Saiba quem são os curdos
29 de julho de 2015Os curdos não têm um Estado próprio ou uma instituição que os represente. Não se sabe exatamente quantos eles são, pois censos étnicos não foram feitos nos países em que eles vivem. Algumas estimativas sugerem entre 25 milhões e 30 milhões de pessoas. Outras falam de 30 milhões a 40 milhões de pessoas.
A área habitada pelos curdos se estende por Iraque, Irã, Síria e Turquia. A organização política e o grau de autonomia dos curdos é diferente em cada um desses países.
Com a ascensão do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), os curdos ganharam projeção e passaram a desempenhar um papel internacional cada vez mais importante. Isso se deve aos sucessos militares deles na luta contra o EI no norte da Síria. Com isso, antigos anseios dos curdos por mais autonomia ou até mesmo por um Estado próprio ganharam nova força.
Turquia e o PKK
Cerca de metade dos curdos vive na Turquia, onde eles compõem em torno de 18% da população e são, assim, a maior minoria étnica do país. Eles foram reprimidos por décadas pelos governos turcos. Como resultado, ativistas de esquerda se reuniram no início dos anos 1970 em torno de um líder, Abdullah Öcalan. Em 1978, esse grupo daria origem ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão, mais conhecido como PKK.
Nos seus primórdios, o PKK se orientava por ensinamentos marxistas e leninistas. Em 1984, a organização atacou pela primeira vez instalações militares turcas. Desde então, o PKK luta pela constituição de um Estado curdo ou por um território autônomo. Segundo estimativas, o conflito turco-curdo envolvendo o PKK já custou a vida de 40 mil pessoas em seus mais de 30 anos.
Em 1999, Öcalan foi condenado à prisão perpétua na Turquia. No final de 2012, o governo turco começou a negociar com ele, e havia sinais de que um acordo de paz com o PKK poderia ser alcançado.
Por causa dos acontecimentos recentes na fronteira da Turquia com a Síria, o governo turco rompeu o cessar-fogo com o PKK. Nesta terça-feira (28/07), o presidente Recep Tayyip Erdogan declarou o processo de paz encerrado.
HDP
Ao contrário do PKK, o Partido Democrático dos Povos (HDP, na sigla original) não se vê como uma agremiação exclusivamente curda. O partido é recente: existe desde 2012, quando formações até então concorrentes se uniram na sigla.
Um dos principais fundadores do HDP é o Partido da Paz e da Democracia (BDP). Esse partido pró-curdo desempenhou um papel importante nas negociações entre o PKK e o governo em Ancara. Por um lado, ele se engajou numa solução para o conflito, mas foi também acusado de ser o braço parlamentar do PKK.
O HDP é um agrupamento de seguidores de Öcalan, nacionalistas curdos, feministas, democratas e socialistas. Unidos, eles conseguiram superar a barreira dos 10% nas últimas eleições parlamentares turcas, em junho de 2015.
Síria
Não se sabe exatamente quantos curdos vivem na Síria, mas eles são mais de 10% da população – considerando-se a população do país antes do início da guerra civil, em 2011. Desde então, os curdos tiveram sucessos militares surpreendentes e conseguiram criar três regiões por eles administradas.
O Partido da União Democrática (PYD) é a principal força política entre os curdos sírios. Ele surgiu em 2003, apoiado pelo PKK como uma espécie de partido irmão. O PYD é de orientação secular.
O PYD tem um braço armado: as Unidades de Proteção Popular, conhecidas pela sigla YPG. As milícias das YPG são fortemente ligadas ao PKK. Elas lutam no norte da Síria e são o principal parceiro da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos na luta contra o "Estado Islâmico".
As YPG controla hoje boa parte da região de fronteira da Síria com a Turquia. Na batalha por Kobanê, por exemplo, as milícias das YPG expulsaram os jihadistas do EI da cidade, com a ajuda dos ataques aéreos da coalizão internacional.
Iraque
No Iraque, os curdos são uma força política estabelecida que administra uma área semiautônoma no norte do país, a Região Autônoma do Curdistão. Cinco milhões de curdos moram nessa região. A força militar deles é conhecida pelo nome de peshmerga, uma palavra curda que significa "aquele que enfrenta a morte", "aquele que olha a morte nos olhos".
A relação dos peshmerga com o PKK e as YPG é de desconfiança. O motivo é a colaboração do governo da Região Autônoma do Curdistão, liderado por Massoud Barzani, com a Turquia e os Estados Unidos, dois países que se posicionam contra o PKK. Ainda assim, curdos iraquianos lutaram ao lado das milícias YPG na retomada de Kobanê.