História da cultura
18 de dezembro de 2007"A Alemanha não possuía um poder político que enlevasse a fantasia, nem uma grande capital com mistérios labirínticos, nem colônias que excitassem o senso de distância e aventura pelo mundo afora. Tudo era disperso, apertado e pequeno. Uma visita de Hamann a Kant já podia ser considerada um encontro entre o Iluminismo e o Sturm und Drang (movimento "Tempestade e Ímpeto"); e em Jena, uma geração depois, os quartéis-generais do Romantismo e do Classicismo estavam lado a lado. Tudo de extraordinário que os navegantes e descobridores ingleses, os pioneiros da América, os matadores da Revolução Francesa haviam realizado – o público alemão só podia vivenciar isso imaginando-se na pele deles ou na forma sucedânea da literatura."
Talvez sejam justamente essas limitações que tenham tornado a Alemanha – um país ainda não unificado em nação e bastante provinciano no século 18 – o solo ideal para o Romantismo. Esta é a tese que defende Rüdiger Safranski em sua recente obra sobre o movimento romântico em sua especificidade alemã.
Romantik, eine deutsche Affäre (Romantismo – Um Caso Alemão) é o título do livro que mistura a profundidade necessária para traduzir a filosofia idealista alemã para um público não especializado e a leveza que permite ao leitor visualizar o cotidiano de uma elite jovem que revolucionou o pensamento contemporâneo dentro de apenas 30 anos, na passagem do século 18 para o 19.
O romantismo não morreu
Estudioso de E.T.A. Hoffmann, Schopenhauer, Heidegger, Nietzsche, Schiller, sobre os quais publicou abrangentes monografias, o ensaísta Rüdiger Safranski se expõe a um empreendimento arriscado, ao isolar o movimento romântico alemão do contexto europeu, sobretudo da Inglaterra e da França. Esse enfoque lhe custou críticas severas por parte de leitores especializados.
No entanto, a meta do autor nesta publicação não é apenas fazer um esboço histórico de uma época em que o contato entre escritores e pensadores era mais pessoal do que talvez jamais tenha voltado a ser. Sua idéia também é caracterizar o elemento romântico como uma constante na história alemã, para além do movimento que nasceu de um certo espírito iluminista, passou pela efervescência de Jena (com os irmãos Schlegel, Novalis, Fichte e Schelling, Tieck e Schleiermacher), exacerbando-se a partir de Hölderlin até E.T.A. Hoffmann.
Na segunda parte de seu livro, que sucede o grande esboço histórico, Safranski delineia a constante romântica em movimentos que partiram de uma crença na individualidade e de sua transcendência em visões sociais utópicas desde Marx até o movimento estudantil de 1968.
Se, por um lado, a transcendência romântica tende a se transformar em um esteticismo de alcance místico, como no caso de Stefan George, Hofmannsthal ou Rilke, por outro também pode adquirir nuances totalitárias, como em Wagner ou em Nietzsche. Ao se unir ao messianismo político, pode levar a catástrofes – como no caso do nazismo.
Deus e o mundo em 400 páginas
De maneira geral, o livro de Safranski foi bem aceito pela grande imprensa e criticado por leitores especializados. Quem queira colocar defeitos na obra não terá dificuldade em encontrar lacunas significativas. Um compêndio de 400 páginas dificilmente poderá dar conta de um assunto tão complexo.
Como co-apresentador do programa de TV Philosophisches Quartett (Quarteto Filosófico), junto com o filósofo Peter Sloterdijk, o autor conquista – no entanto – um público mais amplo que um pesquisador acadêmico. Só o mérito de resgatar para o leitor de hoje escritos de Friedrich Schlegel ou Friedrich Schleiermacher já compensaria a publicação do livro. Rüdiger Safranski também é membro da Academia Alemã de Língua e Literatura (Darmstadt) e do Pen-Club Alemanha.
Rüdiger Safranski: Romantik – Eine deutsche Affäre. Munique: Hanser, 2007; 432 pp.