Saída da crise passa pela inovação
19 de novembro de 2002A crise econômica não atinge apenas a Alemanha, ela é um fenômeno mundial no momento. Mas há um agravante que se faz notar de modo especial neste país: a falta de flexibilidade para a busca do novo. Hans-Jörg Bullinger, presidente da Sociedade Fraunhofer, lamenta que os alemães tenham perdido sua capacidade de inovar. "Estar um passo à frente por meio da inovação é o único caminho de assegurar o bem-estar e os empregos no país", afirma.
A Sociedade Fraunhofer, que congrega 56 instituições de pesquisa com 12 mil funcionários, é a maior organização de pesquisa aplicada da Europa.
Perdendo o bonde
Para Bullinger, o problema não é que a Alemanha tenha piorado seu desempenho, mas sim que muitos outros países se desenvolveram a uma velocidade desproporcional, que os alemães não têm conseguido acompanhar. "E infelizmente ainda existe muita gente neste país que se recusa terminantemente a tomar conhecimento disso", completa.
Seria necessário, em sua opinião, que se estabelecesse todo um processo inovador, tanto nas empresas como na sociedade em geral, com uma perspectiva de longo prazo. "Não dá mais para se concentrar naquilo que se sabe fazer bem e que sempre se fez", adverte ele.
De fato, embora o Departamento Federal de Patentes registre para este ano um recorde de patentes, a Alemanha continua se distinguindo nos setores em que tem tradicionalmente boa reputação internacional: a construção de máquinas, equipamentos industriais e veículos. Quase a metade das patentes registradas na Europa no setor da construção de veículos é de autoria de alemães.
Já em outros setores que vêm demonstrando grande dinamismo no mundo, os alemães estão ficando para trás. É o caso, por exemplo, da indústria farmacêutica, bem como das tecnologias de informação e de comunicação.
Falta de visão prática
Nas universidades, centros tradicionais de pesquisa, o que surpreende é a falta de ligação com a prática. Muitas idéias desenvolvidas nos laboratórios das universidades alemãs e que poderiam se converter em produtos comerciáveis, acabam não dando em nada.
Por um lado, faltam aos cientistas os conhecimentos de marketing necessários para reconhecer o potencial comercial de suas pesquisas. Por outro, os institutos não dispõem dos recursos financeiros que um processo de patente exige. Os custos para registrar uma patente européia em todos os 15 países membros perfazem cerca de 170 mil euros, segundo dados da Comissão Européia.
Outro fator negativo: as escolas superiores apresentam um protótipo promissor em alguma feira e os concorrentes de outros países tiram fotografias e são mais rápidos na comercialização. "Seria bom se as universidades demonstrassem mais responsabilidade ao lidar com suas invenções", diz Ingo Hagen-Pohlmann, do Departamento de Patentes da Sociedade Fraunhofer.
Mas, seja no setor universitário, seja no empresarial, a capacidade de inovar exige fôlego. É preciso que se estabeleça uma verdadeira cultura da inovação, que inclua a capacidade de planejar, realizar, dirigir e controlar o processo a longo prazo, para que ele conduza ao sucesso econômico, acentua Hans-Jörg Bullinger.