Rússia afirma que EUA estão pondo cessar-fogo em risco
18 de setembro de 2016A Rússia afirmou neste domingo (18/09) que os ataques aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos, que neste sábado atingiram uma posição do Exército sírio na cidade de Deir al-Zor, matando ao menos 62 soldados, colocaram em risco o cessar-fogo na Síria.
Horas depois, aeronaves não identificadas lançaram mísseis sobre áreas controladas pelos rebeldes em Aleppo, afirmou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
Em comunicado, o Ministério do Exterior da Rússia apelou aos Estados Unidos para que façam um inquérito, "o mais completo possível", e tomem medidas para evitar que incidentes como o de sábado se repitam. "As ações dos pilotos da coalizão – se eles, como esperamos, não obedeciam ordens de Washington – estão no limite entre a negligência criminal e a conivência com terroristas do Estado Islâmico", prossegue a nota.
"Exortamos fortemente Washington a exercer a pressão necessária sobre os grupos armados ilegais sob seu patronato para implementar incondicionalmente o plano de cessar-fogo. Do contrário, a implementação do pacote total do acordo entre os EUA e a Rússia, alcançado em Genebra em 9 de setembro, pode estar em risco", afirmou o ministério russo.
A Rússia já pediu reiteradas vezes aos Estados Unidos para que pressionem os rebeldes moderados a encerrar a colaboração com grupos terroristas, em especial a antiga Frente al-Nusra, que rompeu oficialmente com a rede Al Qaeda e hoje se chama Frente Fateh al-Sham (Frente para a Conquista do Levante).
Poucas horas depois, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos afirmou que, pela primeira vez desde o início do cessar-fogo, na segunda-feira, aeronaves lançaram mísseis em bairros controlados pelos rebeldes em Aleppo, causando um número ainda incerto de feridos. O Observatório contabilizou quatro mísseis.
Síria diz que EUA atacaram de propósito
Neste sábado, a Rússia e a Síria afirmaram que jatos da coalizão liderada pelos Estados Unidos atacaram tropas do regime sírio em Deir al-Zor, matando ao menos 62 soldados e ferindo cerca de cem. O ataque favoreceu combatentes do "Estado Islâmico". Os Estados Unidos admitiram que os bombardeios ocorreram, mas afirmaram que a intenção era atacar os jihadistas e não as tropas do governo.
Em Nova York, durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança, os dois países voltaram a trocar acusações. O embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, disse que a Síria passa por um "momento extremamente crucial" após o ataque aéreo de sábado dos Estados Unidos e estranhou que tenha se tratado de um erro.
Já a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Samantha Power, disse que a reunião de urgência do Conselho de Segurança, a pedido de Moscou e por causa do ataque, foi uma "artimanha cínica e hipócrita" e que a Rússia deveria se concentrar na implementação do acordo.
Em declarações à agência de notícias AFP, uma assessora do presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou que o governo da Síria acredita que o ataque tenha sido intencional. "Nada indica que o ocorrido tenha sido um engano ou coincidência. Tudo foi calculado, e o Daesh ['Estado Islâmico'] estava informado", declarou.
O governo da Rússia também deu declaração semelhante. "Estamos chegando a uma conclusão realmente assustadora para o mundo inteiro: de que a Casa Branca está defendendo o 'Estado Islâmico'. Não pode mais haver dúvidas sobre isso", disse a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova.
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