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Rússia acusa Ucrânia de ataque contra filha de guru de Putin

22 de agosto de 2022

Daria Dugina foi morta em explosão que atingiu seu carro em estrada perto de Moscou. Serviço secreto russo diz que autora do ataque é cidadã ucraniana que fugiu para Estônia. Classe política cobra retaliação.

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Agentes inspecionam cena da explosão
Segundo mídia russa, alvo do ataque seria o pai de Daria, Alexander DuginFoto: Investigative Committee of Russia via REUTERS

O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) acusou a Ucrânia nesta segunda-feira (22/08) de estar por trás do ataque a bomba que matou a filha do ideólogo russo Alexander Dugin, um dos aliados mais próximos do presidente Vladimir Putin. A Ucrânia nega a autoria do ataque, que ocorreu no fim de semana nos arredores de Moscou.

"O crime foi planejado e cometido por serviços especiais ucranianos", disse o FSB, sucessor da soviética KGB, em comunicado divulgado por agências de notícias russas.

Daria Dugina, de 29 anos, foi morta no sábado à noite, quando uma bomba colocada no Toyota Land Cruiser que ela dirigia explodiu a cerca de 40 quilômetros da capital russa.

Dugin – defensor da ofensiva do Kremlin na Ucrânia – seria o provável alvo do ataque. Segundo relatos da mídia russa, Dugina teria emprestado o carro do pai no último minuto, após um evento em que os dois estiveram juntos.

De acordo com o FSB, a autora do ataque seria uma cidadã ucraniana nascida em 1979, que fugiu no domingo para a Estônia. Ela teria chegado à Rússia em julho, com sua filha menor de idade, e alugado um apartamento no mesmo prédio onde morava Dugina. A suspeita também teria comparecido ao evento onde Dugina e o pai estiveram.

Dugin, de 60 anos, às vezes chamado de "Rasputin de Putin" ou "cérebro de Putin", é um intelectual ultranacionalista russo, que há muito defende a unificação dos territórios de língua russa em um vasto novo império.

Ele foi colocado em uma lista de sanções ocidentais depois que a Rússia anexou ilegalmente a Crimeia em 2014. Em março de 2022, após o início da invasão russa da Ucrânia, sua filha Dugina também foi sancionada pelos Estados Unidos por seu trabalho como diretora do site United World International (UWI), descrito por Washington como "um meio de desinformação".

Daria Dugina
Daria Dugina estava em lista de sanções dos EUAFoto: TSARGRAD.TV via REUTERS

Ucrânia nega autoria do ataque

As autoridades ucranianas negam qualquer envolvimento no ataque.

"Enfatizo que a Ucrânia não tem nada a ver com isso, porque não somos um Estado criminoso como a Federação Russa e não somos um Estado terrorista", declarou Mykhailo Podoliak, um dos assessores do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

Na televisão, Podoliak disse que o incidente também poderia ser uma estratégia russa para justificar a mobilização para a guerra.

Além disso, muitos grupos na Rússia lutam entre si por posições ideológicas. No Twitter espalhou-se a hipótese de que o ataque também poderia ser um ato de vingança do FSB, já que Dugin, segundo rumores, teria dito que o serviço secreto era culpado pelos maus resultados de Moscou na Ucrânia.

Também houve ameaças da Ucrânia de que guerrilheiros poderiam causar problemas para a Rússia com ataques nos próximos anos. Centenas de milhares de ucranianos da zona de guerra vivem agora na Rússia, muitas vezes sem alternativa. A suspeita de que "sabotadores", como Moscou os chama, também estão entrando pelas rotas de fuga é onipresente. Na semana passada, de acordo com um comunicado, o FSB prendeu vários "sabotadores" após a explosão maciça na Crimeia.

Indignação da classe política russa

O atentado a bomba que matou Daria Dugina provocou uma onda de indignação na classe política russa, especialmente entre os propagandistas de guerra, que exigem que o crime não fique impune.

Ainda no domingo, mesmo antes do comunicado do FSB, muitos políticos apressaram-se em culpar a Ucrânia pelo ataque.

Um deles foi o líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, no leste da Ucrânia, o pró-russo Denis Pushilin, que acusou diretamente o governo de Kiev de estar por trás do ataque. "Em uma tentativa de eliminar Alexander Dugin, os terroristas do regime ucraniano mataram sua filha", escreveu no Telegram.

Na mesma rede social, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, alertou que, caso se confirme a "pegada ucraniana" no atentado, será necessário "falar sobre a política de terrorismo de Estado do regime de Kiev".

Por sua vez, o senador russo Andrei Klishas descreveu o incidente como um "ataque inimigo" e exigiu que seus autores materiais e intelectuais sejam levados à Justiça.

"Este crime não pode ficar impune (...) Devemos responder dura e decisivamente", disse Pyotr Tolstoy, vice-presidente da Duma, câmara baixa do Parlamento da Rússia.

Como comentarista do canal de TV nacionalista Tsargrad e do site Movimento Eurasiano Internacional, Dugina expressava suas opiniões com veemência. A Tsargrad declarou neste domingo que "Daria, como seu pai, sempre esteve na linha de frente da confrontação com o Ocidente".

A colega de Dugina, Margarita Simonyan, editora-chefe do canal de televisão estatal russo RT, condenou o ataque à "mulher jovem, inteligente, bonita e incrivelmente talentosa". "Daria poderia ter se tornado uma daquelas pessoas que formam uma nova ideologia nacional para a Rússia." Simonyan também pediu vingança.

Dugina era uma "verdadeira patriota", lamentou o proeminente político e negociador russo no conflito com a Ucrânia, Leonid Slutsky. "Este bárbaro assassinato de Daria é basicamente um ataque terrorista à ideologia e à união do mundo russo", disse, pedindo que os culpados sejam punidos "em toda a extensão da lei".

Alexander Dugin
Alexander Dugin é defensor das ideias do eurasianismo e do conservadorismoFoto: Fars Media Corporation

Guerra chega a Moscou

Após o bombardeio em suas regiões fronteiriças de Kursk, Belgorod e Bryansk – supostamente de autoria de forças ucranianas –, a Rússia ameaçou repetidamente realizar contra-ataques. Mas, depois de quase seis meses de guerra, há muitas perguntas a serem feitas para a liderança militar de Moscou.

Comentaristas políticos estão surpresos com o fato de o Kremlin não ter reagido de forma mais acentuada, especialmente após às mais recentes explosões na península da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.

Agora, a explosão que matou Dugina aproxima a guerra da capital russa, Moscou, até então à margem do derramamento de sangue provocado pela guerra na Ucrânia.

A explosão não muda a situação na Rússia. Mas observadores disseram no domingo que a onda de choque pelo menos abala o mundo confortável dos propagandistas de guerra, que antes pensavam estar seguros. O assassinato, perto de Moscou, de uma defensora pública da guerra na Ucrânia é considerado sem precedentes.

Quem é Alexander Dugin

Dugin, de 60 anos, escritor e filósofo, é considerado um dos ideólogos que mais influenciou a política russa nos últimos anos e, em particular, o rumo tomado pelo presidente Putin.

Em sua juventude, professou um anticomunismo e um antissovietismo radical – que acabou abandonando após a queda da União Soviética, a ponto de, em 1993, defender com os comunistas a sede do Parlamento russo, que foi bombardeada por ordem do então presidente russo Boris Yeltsin.

Mais tarde, participou da fundação do Partido Nacional Bolchevique, uma formação de oposição radical agora extinta.

A partir do ano 2000 passou a defender as ideias do eurasianismo e do conservadorismo, que propõe como plataforma ideológica às autoridades do país.

le (Efe, DPA, AFP, ots)