Sanitários "culturalmente sensíveis" geram polêmica
13 de agosto de 2017Para os refugiados, a integração na Alemanha não é nada fácil. Eles têm que aprender uma língua estrangeira, encontrar trabalho, orientar-se dentro de uma estrutura social complexa. Além disso, a atitude em relação a eles mudou, os alemães não são mais tão abertos quanto há dois anos: os atentados terroristas e a vivência de que a integração não transcorre sem atritos arrefeceu o otimismo.
Nesse contexto, o centro cultural Bürgerzentrum Alte Feuerwache, em Colônia, faz manchete: sua diretoria decidiu instalar assim chamados "sanitários culturalmente sensíveis", sobretudo para muçulmanos. Em vez de assento, as toaletes têm apenas um buraco no chão.
A decisão inflama ainda mais a já acalorada discussão sobre a integração no país. Mal o jornal local Kölner Stadt-Anzeiger noticiara a respeito, os leitores se manifestaram com veemência. A maioria ou reagiu com repúdio declarado ou fez piada sobre a iniciativa.
Sensibilidade ridicularizada
O vaso sanitário "squat" em questão não é desconhecido dos europeus, sobretudo na França e na Itália. Ainda assim, "uma toalete assim está mais de acordo com o que é usual nos países islâmicos", assegura Konrad Müller, membro da presidência do centro de cidadania. "E nós queremos, com isso, dar às pessoas desses países a sensação de que aqui elas estão em casa."
Também seguindo os costumes muçulmanos, em vez de papel higiênico os administradores providenciarão uma mangueirinha d'água para a higiene após as necessidades fisiológicas. Além disso, o orifício no chão não será direcionado para o sul. "Fazer cocô virado para Meca, não dá", explica Müller, em linguagem relaxada.
O tema foi também debatido pelos políticos colonianos. "Chega a me faltar o ar", comentou Uli Breite, diretor da bancada municipal do Partido Liberal Democrático (FDP). "Nós, liberais, acreditamos em esclarecimento e progresso. Essa toalete é um passo atrás! Integração consiste em que as pessoas que vêm para nós se integrem, não o contrário."
A chefe de bancada verde local, Kirsten Jahn, mostrou-se igualmente consternada. "Oh, Deus, que bobagem. É uma pretensão da diretoria da Feuerwache querer ditar como as pessoas vão fazer as necessidades delas. É ridículo e não tem nada a ver com fé."
"Imagine se fosse uma grande mesquita"
A direção do centro cultural, por sua vez, defende a decisão: "Não há nada de errado com isso, e não tem nada a ver com querer se bonzinho, pois a nossa associação também se comprometeu com o aprendizado cultural. E aqui a população nativa pode aprender algo sobre outras culturas."
Falando à DW, Ahmed Awaimer, encarregado do diálogo do Conselho Central dos Muçulmanos, se manifestou reticente em relação ao projeto. Segundo ele, centros culturais como a Alte Feuerwache tentam fundamentalmente promover o diálogo entre diferentes culturas e incentivar as pessoas a se respeitarem, apesar das visões de mundo distintas.
Pensar sobre os outros é, em princípio, bom, concordou Awaimer. Só que a questão do sanitário não está entre os problemas mais urgentes da integração. Também por isso é exagerada a celeuma em torno do projeto: há tarefas outras e mais importantes a serem solucionadas em conjunto, como a organização de cursos aperfeiçoamento profissional para centenas de milhares de islâmicos.
Por outro lado, o fato de a construção de um banheiro, por uma quantia bem modesta, desencadear tamanha agitação, indica a presença de tendências islamofóbicas. Pode-se imaginar que confusão desencadearia a construção de uma grande mesquita, frisou o funcionário do Conselho Central dos Muçulmanos.
Muçulmanos comentam
Também no mundo islâmico o caso despertou controvérsia. "Muçulmanos dos Estados do Golfo Pérsico usavam até vasos sanitários ornamentados com ouro", lembrou o leitor Bilal Arbouch na página do Facebook da DW. "A Alemanha também tem que levar isso em consideração", sugeri, com ironia.
Osama Saadallah não compreende o alvoroço. "Por que todos estão tão furiosos com essa toalete?", afinal, ela também existe em outros países da Europa. Não vale a pena travar uma "Guerra Santa" por causa do vaso sanitário: "A pessoa faz suas necessidades como quer. O importante é que seja confortável."
Tarekh Jishi questiona até que ponto a "sensibilidade cultural" dos colonianos é pertinente: "Essas toaletes não têm nada a ver com o islã", escreve, e há muito esse modelo está obsoleto. "Mesmo que uns ou outros ainda as utilizem, isso não quer dizer que elas tenham qualquer relação com a religião."
Magdi Attaw aproveita para comentar que a Alemanha mudou muito desde a chegada dos refugiados: agora, "até banheiros são causa de debates".