex-chanceler alemão.
Há muito, a cena política de Berlim se distanciou do antigo chefe de governo. O Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) decidiu em maio remover uma série de privilégios que Schröder tinha por ter sido chanceler federal, como motoristas e funcionários.
pv/bl (dpa, APF, EFE, ots)