Rodas-gigantes
10 de abril de 2008Observando uma fotografia da Exposição Internacional de Paris de 1900, o arquiteto franco-suíço Le Corbusier comentava, em 1908, que sua roda-gigante era exemplo de construção que caracterizava uma nova "era de agitação" e um momento em que "um novo paradigma embaralhava a ordem das grandezas existentes".
Um século mais tarde, a observação de um dos pais da arquitetura moderna tornou-se realidade. Cidades do mundo todo procuram repetir o sucesso da roda-gigante de Londres, conhecida como London Eye (Olho de Londres), hoje a principal atração da cidade com 4 milhões de visitantes anuais.
Com 185 metros de altura, Berlim deverá inaugurar, em 2009, a maior roda-gigante da Europa. No mesmo ano, Pequim erguerá a sua nova atração de 208 metros, que deixará para trás a Singapore Flyer, atual maior roda-gigante do mundo com 165 metros de altura e 150 metros de diâmetro, inaugurada em março último em Cingapura.
Atração obrigatória da capital austríaca
Rodas-gigantes existem já há muitos séculos na Europa. A primeira roda-gigante moderna, motorizada e com cabines fechadas capazes de transportar dezenas de passageiros, foi construída para a Exposição Internacional de Chicago de 1893 pelo engenheiro Gale Ferris. Ela foi a resposta americana à Torre Eiffel da Exposição Internacional de Paris de 1889. Em homenagem ao seu criador, a roda-gigante moderna leva o nome em inglês de ferris wheel (roda de Ferris).
Uma das mais antigas e mais conhecidas rodas-gigantes é a do Parque Prater de Viena, imortalizada por Orson Welles em seu filme O Terceiro Homem (1949).
Construída para celebrar o jubileu do trono do imperador Francisco José 1° em 1897, a roda-gigante de Viena foi destruída por um incêndio em 1944 e reconstruída no ano seguinte. Com suas 15 cabines, ela é, ainda hoje, atração obrigatória da capital austríaca.
Status de arquitetura
Quem poderia imaginar, no entanto, que a roda-gigante de Londres, erguida em 2000 em comemoração ao novo milênio, iria se tornar o novo símbolo da cidade, atraindo anualmente cerca de 4 milhões de visitantes. Prevista para funcionar somente por cinco anos e chamada inicialmente de Roda do Milênio, a London Eye conquistou o coração dos londrinos e se tornou um dos principais cartões-postais da cidade sobre o Tâmisa.
Tendo conseguido permissão permanente, a roda-gigante de 135 metros de altura será reformada para os desafios dos próximos 20 anos. A London Eye concorreu ao prêmio Stirling da arquitetura britânica de 2001, decisão que elevou, pela primeira vez, rodas-gigantes ao status de arquitetura.
Como afirmou o jornal britânico The Guardian, a roda-gigante é o monumento que representa a Londres atual e anuncia que a Grã-Bretanha não só vive de passado, mas está olhando para o futuro e ainda tem algo a oferecer.
"Além de ser algo magnífico de ver, existe algo sobre a London Eye – uma escultura surreal, cinética, uma expressão universal de pureza geométrica, uma continuação da herança da engenharia britânica, até mesmo uma resposta feminina a uma silhueta urbana fálica – que nos acalenta. Ela não é somente para ser olhada. A partir dela, também se pode olhar", escreveu o The Guardian.
Linha de crédito
Com o exemplo da roda-gigante londrina, a promessa de sucesso é tanta que o banco holandês ABN Amro abriu uma linha de crédito para a construção de objetos semelhantes em diversas cidades do mundo – e cada vez mais altos.
Em 2006, foi inaugurada na China a Estrela de Nanchang, roda-gigante com 60 cabines e 160 metros de altura. Em março deste ano, em Cingapura, foi aberta ao público a Singapore Flyer com 28 cabines climatizadas para 28 pessoas cada.
Com 165 metros de altura, a Singapore Flyer é atualmente a maior roda gigante do mundo. Além da silhueta da cidade, dela se pode olhar a costa sul da Malásia e ilhas da Indonésia. No entanto, em breve a roda-gigante de Cingapura terá que entregar seu título à Grande Roda de Berlim e à roda-gigante de Pequim, cujas inaugurações estão previstas para 2009.
Grande Roda de Berlim
Nada menos que a área adjacente à estação ferroviária Zoologischer Garten foi escolhida para abrigar a roda-gigante berlinense, que, segundo o desejo do prefeito Klaus Wowereit, se tornará a nova atração da cidade.
Com 36 cabines para 40 pessoas cada, 185 metros de altura e 175 metros de diâmetro, a Grande Roda de Berlim deverá atrair, anualmente, dois milhões de visitantes. Seu custo de construção está previsto para 120 milhões de euros.
A Grande Roda de Berlim também ajudará a desenvolver a área em torno da antiga estação ferroviária central da capital berlinense, outrora centro cultural e econômico da antiga Berlim Ocidental. A Universidade Técnica de Berlim, que também tem interesse no terreno, entrou com mandado contra a construção. Acredita-se, no entanto, que a universidade não terá sucesso em sua empreitada.
Ideal futurista
Como profetizou o mestre franco-suíço Le Corbusier há um século, rodas-gigantes se tornaram símbolos de um novo tempo. De objetos temporários de exposições internacionais e parques de diversões, elas passaram a incorporar o espírito de uma era marcada pela globalização. De Pequim a Berlim, o programa de uma roda-gigante não muda: ela é redonda e gira. Tal objeto torna-se assim um ideal de caracterização de um mundo globalizado.
Com um espaço público esvaziado, as cidades procuram novas estratégias para ativar seu corpo urbano enfraquecido. Entre elas estão festas temporárias como maratonas, paradas gay e visitas do papa. Devido ao seu caráter de temporalidade, rodas-gigantes lembram o ideal do Movimento Futurista do início do século 20: fazer com que cada geração vivencie sua própria cidade.
Por serem monumentos cinéticos, rodas-gigantes ativam não só o corpo urbano, mas também o corpo humano. A cidade tanto pode vê-lo como também pode ser vista. Como as antigas exposições internacionais, a cidade do século 21 tornou-se um palco de encenações temporárias.