Scholz critica ultradireita por ideia de expulsar migrantes
11 de janeiro de 2024O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, condenou severamente nesta quinta-feira (11/01) um plano debatido em um encontro realizado numa mansão em Potsdam, nos arredores de Berlim. A proposta incluía a deportação de milhões de imigrantes, mesmo de pessoas com cidadania alemã. A reunião contou com a participação de membros do partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha(AfD), que logo buscou se distanciar do caso.
A notícia sobre o encontro, revelada na quarta-feira pelo grupo de jornalistas investigativos Correctiv, gerou indignação. Scholz disse que a Alemanha não permitirá que ninguém que viva no país seja julgado com base no fato de ter raízes estrangeiras.
"Protegemos a todos – independentemente da origem, da cor da pele ou de quanto alguém é desconfortável para fanáticos com fantasias de assimilação", escreveu no X, antigo Twitter.
Ele sublinhou ainda que "qualquer pessoa que se oponha à nossa ordem democrática livre" é um caso para a agência de inteligência interna e a Justiça do país. "Que aprendamos as lições da história não é algo dito apenas da boca para fora", ressaltou Scholz, se referindo à ditadura nazista do Terceiro Reich. "Democratas têm que unir forças", frisou o chanceler.
A crença dos nazistas na superioridade do que chamavam de "raça ariana" teve como consequência o assassinato de 6 milhões de judeus e outras minorias no Holocausto.
"Remigração"
De acordo com a reportagem do Correctiv, membros do AfD estariam entre os participantes de um encontro em novembro de 2023 com o extremista de direita Martin Sellner, do Movimento Identitário Áustria (IBÖ).
Na ocasião, Sellner apresentou a sua proposta de "remigração", expressão que a ultradireita costuma usar para se referir à deportação de imigrantes. Ele é uma figura importante no movimento identitário pan-europeu, que promove uma ideologia de etnopluralismo e tem conseguido angariar particularmente seguidores jovens.
O ramo alemão do movimento identitário está sob vigilância do Departamento Federal de Proteção da Constituição da Alemanha (BfV), agência de inteligência interna do país, assim como os gabinetes da própria AfDem alguns estados.
Entre os participantes do encontro estava Roland Hartwig, conselheiro da colíder do AfD Alice Weidel, informou o Correctiv. O partido confirmou a informação e admitiu que o tema foi abordado na ocasião, mas disse não ter planos de implementar a proposta de "remigração" e que a reunião não tem relevância alguma para a política de migração da legenda. A AfD também destacou que não se tratou de um evento partidário, mas privado, e que Hartwig esteve no evento para apresentar um projeto de redes sociais.
Segundo lugar nas pesquisas
A AfD foi fundada como um partido eurocético em 2013 e entrou pela primeira vez o Bundestag em 2017. As sondagens colocam-no agora em segundo lugar nacionalmente, com cerca de 20% de apoio, muito acima dos 10,3% conquistados durante a última eleição federal, em 2021.
Desde a sua fundação, o partido tem se movido continuamente para a direita e ganhou ainda mais apoio ao defender propostas antimigração.
A sigla é especialmente forte na Alemanha Oriental, onde eleições estaduais são agendadas para acontecer ainda este ano na Turíngia, Saxônia e Brandemburgo. A AfD lidera as sondagens nos três estados, com mais de 30% de apoio.
A deportação de cidadãos alemães não é possível ao abrigo da Constituição do país, que só pode ser alterada por uma maioria de dois terços nas câmaras baixa e alta do Parlamento.
md/le (DPA, AP)