Sem mulheres, Talibã conclui governo no Afeganistão
21 de setembro de 2021O Talibã, o grupo fundamentalista islâmico que tomou o poder no Afeganistão em agosto após colapso do antigo governo do país, nomeou vários ministros nesta terça-feira (21/09). Apesar das críticas internacionais a um gabinete inicialmente formado apenas por homens, a nova liderança não incluiu nenhuma ministra e tampouco apontou uma pasta para mulheres.
O novo regime afegão havia anunciado a primeira parte do seu governo em 07/09. Na ocasião, três semanas após a tomada de poder, incluíram vários dos líderes históricos do Talibã.
A lista final de ministros mostra que os talibãs estão aplicando uma linha dura, apesar das promessas iniciais de inclusão e defesa dos direitos das mulheres. A comunidade internacional afirmou que o reconhecimento de um governo liderado pelo Talibã será condicionada pelo tratamento de mulheres e minorias.
Quando lideraram o Afeganistão no final dos anos 1990, o movimento, que segue uma rígida interpretação do Islã, proibiu meninas e mulheres de frequentarem escolas, trabalhar e frequentar a vida pública.
O porta-voz do novo regime, Zabihullah Mujahid, afirmou em coletiva de imprensa nesta terça que existe a possibilidade de incluir mulheres no governo num momento posterior. Ele não deu maiores detalhes.
Mujahid explicou também que o Talibã está preparando regras para permitir que garotas adolescentes e mulheres voltem a estudar e trabalhar de acordo com a lei islâmica Sharia, mas não definiu quando. Uma decisão recente barrou alguns grupos de meninas e mulheres de escolas e locais de trabalho por tempo indeterminado. No último fim de semana, porém, garotos com idades entre 7 e 12 anos puderam voltar às aulas.
Meninas que frequentam da primeira à sexta série podem ir à escola e mulheres que frequentam a universidade podem continuar seus estudos, mas apenas em regimes separados por gêneros e seguindo um código de vestimenta islâmico.
Apoio internacional
O Talibã busca apoio internacional num momento em que lida com os desafios de governar um país devastado por 40 anos de conflitos. O governo deposto pelo Talibã era apoiado pelos Estados Unidos e dependia de ajuda financeira internacional. Os novos líderes do Afeganistão enfrentam atualmente um derretimento da economia e pobreza crescente.
Mujahid afirmou, no entanto, que grande parte da ajuda internacional ao governo antigo – acusado de corrupção – foi gasto com o financiamento da guerra de 20 anos contra o Talibã. O porta-voz sugeriu que o país pode sobreviver sem esse auxílio e que o Afeganistão possui recursos suficientes. Não se sabe, porém, como o Talibã pretende angariar dinheiro de impostos num país que, segundo as Nações Unidas, terá 97% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza até o fim do ano.
O Talibã definiu seu governo atual como interino, sugerindo assim que ainda há mudanças possíveis, mas não disse se realizará eleições.
rk/ap/lusa