Rio e Igreja da Natividade entre os novos Patrimônios da Humanidade
2 de julho de 2012Reunido em São Petersburgo, na Rússia, o comitê do Patrimônio Mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) adicionou 26 novos locais à lista de Patrimônio Mundial da Humanidade. Entre eles estão a paisagem cultural do Rio de Janeiro, a Igreja da Natividade em Belém (Cisjordânia) e a Casa da Ópera Margravial de Bayreuth (Markgräfliche Opernhaus Bayreuth), na Alemanha.
Como última locação, o comitê do Patrimônio Mundial da Unesco inscreveu, nesta segunda-feira (02/07), o Parque Natural das Colunas do Rio Lena, conjunto de penedos verticais de até 100 metros de altura, localizado na Sibéria.
O comitê formado por 21 Estados-membros da ONU incluiu ainda na lista de Patrimônios Mundiais, entre outros, o monte Carmel, em Israel; a paisagem cultural de Bali, na Indonésia; a cidade de Rabat, no Marrocos; as ruínas de Xanadu, ao norte da Muralha da China; as fortificações da cidade de Elvas, em Portugal; e as minas de mercúrio de Almadén, na Espanha, e de Idrija, na Eslovênia.
Paisagem Cultural
A escolha do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural da Humanidade aconteceu neste domingo, durante a 36ª reunião do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, em São Petersburgo. A candidatura da cidade brasileira estava inscrita na categoria Paisagem Cultural e havia sido entregue à Unesco em setembro de 2009.
O dossiê da candidatura do Rio procurou destacar a geografia diversa da cidade, justificando sua importância e seu valor universal, principalmente, pela soma da beleza natural com a intervenção humana.
O discurso de apresentação da candidatura do Rio foi feito em português pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que estava acompanhada do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida. Ao defender a escolha, o Iphan lembrou que o Rio encontra na relação entre homem e natureza a âncora para a sua candidatura.
Com a inclusão na lista de Patrimônio Mundial da Humanidade, o Rio de Janeiro se tornou a primeira cidade do mundo a deter o título na categoria Paisagem Cultural. Entre os locais incluídos no dossiê apresentado à Unesco estão o morro do Corcovado com a estátua do Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a floresta da Tijuca, o aterro do Flamengo, o Jardim Botânico e a praia de Copacabana.
Segundo a Unesco, o Rio de Janeiro recebeu a distinção devido à forma única como a "esplendorosa paisagem" se integra à estrutura urbana. Além disso, o efeito inspirador do Rio de Janeiro sobre músicos e paisagistas justifica a escolha, afirmou a Unesco. Com o Rio de Janeiro, o Brasil passa a contar agora com 19 locais reconhecidos como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Casa da Ópera Margravial de Bayreuth
A Alemanha também conta agora com um novo Patrimônio da Humanidade: a Casa da Ópera de Bayreuth, no estado alemão da Baviera. A escolha do edifício foi feita por unanimidade pelo comitê da Unesco, neste domingo em São Petersburgo. Segundo a Unesco, o majestoso edifício barroco seria um dos mais importantes testemunhos arquitetônicos da sociedade absolutista do século 18.
O edifício foi construído na região da Francônia, norte da Baviera, entre 1746 e 1750, pelo casal de margraves (marquês e marquesa) Frederico e Guilhermina von Brandenburg-Kulmbach. Segundo autoridades bávaras, a casa de ópera é "um dos exemplos mais bem preservados da construção barroca".
A prefeita da cidade, Brigitte Merk-Erbe, que viajou com uma comitiva para São Petersburgo, saudou a escolha, afirmando que, "a partir de agora, além de Richard Wagner e seu festival, a cidade de Bayreuth será associada em todo o mundo também à casa de ópera".
Assim como aconteceu com outras localidades, a distinção da Unesco deverá atrair mais turistas à cidade bávara de 70 mil habitantes. A Alemanha conta agora com 37 Patrimônios Mundiais, sete deles na Baviera. Nos próximos quatro anos, o estado alemão pretende investir 19 milhões de euros na restauração da ópera em Bayreuth.
Igreja da Natividade em Belém
As elevações do Rio de Janeiro e da Ópera de Bayreuth a Patrimônio Mundial da Humanidade não foram, todavia, as decisões mais controversas do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco neste ano. Somente oito meses após a adesão da Palestina à Unesco – contra a resistência dos Estados Unidos, de Israel e da Alemanha – a inclusão da Igreja da Natividade de Belém na lista provocou diversas discussões políticas.
Através de um procedimento de urgência durante a sessão em São Petersburgo, a Unesco inscreveu a igreja construída sobre uma gruta, onde Jesus Cristo teria nascido, como primeiro Patrimônio Mundial da Humanidade em território palestino.
A cidade de Belém é o principal destino turístico dos Territórios Palestinos, tendo recebido 2 milhões de visitantes em 2011. A Basílica da Natividade data do tempo do imperador romano Constatino, no século 4°, e foi restaurada no século 6°, sendo uma das mais antigas igrejas do cristianismo.
Numa carta aberta ao Comitê da Unesco, as instituições de Belém argumentaram que a inscrição não era apenas um direito, mas uma necessidade: "Belém, o seu centro histórico e suas igrejas foram vítimas de ataques militares israelenses em 1967 [Guerra dos Seis Dias] e novamente em 2001 e 2002. A maior parte do que foi restaurado pela comunidade internacional [...] foi destruído pelas forças de ocupação".
Por ocasião da escolha da Igreja da Natividade, na sexta-feira, o governo israelense criticou a decisão como sendo de viés político. Em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que, "em vez de empreender passos rumos à paz, os palestinos tomam medidas unilaterais, que afastam a paz para ainda mais longe".
Além dos novos Patrimônios Mundiais, a Unesco também divulgou uma lista dos patrimônios ameaçados. Principalmente a cidade histórica de Timbuktu, no Mali, é motivo de grande preocupação: islamitas radicais, que rejeitam qualquer tipo de veneração de santos, profanaram diversos mausoléus pertencentes ao conjunto do Patrimônio Mundial. Nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, criticou duramente a destruição dos mausoléus do século 15 e 16.
Autores: Carlos Albuquerque / Hendrik Heise
Revisão: Alexandre Schossler