Sistema Google para localizar epidemias tem armadilhas
20 de fevereiro de 2013"A atividade da gripe continua muito alta na Alemanha", divulgou em meados de fevereiro o website do Instituto Robert Koch (RKI), responsável pelo controle e prevenção de doenças no país. Após circular nos Estados Unidos em dezembro, a gripe agora se encontra também na Alemanha. Toda semana pesquisadores do instituto analisam dados coletados junto a 700 médicos do país. A intenção é caracterizar doenças e melhorar as vacinas. As informações são, então, publicadas com atraso de alguns dias.
As informações sobre surtos de gripe oferecidas pelo Google, por outro lado, são supostamente diárias. A máquina de busca avalia com que frequência certas palavras são consultadas, e apresenta a informação compilada em forma de gráfico, num site criado especialmente para o projeto, o Flu Trends (Tendências de gripe).
"A meu ver, trata-se de um projeto absolutamente bem-sucedido", diz Martin Memmel, do Centro Alemão de Pesquisa da Inteligência Artificial (DFKI). "É uma utilização clássica da inteligência coletiva, e possivelmente se poderá detectar uma epidemia com até uma semana de antecedência".
"Febre de Bieber"?
O projeto Flu Trends começou com o Google cotejando seus próprios dados sobre as buscas envolvendo a palavra "gripe" com os diagramas dos centros de prevenção e controle de doenças na Europa e nos Estados Unidos. O resultado foi que há "fortes analogias".
A partir dessa constatação, funcionários do gigante informático desenvolveram um modelo que ajuda a apresentar estatísticas diariamente atualizadas sobre a gripe nos EUA, Canadá, Europa e Japão. A ferramenta também está disponível para outros países, como o Brasil, Rússia, México e África do Sul, mas, segundo a Google, trata-se então de "estimativas experimentais".
"É claro que os dados são interessantes", diz Susanne Glasmacher, do Instituto Robert Koch. "Mas nós não sabemos por que as pessoas buscam palavras como ‘gripe'". Ela lembra que, por exemplo, o Flu Trends acusou um pico quando a gripe aviária estava nas manchetes, mas na Alemanha não houve um único caso da doença entre humanos. Da mesma forma, segundo a revista Nature, o Google superestimou as proporções do atual surto de gripe nos EUA.
Apesar de casos como esses, os pesquisadores do RKI também estão trabalhando com recursos de mídia social. No ano passado, foi concluído o primeiro teste com um sistema de alerta precoce baseado em dados do Twitter. O teste mostrou que, em certos casos, epidemias podem teoricamente ser descobertas de forma mais rápida com a ajuda do microblog do que através de métodos convencionais. Esse foi, por exemplo, o caso do surto de cólera no Haiti, diz Glasmacher.
Em contrapartida, o uso de palavras como fever (febre) em outros contextos é uma fonte de problemas. O fato de os fãs do cantor pop Justin Bieber costumarem usar a expressão "Bieber fever" (febre de Bieber) para exaltá-lo no Twitter, bastaria para distorcer os números coletados.
Polindo a imagem
O serviço do Google não é capaz de substituir os meios tradicionais para o monitoramento de doenças. Isso, até os próprios funcionários da empresa reconhecem. O projeto, no entanto, pode ser visto como um ponto de partida para o desenvolvimento de outras ferramentas. Prever tendências é interessante para qualquer companhia, observa Memmel. O DFKI também desenvolve projetos em que dados de dispositivos móveis desempenham um papel especialmente importante.
"Assim a localização será mais fácil", comenta o especialista, que revela estar trabalhando em colaboração com a polícia. Sua visão de futuro é que se poderá reagir de forma diferente a situações de pânico em massa e outras catástrofes, se as autoridades estiverem em condições de avaliar rapidamente as informações enviadas pelas pessoas no local.
Até que haja novas ideias e aplicações, as projeções do Google sobre surtos de gripe são, pelo menos, boa publicidade para a gigante da internet e um "polimento" para a sua imagem. Segundo Memmel, "não vai dar muito trabalho, se o algoritmo já estiver configurado".
Autor: Julia Mahncke (rpr)
Revisão: Augusto Valente