Rússia bane organizações anticorrupção de Navalny
10 de junho de 2021Um tribunal russo baniu nesta quarta-feira (09/06) várias organizações anticorrupção lideradas pelo oposicionista Alexey Navalny, classificadas como extremistas.
A rede de organizações de Navalny inclui a Fundação Anticorrupção (FBK) e seus escritórios regionais. A decisão do tribunal afirma que o movimento liderado pelo opositor e crítico do presidente Vladimir Putin desestabiliza a "situação sócio-política” do país.
A promotoria russa acusou o grupo de promover "atividades extremistas, distúrbios de massa” além de "tentar envolver menores de idade em atividades ilegais”. A decisão pode resultar na proibição aos apoiadores de Navalny de concorrer às eleições parlamentares deste ano.
Uma lei introduzida há poucas semanas, proíbe os apoiadores de organizações extremistas de se candidatarem a cargos públicos. Os partidários de Navalny condenaram a decisão como sendo politicamente motivada e voltada para silenciar a oposição. Os advogados do grupo já anunciaram que vão recorrer do veredito.
Preso desde janeiro, Navalny pediu aos seus apoiadores que não desistam e se mantenham firmes em suas convicções. "Enquanto vocês existirem, não vamos desaparecer”, afirmou.
No final de abril, a Rússia incluiu em uma lista de organizações "extremistas e terroristas" a rede de filiais regionais anticorrupção de Navalny. Essa relação inclui centenas de nomes de organizações e personalidades russas e estrangeiras, como os grupos jihadistas Al-Qaeda e Estado Islâmico.
Um tribunal de Moscou já proibiu os escritórios de exercer praticamente todas as suas atividades, como postar conteúdos na internet, organizar protestos e participar de eleições.
O governo dos Estados Unidos condenou a decisão desta quarta-feira. "Com essa medida, a Rússia efetivamente criminaliza um dos poucos movimentos políticos independentes que restam no país”, disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado americano.
Trabalhos anticorrupção
Navalny montou a rede de escritórios em dezenas de regiões da Rússia, enquanto fazia campanha para concorrer contra Putin nas eleições presidenciais de 2018. Embora ele tenha sido impedido de concorrer, os escritórios permaneceram.
A Fundação Anticorrupção de Navalny (FBK), fundada em 2011, investiga suborno por funcionários locais, apoiada por esses escritórios. Nesta sexta-feira, em uma ação que os críticos apontam como um novo golpe para prejudicar Navalny, as autoridades russas prenderam Ivan Pavlov, advogado que defendia a FBK em um julgamento de extremismo.
Uma das atividades de maior visibilidade da organização foi divulgada em janeiro deste ano e acusava Putin de ter mandado construir um palácio no Mar Negro. O documentário teve 116 milhões de visualizações no YouTube, forçando Putin a negar pessoalmente a acusação, em um gesto raro no Kremlin.
Tentativa de envenenamento e prisão
Navalny foi preso em janeiro em Moscou ao retornar da Alemanha, onde passou cinco meses se recuperando de um envenenamento por um agente nervoso desenvolvido na época da União Soviética. Ele acusa o Kremlin de tentar matá-lo. O governo russo nega.
No começo de fevereiro, um tribunal da Rússia sentenciou Navalny a dois anos e meio de prisão. A Justiça alegou que o ativista, em sua estadia na Alemanha, violou as condições de sua liberdade condicional relacionada a uma sentença proferida em 2014, ao não se apresentar regularmente para as autoridades.
A sentença original envolve um suposto caso de fraude, num processo que foi considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
A nova prisão de Navalny foi o estopim para protestos contra o Kremlin. Milhares de pessoas saíram às ruas em dezenas de cidades para exigir a libertação do ativista e demonstrar insatisfação com o governo autoritário do presidente Putin. A reação das autoridades foi dura, e mais de 10 mil pessoas foram detidas.
Em abril, Navalny compareceu, magro e abatido, a uma audiência legal por meio de um link de vídeo, na primeira aparição pública desde o anúncio do fim de sua greve de fome.
Ele passou 24 dias sem comer para protestar contra a recusa das autoridades em permitir que ele fosse examinado por um médico particular. Navalny reclamava de fortes dores nas costas e dormência nas mãos e nas pernas.
rc (Reuters,DPA)