Robô Philae revelará detalhes sobre o sistema solar, diz astrônoma
12 de novembro de 2014Em 1969, no Instituto de Astrofísica de Almaty, no Cazaquistão, Svetlana Gerasimenko e o colega Klim Churyumov descobriram o cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko, sobre o qual o robô Philae pousou nesta quarta-feira (12/11).
A astrônoma fazia parte da equipe da Agência Espacial Europeia (ESA) quando a sonda espacial Rosetta foi enviada ao espaço há dez anos e foi convidada pela agência para acompanhar o pouso do robô Philae, que se desprendeu da sonda Rosetta, sobre o cometa.
DW: É verdade que o cometa 67P, batizado com o seu nome e o de Churyumov, foi descoberto por acaso?
Svetlana Gerasimenko: Quase isso. Naquela época, em 1969, eu era uma aspirante, uma jovem cientista no Instituto de Astronomia da Universidade de Kiev, e observava outro cometa através de um telescópio no Cazaquistão. Tirei uma foto e a revelação não havia ficado muito boa – estava pronta para jogar a imagem no lixo para que ninguém a visse. Mas acabei ficando com ela. E nela dava para ver o cometa! Em seguida, eu e Klim Churyumov, chefe de expedição, fizemos mais uma foto e as analisamos. Chegamos à conclusão de que o cometa 32P/Comas Solà, que a gente vinha observando, não estava no seu lugar. Havia um desvio de dois graus. E não podia ser verdade! Então, concluímos que a gente tinha descoberto um novo corpo celeste – um cometa.
Alguns jornalistas acreditam que a missão Rosetta e as informações que podem ser coletadas por ela podem causar uma revolução na ciência. A senhora concorda?
Não acho que será uma revolução. Mas tenho certeza de que o robô Philae nos trará muita informação nova. Será a primeira vez que se "sobe" num cometa e se coleta dados a partir de sua superfície. Pousar no núcleo de um cometa é algo incrível! Quando um cometa se aproxima do Sol, ele se torna ativo. Há a liberação de gases, poeira, entre outros. E por isso que não vemos o núcleo, mas apenas o que está em torno dele. Agora vamos descobrir o que está lá dentro. Esperamos conseguir informações sobre a estrutura da superfície do núcleo e sobre o que está abaixo dele. Os cometas, na verdade, são como blocos de construção que permaneceram mesmo após o surgimento do nosso sistema solar. Com os novos dados coletados, seremos capazes de tirar conclusões importantes sobre a origem do sistema solar e sua evolução.
Quem sabe até sobre a origem da vida?
Tudo é possível. Há substâncias orgânicas nos cometas. Mas, pessoalmente, sou meio cética quanto a isso. Há muitas hipóteses na ciência, muitas inacreditáveis.
Dezessete países participam da missão Rosetta, e ela custou mais de um bilhão de euros. Vale a pena investir tanto dinheiro em projetos assim?
Acredito que sim. A ciência pode custar muito, e não se deve economizar.