Sem máscara, Bolsonaro gera aglomeração em ato no Rio
23 de maio de 2021O presidente Jair Bolsonaro participou neste domingo (23/05) de uma manifestação convocada por seus apoiadores no Rio de Janeiro que gerou grande aglomeração. Ele esteve acompanhado do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, ambos sem máscara.
A participação do presidente ocorre apenas três dias após ele ter afirmado que voltou a ter sintomas de covid-19. Em uma live na quinta-feira, Bolsonaro disse que poucos dias antes havia se sentido mal e tomado cloroquina para se prevenir da doença – estudos comprovaram que o medicamento é ineficaz no tratamento da enfermidade.
A presença do general Pazuello, por sua vez, criou um constrangimento para o comando do Exército, segundo publicou a imprensa brasileira, abrindo caminho para uma nova crise militar no governo Bolsonaro. Isso porque oficiais da ativa, como Pazuello, são proibidos de participar de manifestações políticas coletivas, de acordo com o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do Exército.
O ex-ministro da Saúde pode, portanto, ser punido pela participação no ato político. Segundo apurou o jornal O Globo, a cúpula do Exército reagiu mal à ida de Pazuello, que poderá ser pressionado a ir para a reserva após o episódio.
O protesto deste domingo contou com uma "motociata", ou carreata de motoqueiros, que teve início pouco depois das 10h e percorreu cerca de 60 quilômetros. O grupo saiu da Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, passou pela Zona Sul e encerrou o ato no Aterro do Flamengo, na região central. Várias ruas foram fechadas para a passagem de Bolsonaro.
Antes do evento, a prefeitura do Rio havia estimado a presença de 10 mil a 15 mil pessoas.
O presidente, que acompanhou o trajeto dirigindo uma moto, fez um discurso para seus apoiadores ao fim do passeio, no qual voltou a atacar as medidas restritivas para conter a pandemia de covid-19 e prometeu fazer de tudo para garantir a liberdade da população.
"Meu Exército jamais irá às ruas para manter vocês dentro de casa [...]. Nosso Exército são vocês. Mais importante do que os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, é o poder do povo brasileiro", disse ele no discurso de pouco mais de cinco minutos.
Ao lado de Pazuello em um carro de som, Bolsonaro voltou a lançar ataques contra prefeitos e governadores que impuseram medidas de lockdown em suas regiões, e reafirmou que o Brasil está na reta final da pandemia, mesmo sem apresentar dados para comprovar isso.
O isolamento social, o fechamento da economia, a restrição à circulação de pessoas e o uso de máscaras são promovidos por autoridades internacionais de saúde como algumas das medidas mais eficientes de combate ao coronavírus, e vêm sendo implementados pela maioria dos governos mundo afora.
Contudo, na contramão do resto do mundo, Bolsonaro minimizou a gravidade da doença e atacou essas medidas restritivas ao longo de toda a pandemia, preferindo, em vez disso, apostar em drogas que se comprovaram ineficazes contra o vírus, como a cloroquina.
"Temos que agradecer à nossa direita"
Durante seu breve discurso neste domingo, o presidente ainda saudou valores conservadores e criticou a esquerda brasileira.
"Temos que agradecer à nossa direita, àqueles que defendem a família, a Pátria e que têm Deus no coração", disse. "Podem ter certeza, nós vamos, sim, cada vez mais fazer com que as pessoas eleitas por vocês façam melhor. Sei da enorme responsabilidade que eu tenho, mas sei do povo maravilhoso que me apoia."
Vários motociclistas acompanharam Bolsonaro ao longo do ato, carregando bandeiras do Brasil e erguendo cartazes com pedidos de intervenção militar e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), entre outros. Segundo o jornal O Globo, dezenas de motos estavam com as numerações das placas tampadas com adesivos, fita isolante ou máscaras faciais.
Em protestos isolados, houve ainda manifestantes se expressando contra a vacinação da covid-19 e a favor da liberação da ivermectina para o tratamento da doença – um medicamento sem eficácia comprovada e defendido pelo presidente como "tratamento precoce".
CPI vai pedir esclarecimentos
A CPI da Pandemia no Senado, que investiga ações e omissões do governo federal durante a pandemia de covid-19, deverá pedir informações ao governo e à prefeitura do Rio sobre a aglomeração deste domingo, informou o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
A realização de eventos em áreas públicas segue proibida na capital fluminense, segundo um decreto da prefeitura que vale até pelo menos 31 de maio. O uso de máscaras é obrigatório no Rio.
"Vamos pedir informações do governo do estado do Rio e da prefeitura se houve autorização para este evento de hoje. Se não houve, cobraremos quais as providências serão tomadas para responsabilizar o presidente da República por conta da clara infração à ordem sanitária", afirmou Randolfe.
Na semana passada, Bolsonaro foi multado pelo governo do Maranhão por provocar aglomerações e não usar máscara durante um evento realizado no município de Açailândia.
ek (ots)