Saúde de Mandela e críticas aos EUA ofuscam meta de Obama na África
1 de julho de 2013A viagem de Barack Obama à África está sendo ofuscada não só pelo estado de saúde crítico de Nelson Mandela. O presidente dos EUA, de raízes quenianas, tem que provar a um público desiludido que dá tanta importância ao continente de seu pai como seus antecessores Bill Clinton e George W. Bush, cujos programas milionários de incentivo ao comércio e à saúde são até hoje elogiados pelos africanos. "Mesmo Bush fez mais pela África do que Obama", foi a manchete um jornal sul-africano logo no dia de sua chegada.
Já em 2009, quando fez uma curta visita a Gana, Obama disse que tem “sangue africano" e que "a história da [sua] família abrange as tragédias e os triunfos da história africana”. Quando lembrou suas raízes africanas, empolgou os ouvintes. O fato de ele ter criticado a corrupção na África e ter exigido maior responsabilidade dos africanos passou quase despercebido.
As crises imobiliária e financeira nos EUA canalizaram quase a toda a atenção do presidente e, estrategicamente, a Ásia se tornou a preocupação central, obrigando a África a passar para segundo plano. Entretanto, a China substituiu os americanos como principal parceiro comercial de África, e o fato de o presidente chinês, Xi Jinping, ter dito em sua primeira viagem à África após a posse que a amizade entre a China e os países do continente é “algo muito sério” não deve ter passado despercebido aos americanos.
Antes da visita, grupos de esquerda e estudantes criticaram a política dos EUA para o Oriente Médio. Quando Obama apresentou um programa de bolsas para estudantes sul-africanos na Universidade de Johanesburgo, houve aplausos do lado de dentro, enquanto do lado de fora, a polícia tentava conter um furioso protesto com balas de borracha.
No domingo, o dia foi mais tranquilo. O presidente visitou a antiga prisão de Robben Island, fora da Cidade do Cabo, onde Nelson Mandela passou 18 dos seus 27 anos de cárcere. "O mundo é grato aos heróis de Robben Island", escreveu ele no livro de visitas.
Críticas ao anfitrião
Na noite de domingo, um presidente dos EUA surpreendentemente bem-humorado fez na Universidade da Cidade do Cabo um discurso que lembrou o brilho retórico de Obama. Pela primeira vez durante sua visita, ele encantou a plateia sul-africana. Obama fez um paralelo com o discurso do ex-senador Robert Kennedy, realizado há 47 anos no mesmo lugar, no qual comparava a luta pela liberdade na África do Sul com o movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
No discurso, diante de cerca de mil pessoas, Obama condenou os poderosos africanos que "roubam ou marginalizam os outros". Aqueles que desejassem, podiam considerar as palavras uma crítica ao próprio governo sul-africano. O presidente Jacob Zuma e altos membros do seu gabinete estão envolvidos em inúmeros casos de corrupção, uma razão pela qual os eleitores da Cidade do Cabo regularmente elegem a Aliança Democrática ao invés de dar seus votos à ANC de Zuma, como faz o resto do país.
"Estes problemas devem ser resolvidos pelos próprios africanos", disse o presidente. Obama falou diretamente sobre a situação no vizinho Zimbábue, onde "a promessa da libertação do jugo colonial deu lugar a abusos do poder e ao colapso econômico". Ao mesmo tempo, Obama apresentou um plano de investimentos para o setor energético sul-africano num volume equivalente a 5,4 bilhões de euros.
Nesta segunda-feira (01/07), ele chegou à Tanzânia. O itinerário de Obama é o mesmo do presidente chinês, Xi Jinping, que também havia visitado em março, tanto a Tanzânia como a África do Sul. A China superou os EUA em 2009 como o maior parceiro comercial da África.
Plano fracassado
No final, resta a conclusão amarga de que o plano da Casa Branca de apresentar Obama como um "presidente africano" até agora não deu certo. Já no Senegal, o principal assunto era Mandela, que Obama elogiou repetidas vezes como "fonte de inspiração para o mundo". Até agora, o político americano não conseguiu uma boa impressão, apesar do discurso engajado na Cidade do Cabo.
Pelo contrário. Enquanto em Dacar as críticas se limitavam ao tema homossexualidade, o visitante americano foi hostilizado na Cidade do Cabo por uma ampla aliança de grupos da sociedade civil. Também na África são feitas críticas severas aos controversos ataques americanos utilizando aeronaves não tripuladas, os chamados drones. O clima de euforia visto em 2009, quando Obama visitou Gana, corre o risco de azedar, apesar dos investimentos americanos. A Tanzânia é, portanto, quase uma última tentativa.