Rodada Doha domina cúpula da Eulac em Viena
12 de maio de 2006No segundo dia do Encontro de Cúpula da União Européia, América Latina e Caribe (Eulac) em Viena, o presidente da Comissão Executiva da União Européia, José Manuel Durão Barroso, lançou um apelo aos líderes europeus e latino-americanos para fazerem "um esforço coletivo ambicioso" no sentido de desbloquear as negociações de Doha sobre a liberalização do comércio internacional.
"Devemos encontrar um equilíbrio entre os diferentes interesses que há nesta mesa", insistiu o português numa das sessões de trabalho na capital austríaca. Numa entrevista ao jornal francês Le Fígaro, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, considerou que a cúpula de Viena, onde participam os chefes de Estado e de governo de mais de 60 países, constitui "uma das últimas oportunidades" para se sair do impasse das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).
"Apenas as decisões corajosas tomadas pelos chefes de Estado e de governo podem garantir-nos um resultado positivo", disse Lula ao jornal, acrescentando que "o que está em jogo é eminentemente político".
Brasil sugere reunião para desemperrar Doha
O presidente do Brasil defendeu nesta sexta-feira (12/05) entre seus colegas europeus e latino-americanos uma reunião entre as lideranças dos países ricos e emergentes, ainda antes da cúpula do G-8, os oito países mais industrializados, prevista para julho em São Petersburgo, para desbloquear as negociações da OMC.
Nos encontros de Lula logo pela manhã com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e mais tarde com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, Lula destacou a necessidade de se promover o avanço da rodada Doha, informou o chanceler brasileiro, Celso Amorim.
Segundo o Itamaraty, Merkel compartilha a idéia do presidente Lula de envolver os líderes mundiais para desbloquear o impasse nas negociações de livre comércio. No quadro das negociações para a liberalização do comércio mundial, a UE está interessada numa abertura dos setores industriais e dos serviços, enquanto os países em desenvolvimento pedem a abertura dos mercados agrícolas e a redução dos subsídios a este setor nos países desenvolvidos.
A data para um acordo sobre a matéria já foi adiada por diversas vezes, sendo a redução dos direitos aduaneiros o ponto mais delicado do ciclo de negociações lançado em 2001 na capital do Catar.
Para o Brasil há três focos na negociação: o acesso aos mercados agrícolas, cuja responsabilidade é da UE, a redução dos subsídios americanos, e a redução das tarifas industriais e de serviços por parte dos países em desenvolvimento.
Para Annan, comércio mundial precisa de confiança
Referindo-se à nacionalização na Bolívia, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, advertiu na capital austríaca que não se pode enxotar investidores através de nacionalizações. "É importante gerenciar as reservas nacionais e as relações econômicas de tal forma que o país e a população tirem proveito delas", disse Annan.
Por outro lado, o secretário-geral da ONU salientou que a prioridade da política econômica na Europa e, acima de tudo na América do Sul, deve ser o combate ao desemprego juvenil e a oferta de alternativas ao consumo de drogas e à criminalidade.
A foto de praxe reunindo todos os chefes de governo e de Estado reunidos em Viena na cúpula foi interrompida pela argentina Evangelina Carrozo, que surgiu de biquíni e botas altas à frente dos políticos. Ela empunhava um cartaz, com as bandeiras da Argentina e do Uruguai, que dizia: 'Não às poluentes fábricas de celulose'.
A intenção do protesto, promovido pela organização Greenpeace, era chamar a atenção para o suposto perigo representado pelo projeto de instalação de duas fábricas de celulose na fronteira entre os dois países sul-americanos. Carrozo é a atual rainha do carnaval de Gualeguaychu, cidade argentina que luta contra as fábricas de celulose na vizinha uruguaia Fray Bentos.
Morales assume compromisso
O presidente da Bolívia, Evo Morales, entregou um documento por escrito ao ministro espanhol das Relações Exteriores, Miguel Angel Moratinos, no qual concede um prazo de seis meses para que "se assinem acordos com as empresas petrolíferas que sejam satisfatórios para ambos os lados".
A Bolívia garante aos conglomerados estrangeiros uma "segurança real e permanente", atestava uma declaração de Morales divulgada na cúpula nesta sexta-feira. O premiê britânico, Tony Blair, apelou durante a cúpula aos presidentes da Bolívia e da Venezuela para que "ajam com responsabilidade" em relação às reservas de gás e petróleo.
Declaração final e "associação estratégica"
No final do dia, foi aprovada a declaração final da cúpula de Viena, na qual os chefes de Estado e de governo reafirmam seu compromisso com a "associação estratégica" que liga as duas regiões.
O texto inclui as posições comuns das duas partes em temas como o multilateralismo, a reforma das Nações Unidas, o terrorismo, a democracia, a proliferação de armas nucleares e os direitos humanos.
Além disso, reflete a decisão da UE e da América Central de realizar negociações rumo a um acordo de associação, assim como o compromisso da UE e da Comunidade Andina de abrir, "durante 2006, um processo que conduza à negociação" deste tipo de convênio.