Retorno de jihadistas é ameaça para a Alemanha
11 de agosto de 2014O rapaz no vídeo canta uma melodia cativante, com letra complicada. E cheia de ameaças: "Então venha se juntar às fileiras/ Do 'Estado Islâmico'/ Uma vida de obediência/ Cheia de honra e satisfação, e terror para os kafir..."
O termo árabe kafir é uma designação depreciativa e significa "infiéis". A mensagem do vídeo, divulgado online pelo grupo jihadista "Estado Islâmico" (EI), é inequívoca: quem não estiver disposto a professar o islamismo e se submeter às suas regras, será punido.
O portador das "boas novas" – como são anunciadas no vídeo – é Silvio K.. O alemão de 27 anos é o rosto alemão do EI, antes conhecido como EIIL (Estado Islâmico no Iraque e no Levante). Nascido na Saxônia, no leste do país, ele aderiu em Essen à associação salafista Millatu Ibrahim, declarada ilegal na Alemanha, antes de passar para a sucursal do grupo na cidade vizinha de Solingen.
No momento, acredita-se que ele se encontre na Síria, de onde fez seu chamado aos muçulmanos ocidentais para se juntarem à luta armada com o objetivo de formar um califado sob o controle do EI. Questionável é se Silvio K. realmente internalizou seus próprios versos: durante todo o vídeo, ele olha para baixo, como se estivesse lendo as palavras que recita.
Autoridades em alerta
Silvio K., contra quem corre um mandado de prisão internacional, é um velho conhecido dos investigadores. "Ele é a estrela da cena jihadista, e suas palavras encontram eco entre 5 mil ou até 10 mil salafistas na Alemanha", diz o especialista em terrorismo Guido Steinberg, do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), em Berlim. Considerado perigoso e imprevisível, o islamista saxão já ameaçou assassinar a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel.
Agora ele voltou a colocar em alerta as autoridades de segurança de Washington e Berlim: em sua mais recente ameaça terrorista, conclama abertamente a atentados na Alemanha. Segundo os jornais do grupo alemão de mídia Funke Mediengruppe, Silvio K. insta, numa carta, os "guerreiros de Alá" a lutarem contra os infiéis no país, para dar-lhes "um golpe que jamais esquecerão".
Como o salafista conta com um número elevado de adeptos, as autoridades de segurança estão levando essa ameaça a sério, especialmente por incluírem informações bastante específicas sobre os alvos planejados. Um deles é a base militar de Büchel, no estado da Renânia-Palatinado, onde estariam estacionadas cerca de 20 ogivas nucleares dos Estados Unidos.
De acordo com o Funke Mediengruppe, a segurança foi reforçada no local, assim como na base aérea de Ramstein. Além dessas instalações americanas, da lista de alvos dos extremistas constam, ainda, órgãos públicos e privados, igrejas, escritórios administrativos, agências do governo, vias e meios de transporte na Alemanha.
Ameaça em alta tecnologia
Desde o início da guerra civil síria, em 2011, as autoridades de segurança alemãs registraram a partida de cerca de 320 jihadistas alemães para a Síria, com um aumento drástico a partir de 2013. Silvio K. estava entre eles.
Segundo o jornalista Ahmet Senyurt, especialista em islamismo, esse afluxo de homens jovens pode ser atribuído ao desejo de fazerem parte de uma "vanguarda revolucionária". "O califado islâmico do EI é um contraponto social a nossa sociedade de orientação ocidental" e, portanto, de acordo com os radicais, algo a ser defendido.
"A ideologia dos militantes do 'Estado Islâmico' pode nos parecer medieval, mas eles usam estratégias avançadas de comunicação e de mídia", disse Senyurt à DW. Usando tais métodos, o "Estado Islâmico" consegue se conectar com aqueles que nunca estiveram realmente integrados à sociedade alemã.
Problema europeu
Especialistas em segurança têm alertado para o perigo de uma possível volta dos jihadistas à Alemanha, depois de terem sido radicalizados e treinados com técnicas militares. Senyurt não vê motivo para pânico, "mas todos os fatos justificam que se esteja atento e preparado".
Também são possíveis atentados suicidas, como o registrado em maio, em Bruxelas, quando quatro pessoas foram mortas a tiros por um jovem, complementa o jornalista. É quase certo que o suposto fundamentalista muçulmano tenha participado da "guerra santa" na Síria.
De acordo com Hans-Georg Maassen, presidente do Departamento Federal de Proteção à Constituição, o ataque na capital belga é um sinal concreto de que a volta dos combatentes da Síria tornou-se um problema europeu e um grande desafio para as agências de segurança do continente.
Maassen enfatiza que as autoridades não deveriam focar suas investigações apenas em elementos do sexo masculino. No início de agosto, as autoridades de inteligência da Baviera anunciaram a prisão de uma mulher recém-chegada da Síria. Lá, ela participara da luta radical islâmica contra o regime de Bashar al-Assad, tendo levado seus dois filhos para a zona de combate.