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Ser gay e muçulmano. Em Berlim

(sv)27 de setembro de 2004

A Alemanha é considerada um país aberto em relação aos homossexuais. Uma campanha informativa em Berlim tenta despertar a atenção de imigrantes jovens e suas famílias para o assunto.

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Cartazes e painéis inusitados estão chamando a atenção nas ruas de Berlim. O que à primeira vista poderia ser confundido com uma mera peça publicitária de jeans, estampa com todas as letras: "Kai é gay. Murat também. Eles estão com a gente. Sempre". Kai é um nome tipicamente alemão. Murat um típico nome turco.

Desenvolvida pela Federação Alemã de Gays e Lésbicas, a campanha tem como objetivo trazer a discussão sobre o homossexualismo para dentro dos redutos de estrangeiros no país, principalmente de turcos, que formam em Berlim uma comunidade com mais de 120 mil imigrantes. E exatamente entre os grupos de muçulmanos, a sexualidade costuma ser um tema considerado tabu.

"Como reagir?"

Embora vivendo num país que não alimenta, via de regra, preconceitos contra o homossexualismo, para muitos imigrantes "sair do armário" é com freqüência problemático. Segundo Bali Saygili, porta-voz da Federação Alemã de Gays e Lésbicas, a campanha de esclarecimento já surtiu efeitos.

Nos primeiros dias, o escritório da organização recebeu uma série de telefonemas de pessoas buscando informação. Tanto dos próprios jovens, quanto de familiares. "Tivemos casos de pais nos dizendo 'meu filho acabou de me contar que é gay, como reagir' ou outros perguntando como reaver o contato com o filho, quebrado quando este assumiu seu homossexualismo", conta Saygili.

Os doze mil cartazes e 50 painéis estão espalhados por várias regiões de Berlim, em locais que incluem tanto pontos de encontro de turcos quanto postos policiais. Erin Ünsal, da Associação Turca de Berlim e Brandemburgo, que também apóia a campanha, diz que apesar do silêncio da comunidade turca em relação ao homossexualsimo, a situação hoje é bem melhor do que era.

"Há alguns anos, não se poderia nem falar sobre o assunto. O tema era um tabu absoluto, mas tenho a impressão de que isso está melhorando. É claro que ainda não é suficiente, mas a campanha tem ajudado a comunidade turca a se abrir. É claro que há também críticas, mas tem havido muitas reações positivas", observa Ünsal.

Dificuldades para "sair do armário"

LSVD-Poster
Cartaz da campanha informativa: "Kai é gay. Murat também"

A conduta de pais ou parentes em relação aos jovens homossexuais pode, em alguns casos, levar até mesmo à depressão e ao suicídio, alertam especialistas. O jovem Sahin, cidadão alemão de ascendência turca, é gay, embora sua família não saiba.

"Às vezes acho muito difícil fazer esse jogo, porque é simplesmente uma mentira. E não sei quanto tempo ainda vou agüentar sem contar para minha família que sou homossexual. Mas, na hora, acabo desistindo, pois meus familiares são muito bitolados em suas atitudes. Na Turquia, o homossexualismo é omitido, embora, é óbvio, exista. E meus pais vêm de uma região muito tradicional no país. É difícil dizer a eles que o filho é homossexual", conta Sahin.

Vida dupla

Os organizadores da campanha acreditam que o esclarecimento a respeito do assunto é de importância vital para as comunidades de imigrantes. Não apenas pelo aspecto psicológico dos jovens homossexuais, mas principalmente para a própria saúde destes, com freqüência desinformados a respeito de doenças sexualmente transmissíveis.

"Um grande número de homens turcos leva uma vida dupla. Alguns são até casados e vivem sua sexualidade em segredo, nas noites", diz Birol, um turco que trabalha com grupos de imigrantes infectados com o HIV. "A ligação com a Aids é um problema. Nós gostaríamos que essas pessoas assumissem mais cedo o homossexualismo, mas esse não é o caso da comunidade turca. Pois é óbvio: ser gay e ser muçulmano é bastante problemático", conclui Birol.