Sob as barbas de Marx
22 de fevereiro de 2017A barba tem de ser cortada, ao menos simbolicamente. Essa foi uma exigência do diretor haitiano Raoul Peck. E a barba em questão é a de Karl Marx. Peck é o diretor de O jovem Karl Marx, filme sobre a juventude do filósofo alemão cuja estreia mundial aconteceu no último domingo (12/02) na 67ª Berlinale, o Festival de Cinema de Berlim.
"A velha barba encobre não somente o rosto de Marx. No ano de 2017, ela também obscurece a possibilidade de uma discussão e uma reflexão cuidadosa", diz Peck, para quem, diante da arrebatadora barba de Karl Marx, esqueceu-se do cerne de sua mensagem. "Isso impede de descobrir a real contribuição deste pensador científico e político, seu extraordinário poder de análise, seus esforços humanísticos, suas preocupações legítimas."
No filme, Peck mostra o curto, mas intenso período que antecedeu à publicação do Manifesto Comunista no ano de 1848. Na época, com pouco mais de 20 anos, Marx conheceu em Paris Friedrich Engels, o filho de um industrial de Wuppertal, que trazia consigo uma rica experiência da Inglaterra. Em Manchester, seu pai tinha uma tecelagem.
Marx e Engels ficaram amigos. Junto a Jenny, esposa de Karl Marx, os jovens desenvolveram o Manifesto Comunista. O texto deveria reunir tudo o que os três consideravam importante observar numa época de grandes mudanças sociais.
"O filme acompanha a juventude de Marx e Engels, delineia a amizade inabalável entre os dois e mostra como um trio único nasce a partir das dificuldades que eles viveram durante a sua turbulenta juventude", descreve Peck a sua obra.
O diretor recriou a atmosfera do período febril da industrialização na Europa dos anos 1840: "Fábricas da indústria pesada na Inglaterra, a miséria extrema e a sujeira nas ruas de Manchester e, em contraste, o calor dourado dos palácios parisienses, a energia de uma juventude que quer mudar o mundo."
Paris e Manchester como cenários
Peck rodou um filme histórico. Karl Marx é interpretado pelo ator alemão August Diehl; Friedrich Engels, por Stefan Konarske, e Jenny Marx, por Vicky Krieps. A Paris do século 19, como também a tecelagem na Inglaterra, servem de cenário para um filme encenado de forma um pouco antiquada, em estilo televisivo excessivamente impecável.
De qualquer forma, talvez o tema do filme seja mais importante que experimentos estéticos e a cinematografia. No 100° aniversário da Revolução Russa e num mundo vivendo um período entre a globalização e novos pensamentos nacionalistas, ocupar-se de Marx vem na hora certa. Mesmo sob a forma de um filme de apelo popular, que mostra a um grande público como se chegou ao famoso manifesto.
Após a estreia no 67° Festival de Cinema de Berlim, na série Berlinale Special, o filme de Raoul Peck poderá ser visto na Alemanha a partir do início de março. No Brasil, a estreia nos cinemas está prevista para meados de junho.