Rio vive clima de tensão antes da chegada do papa Francisco
19 de julho de 2013O Rio de Janeiro respira um clima de tensão a quatro dias da chegada do papa Francisco para a Jornada Mundial da Juventude, que começa na terça-feira (23/07). A escalada de violência nos últimos protestos – como o realizado em frente à casa do governador Sérgio Cabral – preocupa o governo estadual, que já admite não saber lidar com manifestantes que entram em confronto com a polícia.
O protesto realizado na quarta-feira próximo à casa de Cabral, no bairro do Leblon, terminou em confronto com a Polícia Militar quando um grupo de encapuzados depredou lojas e agências bancárias nas proximidades da residência do governador. A atuação da PM dividiu moradores e gerou dúvidas sobre a capacidade policial de garantir a segurança durante a visita do papa.
"A polícia não sabe usar suas equipes de inteligência para isolar os núcleos de violência e bagunça que aparecem em todas as manifestações de rua. Mas isso não é de hoje", diz Atila Roque, diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil. "Estamos apreensivos como vão se dar esses próximos encontros entre a polícia e manifestantes. Que eles atuem de forma preventiva e, quando ocorrer depredações, por exemplo, que eles atuem de forma focada nestes grupos que estão vandalizando."
O papa deve ter uma recepção até muito calorosa na segunda-feira, quando deverá ser recebido no Palácio Guanabara, sede do governo estadual, por um protesto organizado pelo grupo AnonymousBrasil. Até a tarde desta sexta-feira, mais de 5.800 pessoas já haviam confirmado presença na manifestação por meio do Facebook.
De acordo com informações postadas na rede social, o objetivo da manifestação é protestar contra os gastos públicos com a Jornada Mundial da Juventude, a permanência do governador Sérgio Cabral no cargo, a violência da polícia e em defesa de um Estado laico. "Não vamos parar até que os protestos se tornem insuportáveis e que a Fifa procure outro país para a Copa do Mundo", escreveu um participante no Facebook.
Controle rigoroso na missa final
Segundo o jornalista Luiz Paulo Horta, especialista em questões relacionadas ao Vaticano, há um clima de nervosismo porque o Brasil mudou e há incerteza em relação aos protestos no país. "É bem possível que os manifestantes queiram se aproveitar politicamente da Jornada da Juventude", disse Horta, que também é membro da comissão de cultura da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
A onda de protestos tem deixado as forças de segurança em constante alerta. Nos últimos dois meses, decidiu-se que o número de soldados do Exército, Marinha e Aeronáutica destacados para fazer a segurança da Jornada Mundial da Juventude passará dos 8.500 inicialmente previstos para 14.300. Além deles, estarão em ação milhares de policiais civis e militares.
Na missa final a ser realizada por Francisco no domingo (28/07), em Guaratiba, estarão em ação 20 mil homens, entre eles policiais, soldados e membros do corpo de bombeiros. Os presentes, estimados em mais de um milhão, serão proibidos pela PM de usar máscaras. As bolsas e mochilas serão controladas, e objetos perigosos serão confiscados.
"Estamos um pouco preocupados com a segurança", confessa a voluntária Thalia Martins da Costa, mineira de 22 anos que decidiu enfrentar protestos e peregrinos só para ver o papa. "Eu disse para a minha mãe: Que bom que estive em Madri e vi o antigo papa Bento 16. Agora preciso ver o papa Francisco."
Sem ajuda federal
Até há poucos dias, o governo brasileiro ainda estava absolutamente convencido de que os protestos não se voltariam contra o papa nem poderiam surtir efeitos negativos sobre a Jornada Mundial da Juventude.
Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, havia declarado anteriormente que os jovens de todo o mundo e o povo brasileiro iriam garantir a segurança do pontífice. Segundo Carvalho, Francisco poderia viajar "despreocupado" para o Rio.
Em entrevista coletiva realizada nesta sexta-feira, o governador do Rio, Sérgio Cabral, disse que dispensou o apoio do governo federal para lidar com a situação na cidade – oferta feita através de telefonema de Dilma na véspera.
"Eu disse que não precisaria [de ajuda federal]. As forças de segurança estão presentes [no combate à violência nas manifestações]”, disse Cabral a jornalistas. Mesmo com as manifestações marcadas durante a visita do papa, Cabral disse que não considera mudar o local do encontro com o pontífice