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Sem alarde, Otan eleva presença no Mar Negro

Roman Goncharenko ca
1 de março de 2019

Com aumento da presença naval no mar interior entre Europa e Ásia, Aliança Atlântica manda sinais para Moscou. Devido a acordo de mais de 80 anos, no entanto, espaço de manobra da frota é limitado.

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Destroier USS Donald Cook em sua base na Espanha
Destroier USS Donald Cook em sua base na EspanhaFoto: picture-alliance/dpa

O USS Donald Cook é um dos navios da Otan saudados em Odessa em sua passagem pelo Mar Negro. Estacionado na Espanha, o destróier americano está equipado com sistema de defesa antimísseis. Sua presença ali tem sido frequente. Em janeiro, ele aportou em Batumi para exercícios com a Guarda Costeira da Geórgia. Agora, está na cidade portuária ucraniana.

Em 26 de fevereiro, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, reuniu-se com o representante especial dos EUA para a Ucrânia, Kurt Volker. Na ocasião, disse que a reunião foi "simbólica" e que a presença do destróier em Odessa seria "um sinal importante para o Kremlin" de que a "Crimeia é ucraniana" e "a liberdade de navegação é assegurada na região".

Sem muito alarde, mas sob a observação minuciosa da frota russa no Mar Negro, a Otan está fortalecendo a sua presença no mar interior entre a Europa e a Ásia. Simultaneamente ao USS Donald Cook, a Força de Resposta Permanente Grupo 2 Caça-minas da Otan (SNMCMG 2) se encontra na região, sob o comando do navio alemão FSG Werra.

Em janeiro, o navio de desembarque USS Fort McHenry esteve no Mar Negro. Antes disso, em dezembro, o barco de reconhecimento britânico HMS Echo aportou em Odessa.

Essa movimentação é consequência dos incidentes no Estreito de Kerch, no final de novembro. Navios russos apreenderam, com o uso de força, dois barcos e um rebocador da Marinha da Ucrânia na costa da península ucraniana da Crimeia, anexada pela Rússia.

Deborah Sanders, do King's College, em Londres, diz que a Europa respondeu "muito lentamente" ao incidente no Estreito de Kerch por meios diplomáticos. Por esse motivo, optou-se agora por uma abordagem mais "militar", precisamente pelo aumento da presença de navios.

Nesse contexto, os EUA detêm um papel informal de liderança, afirma Sanders, explicando que os americanos estariam enviando a Moscou o claro sinal de que o Mar Negro não pertence à Rússia.

A especialista ressalta que o equilíbrio de poder no Mar Negro mudou em favor da Rússia, e Kiev teme um bloqueio de Odessa, o principal porto do país, onde a Marinha ucraniana está estacionada desde a anexação da Crimeia.

A Turquia, membro da NATO, se comporta mais contidamente com sua frota. "A Turquia precisa distribuir suas forças no Mar Negro e Mediterrâneo. Ankara decidiu, considerando a situação na Síria e sua sensível dependência energética da Rússia, não atribuir prioridade ao Mar Negro", diz Sanders.

Além disso, a especialista aponta que, dada as "rachaduras no relacionamento" entre os EUA e a Turquia, há o risco de um "afastamento crescente" na relação entre a Turquia e a Otan. Mas também existem sinais completamente opostos. Por exemplo, o destróier USS Donald Cook executou exercícios com uma fragata turca, antes de chegar a Odessa.

"Pode-se dizer que o Mar Negro ganhou importância, dado o comportamento russo", diz Hans-Joachim Stricker, vice-almirante reformado da Marinha alemã. Ele foi comandante da frota até 2010. Segundo Stricker, a Rússia tem deixado cada vez mais claro que o Mar Negro e o Mar de Azov são de particular interesse para Moscou, e que "ninguém mais deve navegar por lá". "Essa é uma reivindicação que não se pode aceitar de forma alguma", enfatiza.

Stricker menciona o conceito de A2/AD (Anti-Access/Area Denial). Trata-se de uma estratégia de negar o acesso a uma área específica para oponentes em potencial, por meio do aumento de suas próprias capacidades militares.

Isso foi o que a Rússia fez, recentemente, ao ampliar seu contingente na Crimeia, estacionando novos mísseis por lá, inclusive armas guiadas do tipo Kalibr. De acordo com Stricker, o aumento da presença de navios da Otan no Mar Negro é um "contrassinal" à reivindicação de Moscou.

Em meados de fevereiro, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a aliança militar estaria considerando "fortalecer ainda mais" sua presença no Mar Negro. Políticos russos falaram de uma "provocação". No entanto, as atividades da Otan são limitadas pelo Tratado de Montreux.

A Convenção sobre o Regime dos Estreitos, de 1936, restituiu à Turquia plena soberania sobre o Estreito de Bósforo. Navios de guerra de países não banhados pelo Mar Negro não podem passar mais de 21 dias no mar interior. A tonelagem dos navios também é limitada.

"Acreditamos que a situação militar no Mar Negro está bem longe daquela de quase cem anos atrás, quando o tratado foi assinado", afirma o representante permanente da Ucrânia na Otan, Vadym Prystaiko. Ele lamenta o fato de grandes navios da Otan, como o navio-chefe da 6ª Frota dos EUA, Mount Whitney, raramente poderem entrar no Mar Negro devido à Convenção de Montreux.

Prystayko sublinha que a Ucrânia estaria pedindo aos seus parceiros para reforçar ainda mais a sua presença no Mar Negro, em resposta ao incidente no Estreito de Kerch. Segundo o diplomata ucraniano, isso mostraria à Rússia que "os planos de conquistar o Mar Negro e expulsar a Ucrânia de lá, sem esquecer do Mar de Azov, resultarão numa reação da comunidade internacional", diz Prystaiko.

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