Sanções contra o Irã trariam prejuízos à economia mundial
29 de junho de 2006No contexto do impasse quanto ao programa nuclear do Irã, as cinco nações com poder de veto do Conselho de Segurança da ONU apresentaram ao Teerã um acordo de compromisso, em conjunto com a Alemanha. Os países impuseram condições econômicas, caso o Irã não desista de dar continuidade ao enriquecimento de urânio em seu território.
O prazo dado ao governo iraniano para se manifestar quanto à proposta se esgotava nesta sexta-feira (29/06), mas foi prorrogado até o final de julho. Caso o Irã não aceite as condições sugeridas pelo Conselho de Segurança da ONU e pela Alemanha, o país sofrerá sanções econômicas que repercutirão dentro de seu território e trarão conseqüências negativas para a economia mundial.
O Irã está localizado numa região estratégica do Oriente Médio, entre o Golfo Pérsico e o Mar Cáspio, onde se encontram as maiores reservas de petróleo e gás natural do mundo. O país islâmico dispõe do segundo maior depósito, ficando atrás somente da Arábia Saudita.
Com a quarta maior produção mundial de petróleo, o Irã coloca no mercado quatro milhões de barris por dia. Destes, cerca de 2,4 milhões de barris vão para o exterior, principalmente na direção da Ásia. Mais importante: o petróleo é a principal fonte de renda do Irã e a venda em estado bruto corresponde a quase 85% do total de exportações.
Conseqüências para a economia mundial
Os maiores compradores do petróleo iraniano são o Japão, com 23%, e a China, com 12,5% da produção. Seguem-se a Itália (9,4%), França (7,3%), Índia (6%), África do Sul (5,8%), Coréia do Sul (5,4%), Turquia (4,4%) e Holanda (4%).
Caso as sanções econômicas englobassem o petróleo, esses países seriam os primeiros atingidos. Como alternativa, tentariam compensar no mercado mundial a suspensão do produto importado do Irã.
Os preços do petróleo subiriam exponencialmente, podendo chegar a mais de cem dólares por barril em poucos dias, e o mundo sofreria as conseqüências das sanções: aumento de preços e queda do crescimento, principalmente em regiões pobres de fontes energéticas, como a Europa Ocidental.
Não só os setores econômicos com grande demanda de energia para a produção – como o automobilístico e o químico –seriam atingidos. Os próprios cidadãos europeus sofreriam no bolso o aumento do preço do petróleo.
Europa como principal parceiro de negociações
Reagindo ao impasse com o governo Clinton, no ano de 1996, que gerou sanções e tensões com o Ocidente, o Irã passou priorizar suas relações econômicas com nações industrializadas do Leste Asiático e com a Rússia.
Apesar do sucesso, principalmente no setor de produção de energia e na fabricação de bens de consumo, o Irã abastece sua economia com importações e depende principalmente do know-how europeu para questões de infra-estrutura. Alemanha, Suíça, França e Itália têm papel chave dentro deste panorama.
A importância do mercado iraniano para a Alemanha
Mais de 17% do que os iranianos importam vem da Alemanha, detentora, longe, da maior fatia das importações. Segundo a Câmara de Indústria e Comércio Alemã, mais de quinhentas empresas do país mantêm relações comerciais com o Irã. O montante de exportações mais do que dobrou nos últimos quatros anos – passando de 2,236 bilhões de euros em 2002 para 4,429 bilhões em 2005.
Em caso de se concretizarem as ameaças de sanções, as relações comerciais alemãs e européias de forma geral seriam suspensas. As conseqüências seriam não só um grande prejuízo por parte das empresas, podendo significar também, a médio prazo, a demissão de milhares de trabalhadores. Além disso, a Alemanha estaria ameaçada de perder um importante e tradicional parceiro de mercado no Oriente Médio.
Implicações para a população iraniana
Quem mais sairia perdendo com as sanções contra o Irã não seriam seus parceiros comerciais, mas o país em si. Os prejuízos por parte dos iranianos não seriam somente de natureza econômica.
A população sofreria com a falta de alimentos e medicamentos, podendo levar a uma "catástrofe humana" nos moldes do que aconteceu no Iraque de Saddam Hussein. A economia teria que lidar com a falta de equipamentos e artigos para substituição de peças, o que atingiria principalmente a produção automobilística e de navios. Mesmo o setor energético não ficaria intacto, uma vez que depende da tecnologia ocidental para a modernização das plataformas de extração e refinarias.
Ao contrário da população iraniana e de seus parceiros comerciais, grupos mafiosos poderiam sair ganhando com as sanções, uma vez que se abriria espaço para o contrabando de produtos e mesmo de petróleo. A semelhança com a situação no Iraque de Saddam, sob sanções internaciionais, seria espantosa.
Portanto, não só os Estados Unidos e o regime dos mulás, como também a Europa, a economia mundial e a população iraniana sentiriam na pele as conseqüências das possíveis sanções ao Irã.