1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Secretário dos EUA evita Brasil em giro pela América do Sul

15 de outubro de 2021

País ficou de fora da primeira viagem à região do chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken. Anúncio ocorre semanas depois de senadores americanos cobrarem secretário sobre investidas de Bolsonaro contra a democracia.

https://p.dw.com/p/41kiG
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken
Antony Blinken já visitou o México e a Costa Rica. Já o giro pela América do Sul vai incluir Colômbia e EquadorFoto: Olivier Douliery/AP/picture alliance

Em mais um sinal de isolamento internacional, o Brasil ficou de fora do roteiro da primeira viagem do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, à América do Sul. Em vez de visitar o maior país da região, o chefe da diplomacia americana viajará ao Equador e à Colômbia nos dias 19 a 21 de outubro, anunciou sua pasta nesta sexta-feira (15/10).

A agenda de Blinken vai incluir encontros com o presidente do Equador, Guillermo Lasso, e o presidente colombiano, Iván Duque. Na pauta dos encontros estarão temas como imigração, combate ao narcotráfico, direitos humanos, mudanças climáticas e assuntos comerciais, segundo o Departamento de Estado dos EUA.

Antes de viajar à América do Sul, Blinken já havia visitado o México e a Costa Rica.

A decisão de não incluir um país como o Brasil no roteiro parece evidenciar que a Casa Branca sob o presidente Joe Biden ainda procura manter distância do governo de Jair Bolsonaro, embora evitando o confronto direto.

Os dois nunca se encontraram, e Biden evitou ter qualquer contato com Bolsonaro durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, no mês passado.

Bolsonaro foi o último chefe de Estado do G20 a reconhecer a vitória eleitoral de Biden nas eleições americanas, depois de até mesmo adversários dos EUA, como o russo Vladimir Putin. Além disso, o brasileiro, que é um fã declarado de Donald Trump, o antecessor de Biden, chegou a afirmar – sem provas – que o democrata só ganhou o pleito por causa de fraudes.

Os americanos até fizeram alguns gestos tímidos de aproximação, mas se depararam com o estilo errático do governo Bolsonaro.

Em agosto, o principal assessor de segurança do governo Biden, Jake Sullivan, esteve em Brasília e se reuniu com o presidente brasileiro. Mas, segundo o jornal O Globo, Bolsonaro deixou a comitiva americana atordoada ao reafirmar sua convicção de que o ex-presidente Trump foi vítima de uma fraude eleitoral. Além disso, os americanos teriam manifestado preocupação com as investidas de Bolsonaro contra as instituições democráticas.

Segundo a revista Veja, os americanos ainda encararam como provocação o fato de Bolsonaro fazer novas ameaças contra o Supremo Tribunal Federal um dia após o encontro.

Alertas de parlamentares americanos

No mesmo mês, membros do Comitê de Relações Exteriores do Senado americano enviaram uma carta pública a Blinken alertando sobre a ameaça de Bolsonaro liderar um golpe de Estado.

"Pedimos que o senhor deixe claro que os Estados Unidos apoiam as instituições democráticas do Brasil e que um rompimento antidemocrático da atual ordem constitucional terá graves consequências", afirmou o documento assinado pelo presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Bob Menendez, juntamente com os senadores Dick Durbin, Ben Cardin e Sherrod Brown.

O ex-presidente americano Donald Trump aperta a mão do presidente Jair Bolsonaro
Bolsonaro disse várias vezes que preferia ver Trump governando os EUAFoto: Alan Santos/dpa/picture-alliance

Na quinta-feira, foi a vez de um grupo de 64 deputados democratas enviar uma carta a Biden pedindo que o status do Brasil de aliado extra-Otan seja retirado enquanto Bolsonaro estiver no poder. O status foi concedido pelo governo Trump em 2019, quando os EUA ainda mantinham uma relação próxima com o governo brasileiro, embora não tão próxima como Bolsonaro propagandeava.

"Bolsonaro apoiou as declarações falsas de [Donald] Trump sobre fraude na eleição e foi um dos últimos líderes globais a reconhecer sua vitória eleitoral, o que põe em dúvida a disposição dele de aceitar os resultados da eleição brasileira em 2022", escreveram os 64 deputados.

Países europeus também mantêm distância

Os EUA não são o único país a manter distância de Bolsonaro. Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, não foi recebido pelo governo francês quando foi a Paris para uma reunião ministerial da OCDE, mesmo solicitando um encontro, segundo o jornalista Jamil Chade.

O governo alemão, por sua vez, evitou convidar Bolsonaro ao país europeu e chegou a cancelar projetos ambientais na nação sul-americana. A chanceler federal Angela Merkel não visitou o Brasil desde que Bolsonaro tomou posse.

Dois de seus ministros chegaram a ir a Brasília em 2019, incluindo o chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, mas os representantes alemães contrabalancearam a visita agendando encontros com membros da sociedade civil, ONGs e até mesmo um governador filiado ao PT.

jps/ek (ots)